quarta-feira, 16 de julho de 2008

Especulação Imobiliária (III)



Os especuladores imobiliários por onde passam, corrompem governos, titanicam nações. Conseguem corromper um centímetro de terra e lá construírem um minimercado.
Se não acabarmos com os especuladores imobiliários, eles acabarão connosco.

E Job, cheio de contentamento pela miséria oferecida, ainda crê que é um dom divino do rei do seu sol, da sua terra, da sua miserável vida, e reza para que o seu comandante real tenha longa vida. Mas o seu estômago desperta e aqui vê a verdade das verdades.
- Sinto-me muito cansado e com fome. Nem sei onde dormir… vou apanhar um bocado de capim e fazer uma casota. Uns nascem e querem tudo só para eles. Nascem infectados com a doença do dinheiro. Bom, vou ver se consigo vender alguma coisa no maior mercado do continente da fome. Ou carregar sacos às costas, ou vender água fresca para viver. Arranjar uns papelões para dormir, tenho que safar-me. O rei disse que não me abandonaria, mas já estou farto dessa conversa. Os seus conselheiros dão-lhes maus conselhos e só aparecem onde há dinheiro à vista. Os príncipes estão muito ocupados com os seus negócios, vivem num mundo distante. O reino é deles, por isso vivem no seu reino. Além disso nada mais existe. Fazem por parecer cultos, mas estão ocultos… como se não existissem. Não gostam de ser perturbados, a não ser que lhes levem um bom negócio. Eles são a lei, e nela repousam. Ninguém tem coragem de os abordar, pois o seu poder é imenso. É um reino maior que o reino. Maior que muitos reinos. Aqui não há pequenos, só grandes. E quem tenta lá entrar jamais sai. É que não existe porta das traseiras. Porque têm um cemitério particular muito mal iluminado, para que não se possam ver as inscrições das lápides. As amarguras dos miseráveis nunca são escutadas, mas os latidos dos cães escutam-nos com muita atenção.

E Job lembrou-se que o mais cansativo, o que cansa na realidade mais pura é a fome.
- Cavar, cavar de dia e de noite à procura de diamantes, que depois de encontrados ficam ocultos. As minas são propriedade real, disso ninguém duvida. Dançam, pulam, pululam de contentes porque já não há espaço nos cofres para colocar as riquezas. Para viver neste reino é necessário matar, vigarizar e roubar. São estas as leis que funcionam. Quem não as cumprir não sobrevive. Só o oculto permanece, e não se pode desvendar. Tudo é permitido para obter o nosso pão. Os milhões de esfomeados em vão suspiram ao governo dos desgovernados. Nada temem e nada receiam, porque os seus exércitos não dormem, estão sempre à espreita. Ai dos prevaricadores! Apesar disso não dormem descansados. Vivem na perturbação constante de um levante, porque uma maldita rádio e jornais democráticos atiram tudo para fora, não deixam passar nada. Acusam-nos de democratas malvados, de maldita democracia que denuncia constantemente os corruptos. É por isso que ninguém gosta dos democratas e da democracia.

O Super-ministro do rei foi em auxílio do seu vassalo, e disse a Job:
- Não sei se aguentas o que te vou dizer, mas digo-te algumas verdades. Comeste e bebeste com muitos. Emprestastes o teu dinheiro e agora não te querem saber. Só mesmo um Job!.. edificaram empresas com o teu dinheiro… ajudaste muita gente!? Pareces o Job da Bíblia. Nunca vi nem conheci um idiota como tu. E alguns ainda aparecem e levam algumas bananas que por milagre se salvaram. Quem te mandou confiar no rei? Milhões confiaram nele, e vê como estão. A morrerem à fome!.. o rei disse que tens que esperar mais trinta anos para saíres da miséria… creio que o rei depois de morto ressuscitará e virá salvar-nos uma vez mais do imperialismo internacional. Morto ou vivo nunca desiste da luta anti-imperialista.

Gil Gonçalves
Inicialmente publicado em: Eugénio Almeida Malambas
Imagem Brasil: http://outrapolitica.wordpress.com/2008/07/16/mais-um-muro-da-vergonha-agora-na-vila-leopoldina/

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