quarta-feira, 5 de maio de 2010

É na banca que estão agora os maiores receios.


O plano de salvação à Grécia deu aos mercados a estabilidade de uma bússola no Pólo Norte. O vírus chega agora a Espanha, deixando, em Portugal, o medo depositado nos bancos. É ainda um sussurro, mas já se ouve rodados a travar. Há dinheiro?

Pedro Santos Guerreiro Bússola doida psg@negocios.pt

É na banca que estão agora os maiores receios. Os bancos endividaram-se muito para acudir aos Estados, que se haviam endividado muito para acudir aos bancos. A dívida é transitiva mas não é transitória.

Como dizíamos há dias, Portugal não é como a Grécia: a nossa dívida privada é maior que a pública - e está nos bancos. Ora, estes precisam de se refinanciar constantemente, o que antes não era problema. Agora, em face da instabilidade global e das descidas de "rating" portuguesas, os bancos estão a financiar-se a curtíssimo prazo, ao dia, nos mercados interbancários.

O indicador mais importante neste momento para a economia é, pois, o "spread" da dívida: a diferença entre o que os credores cobram para emprestar à Alemanha e o que pedem a Portugal. E isso é tão relevante para uma PME que quer um descoberto bancário como para um consórcio que quer construir um comboio de alta velocidade.

É hoje impossível perceber em que nível estabilizarão as taxas de juro de cada país. Se for aos níveis destes dias, Portugal pagará mais 200 a 250 pontos base (taxas de mais 2 a 2,5 pontos percentuais) que os germânicos. Isso aniquila a nossa esperança de competitividade (ficaremos com custos financeiros maiores que os dos nossos concorrentes) e anuncia recessões.

É por isso que até Ricardo Salgado, o mais entusiasta dos banqueiros de grandes projectos públicos, diz que é preciso esperar: "Há uma situação nova", diz, "não se conseguem planear juros para operações de médio e longo prazo, vamos ter que ter calma e esperar até que a situação se normalize".

O país que se divide, empolgado, entre fazer ou não grandes obras não está a ver o filme: neste momento, estão em causa as grandes obras e as pequenas também, linhas de alta velocidade e carrinhos de linhas.

Os bancos vão esticar o máximo de tempo que puderem o "stock" de capital que conseguiram captar no bom tempo. Isso significa travar a sério a concessão de crédito. Quem achou que os bancos estavam a ser selectivos na concessão de crédito às economia ainda não viu nada. Porque, até aqui, o crédito concedido só cresceu menos, mas cresceu.

Portugal enfrenta, pela primeira vez, o risco de desalavancagem, de redução do volume de crédito à economia. E isso tem um nome: é destruição de economia.

O País está a partir-se entre dois tipos de economistas: os que entendem que parar com o investimento público nas grandes obras é abdicar de crescer, e assumir a derrota; e os que assumem que derrotados já estamos e que não há dinheiro a preços viáveis para continuar a investir. O que PS e PSD estão a fazer é apenas a assumir as pontas desta corda esticada.
Quem arrisca petisca ou é petisco. Até os mercados estabilizarem, não há pão para malucos. E ontem bastou um sopro sobre Espanha para iniciar uma súbita histeria colectiva.

Quem, como ontem Zapatero, desmente um boato qualificando-o de "absoluta loucura", está a agir com o coração. E ao coração, Dinis Machado chamava "bússola doida". "Hay gobierno? Hay." Está é em pânico.
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