terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A origem da Grande Depressão de 2008 (XXIX). Novela


"Eu nem que tenha que ir semear couves e batatas, prefiro ir para Angola do que ficar por cá. Sempre vou para um país mais quente. Além de ir ganhar o triplo, claro!". Desejo de Ana Rodrigues, escriturária.
In Diário de Notícias


- Sim… aqueles em quem mais confiamos são os primeiros a atraiçoarem-nos.
- Correcto. É por isso que quando os meus dois filhos se formarem e para isso gasto o necessário, depois não quero mais saber deles para nada. Não vale a pena pedirem-me seja o que for. Entendeste?
- Sim, claro que sim.
- Olha, vim aqui buscar alguns documentos que necessito urgentemente para ver se dou mais uma golpada nesta merda. Sabes como é. Isto é tiro e queda. Estou com pressa. Ah! Depois o motorista vem-te apanhar como sempre, para nos encontrarmos na boate. Até já!

O motorista não apareceu. Liguei várias vezes para o Elder. Tinha o telemóvel desligado. Tentei então ligar para o Jacinto. Disse-me que o motorista estava distante, aflito com um furo no pneu. Não tinha pneu de socorro. Que não valia a pena contar com ele. Fui ver no pequeno frigorífico se havia alguma coisa para comer. Nada, estava vazio. Fiz um café. Depois de o tomar fumei um cigarro. Conectei-me à Internet e diverti-me um bom bocado a apreciar a nudez de belas mulheres. Cansado, desliguei o equipamento e fui-me deitar. Adormeci com o estômago e o espírito a reclamarem pela falta de comida. Isto assim não ia nada bem.

No outro dia de manhã Jacinto liga-me. São dez horas. Diz-me que o motorista já me vai apanhar. Ele chega uma hora depois. Pelo caminho o motorista diz-me que Jacinto necessita da minha presença na boate. Lá chegados é Jacinto que nos abre a porta. Depois, sentamo-nos e ele diz-me:
- Estou com dificuldades no inventário.
- Porquê? Isso é assim tão difícil?
- Não, não se trata de ser ou não difícil. O que me preocupa é que o Elder interrompe o meu trabalho. Manda-me ir comprar isto e aquilo. Assim não consigo fazer nada.
- E não há mais ninguém para fazer o trabalho?
- Há. Mas prefiro faze-lo à minha maneira. De qualquer modo ele disse-me há pouco que já passa por aqui. Deve estar aí a chegar.

Elder chega. Senta-se e pede a Jacinto para trazer dois cafés e duas aguardentes Aveleda. Chama o Jacinto para nos fazer companhia:
- Oh Hitler! Eu quero essa merda do inventário hoje sem falta.
- Se não me mandar a mais lado nenhum, consigo fazê-lo.
- Porra! Isto é tão pouca coisa. Não estás é interessado, não é?!
- É provável.
- Porra! Porra! Quero o inventário hoje sem falta, senão fodo-os todos.
- Vou ver o que posso fazer.
- Até ao fim do dia o contabilista tem que ter o inventário em seu poder.
Elder atende o telemóvel:
- Há problemas Heitor?
Acaba de escutar preocupações de Heitor, termina a dizer:
- Está bem, vou já para aí!

Depois da saída de Elder, Jacinto senta-se junto de mim. Conta-me uma curta história do tempo em que esteve na tropa. Falava do depósito de géneros, e da ginástica que fazia para surripiar alguma coisa que levava para sua casa. Aborda-me frontalmente:
- Não ligue ao inventário. Vamos dividir... ninguém saberá disso.
Senti um mal-estar no estômago. Fingi que não entendi. Jacinto convidava-me ao roubo puro e simples. Queria corromper-me. Agora já entendia porque é que ele não queria apresentar o inventário. Estava a roubar o seu patrão. Mas eu não alinharia nos seus propósitos.

Foto: Angola em fotos
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