quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Trevor Manuel. Ministro das finanças da África do Sul,"A instabilidade ameaça a África"


Trabalhadores da Angop-Agência Angola Press, sem salários. O director chamou-os e disse-lhes: vou-lhes dizer a verdade… estamos falidos.
Mistério: donde sai o dinheiro para um tal general Led, construir bué de prédios em Luanda? Onde mora a austeridade? É só para o poder popular, para o politburo não?


ENTREVISTA: TREVOR MANUEL "A instabilidade ameaça a África"
Ministro das Finanças da África do Sul

JOHN CARLIN – Johanesburgo – 15/02/2009


É o homem de finanças africano mais conhecido e respeitado no estrangeiro, o que detêm as contas da economia mais rica de África e o político mais poderoso do seu país. Trevor Manuel, ministro das Finanças da África do Sul desde 1996, deixa muito claro: o continente mais pobre da terra, em vias de desaparecer das agendas dos países ricos, é o mais vulnerável à crise económica mundial. Se as grandes potências não desenvolverem uma estratégia global para enfrentar a crise, se recorrerem ao isolamento e ao proteccionismo, África correrá o risco de cair no caos político.

"Veremos desemprego e xenofobia, e as remessas cairão de maneira drástica"

"Temos una pistola apontada à cabeça", disse Manuel, que recorda que durante a primeira metade de 2008, a extraordinária demanda mundial de matéria-prima africana, especialmente petróleo e minerais, alimentou expectativas de crescimento optimistas. "Não é questão de chorar, senão o de buscar soluções conjuntas, africanas e, antes de tudo, globais. Mas a realidade hoje é que o fantasma da instabilidade política apresenta-se como uma seria possibilidade".

Manuel, a figura dominante de um novo colectivo financeiro africano chamado o C-10, explica que os laços vitais que unem a economia africana com o resto do mundo se estão rompendo. "China necessitava criar empregos para 10 milhões de pessoas ao ano e, para lográ-lo, dependia da fabricação de produtos que os estado-unidenses compravam nos seus grandes armazéns. Quase todos nós temos os recursos minerais de que dependia a superprodução chinesa, e por isso nos últimos cinco anos temos vivido una época de bonança sem precedentes". Mas a demanda estado-unidense diminui, a produção chinesa cai e a África colapsa.

Manuel, ex-preso político e membro destacado do Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela, cita o exemplo da Zâmbia para demonstrar a volatilidade do investimento estrangeiro em África e a persistência do que ele chama "a antiga relação colonial". "Zâmbia é um grande produtor de cobre. Há 12 meses, 140 milhões de pessoas deslocavam-se pela China para celebrar o ano novo com as suas famílias. As pessoas moviam-se das grandes cidades para o campo. Mas houve muita neve e, ante uns terríveis problemas de abastecimento eléctrico, muitos trens deixaram de operar e muita gente não chegou ao seu destino.

Os chineses abasteceram-se urgentemente de enormes quantidades de cobre zambiano para expandir a sua rede eléctrica. Mas hoje têm armazenado mais do que necessitam. E as consequências para a Zâmbia, cuja economia depende da exportação deste metal, ameaçam ser muito graves". Todos os países africanos sofrem variantes da mesma síndroma. "A gente no mundo rico não compra casas nem carros novos, o que implica que todo o tipo de produtos cuja fabricação depende de, por exemplo, o cobalto ou o alumínio, já não tem mercados

África teve um par de seguros de vida nos últimos anos. As remessas dos que emigraram aos EE UU e à Europa, e a cooperação externa. Em ambos casos o panorama é desalentador. "Nos tempos dos escravos levavam-se os grandes e os fortes, e deixavam-se para trás os débeis e os enfermos. Hoje, os grandes e os fortes vão por sua própria vontade, vivem um inferno para atravessar o Mediterrâneo e chegar ao sul da Europa, encontrar trabalho e um lugar para dormir. Com sorte começam a enviar remessas para casa. Mas, agora que de repente os europeus se vêm obrigados a competir pelos mesmos postos de trabalho com os imigrantes africanos, veremos desemprego e xenofobia, e as remessas cairão de maneira drástica. O resultado é o empobrecimento dos débeis que ficaram em casa".

Enquanto à cooperação, Manuel assinala que os países do G-8 cumpriram só metade dos compromissos que firmaram numa reunião celebrada em 2002. "Sim, já se esqueceram parcialmente dos tempos de abundância, não deve surpreender-nos que o mundo rico demonstra pouco apetite para cumprir os seus compromissos hoje. Ninguém irá declarar que é hora de esquecer a ajuda aos países pobres, mas muitos chefes de Governo europeus esperarão que ante as urgências nacionais o tema cairá na amnésia.".

O dinheiro esquecido não só se destinaria a satisfazer necessidades humanas básicas, senão também a gerar riqueza. "A ideia era poder construir, por exemplo, rodovias que cheguem ao interior rural do Quénia. Se chega a rodovia, chega o fertilizante, chega o armazenamento a frio. A tua vida pode mudar, já que de repente podes vender espargos nos supermercados europeus. Mas sem a rodovia, sem o fertilizante e sem o armazém, estás morto."

Traduzido do espanhol. In EL PAÍS
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