quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Estádios sem Nação 05Fev09


Lentamente vamos reconstruindo o marxismo-leninismo.
Greve de dois mil trabalhadores na Teixeira Duarte em Luanda. E dizem os nativos desterrados, revivendo a odisseia argelina de Albert Camus:

«O carro que transporta o lixo, é o que nos dão para transporte. Os brancos têm refeitório, nós não. Os brancos têm autocarros que os transportam, nós vamos a pé. Os brancos ganham dez vezes mais que nós. Fazemos horas extraordinárias… e não nos pagam. Descontam-nos para a segurança social mas, lá chegados dizem-nos que não fomos descontados. Dão-nos subsidio de alimentação de… duzentos kwanzas. In Rádio Ecclesia

E também recomeça a sombrear, enervar, o envolvimento de portugueses no roubo de terrenos em Luanda. Temo o pior. Portugueses começam a ocupar lugares de seguranças nas ruas. Com os empregos a serem-lhes roubados, os nativos sentenciam a revolta. É que a caldeira deste navio ainda de politburo a vapor sobreaquece, descontrola-se e explode.

Camaradas e compatriotas!
Nesta data festiva, comemorativa, anunciamos mais uma vez a nossa efémera austeridade devidamente ultimada para morrerem à fome. Porque nós, os eleitos, estamo-nos cagando para essa merda que alguém se lembrou de chamar Povo.
Mais uma vez o glorioso desenvolvimento revolucionário do Zimbabué, ensina-nos como proceder. Miséria e fome nos esperam!.. como nunca jamais vistas.

Que nos interessam as faltas de energia e água, se a nossa vitória é sempre certeira (?). E a energia eléctrica em Luanda é tal e qual como no Iraque. Apesar dos biliões de dólares mal gastos, a energia eléctrica piorou… está inqualificável. E a água também. É o estilo de governação, uma cópia de segurança do sistema operativo do Zimbabué. É tudo… estamos, continuamos vazios de conteúdos, porque apenas subsiste o poder dos generais nesta outra África generalíssima.

Primeira medida de austeridade: reforço – melhor – subida dos preços dos combustíveis, dessa austeridade já há muito nas massas calendarizada, e agora reforçada. Significa que vamos outra vez para as câmaras de gás de Auschwitz.

Entretanto, em Luanda tornou-se impossível fazer amizade com quem quer que seja. É uma selva de animais ferozes, sempre com as garras preparadas para nos esfacelarem.

Mas temos sempre a liberdade da fome. Que é uma garantia vitalícia concedida pela governação, pelos eleitos democraticamente. Ninguém tem direito a nada, porque são sempre os mesmos que tem direito a tudo.
E ouve-se amiúde: «Oh! Esse é muito rico. Cuidado com esse senhor, porque trabalha na presidência.»

Instituíram-se com a democracia para, e sob a capa de instituições democráticas, roubarem, roubarem-nos dentro da legalidade. E o mais espantoso… o poder continua com eles, sob o olhar estupidificado de multidões de eleitores politicamente castrados… onde só a injustiça funciona.

E o grande segredo do êxito do plano de emergência de Angola, para combater a grande depressão, é a construção de estádios de futebol.

Entretanto o poder confunde-nos na democracia do marxismo-leninismo. Que somos livres, temos liberdade de consciência… só que aguardamos… ainda não nos libertaram, libertámos. Mas, quando nos libertamos (!).

Gil Gonçalves
Foto: Angola em fotos
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