segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Cavaleiro do Rei (III). Novela


Angola é muito grande mas, mesmo assim não chega para todos.

Reino Jingola, algures no Golfo da Guiné.

- Quem agitou, desambientou-se do ambiente?
- Ninguém, meu rei! Assustaram-se com o barulho das trombetas.
- Chama-me o trombeteiro real. Já o preveni que esse barulho é demais. Ele disse-me que desconfia do vírus das trombetas. No palácio não se sossega, quase não consigo repousar. Para audiências de embaixadas e embaixadores, ordenei construir um Petit Trianon. Esse louco trombeteia-me a cabeça.
- Que devo acrescentar meu rei?
- Acaba com a arruaça… caça os gatunos das carruagens reais. Quero o culpado. E até novas ordens estão suspensas as desordens das malditas trombetas. Substituam-nas por latas… por algo que não faça barulho.
- Meu rei, prosseguimos com o torneio?
- Sim, embora saibamos de antemão que somos sempre vencedores.
- Somos os melhores, meu rei!
- Ala-te, larga-te!

O cavaleiro Epok alista-se para a liça. É o cruel paladino, opressor das massas cinzentas, anti-manifestações, antídoto anti-tudo. Altaneiro, contempla a soberba nobreza, que suavemente o aplaude. A rainha anseia pelo seu estandarte pessoal. Uma princesa, filha dos reis acerca-se. Está de trombas. Senta-se bastante afastada dos pais. O cavaleiro Epok empertiga-se, sente-se dono da bola, cavaleiro de Carlos Magno. Impacienta-se, porque não vê nenhum adversário. Não descobre que faz figura de parvo, agenda sem consenso. Tem que mostrar que o seu partido é o melhor, sempre da maioria.
- Não há cavaleiro neste condado que me enfrente nesta justa?

Depois dos tumultos, coisa normal no reino, a multidão fez entrega do que roubou. Os mosqueteiros aproveitaram-se e roubaram-lhes tudo o que podiam carregar. Os paspalhões forçaram-se a regressar á plateia, antes que o rei se zangasse e exercesse mais represálias.

Não se ouviu viva-voz ao repto do cavaleiro Epok. Renascem-lhe insultos grandiosos.
- Alguns baladistas cantam que sois um povo heróico, generoso, corajoso e vitorioso…cambada de medrosos! Não tendes uma merda dum cavaleiro para defender a vossa honra e do condado nesta liça? Desafio o vosso conde. Conde… onde estais?
Nem a leve aragem estremeceu, ninguém correspondeu. O cavalo de Epok habituado a armar e criar confusão, agita-se, enerva-se. Levanta demasiado as patas dianteiras. Epok surpreendido quase se desmonta. A multidão de idiotas faz ricochete.
- Arre, cavalo! Arre, cavalo!

Capítulo II
O Cavaleiro La Padep


Como vindo do nevoeiro surge um cavaleiro com armadura vermelha e preta. O tecido do cavalo tem as mesmas cores. A multidão pára, suspende-se. O rosto esconde-se no interior de um elmo. O Rei comenta:
- Já vi estas cores… não sei donde.
A rainha atenta desperta-lhe a atenção:
- Meu senhor, estas cores são da nossa bandeira.
- Parece-me que já as havia mudado.
- Não meu senhor, continuam as mesmas... na mesma.
- Lembrai-me senhora minha, para as renovar. Estas cores são lúgubres. É por isso que o meu povo sempre se entristece, se revolta. São cores agressivas.

Foto: http://www.elmundo.es/elmundo/2009/02/06/cronicasdesdeafrica/1233923344.html
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