quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Ocidente do Paraíso (59). Também costumava acontecer quando ouvia um som parecido com o engatilhar de uma arma.


- Não... gosto de estar assim... gosto muito de meditar.
- Mas assim não pode ser. Uma pessoa tem que se divertir. Acho que você é muito triste. Mas apesar disso gosto de si… porque é muito sossegado.
Fiquei na defensiva e lembrei-me que o Avô me dissera que ela era divorciada. Sondei-a:
- É divorciada?
- O Avô já esteve a falar de mim, não é?! Sim… sou divorciada. Fui casada poucos meses. Ele passava a vida nas boates com mulheres e aparecia de manhã. Vi que era impossível e obriguei-o ao divórcio.
- Lamento muito…
- … Não me importo de casar novamente com alguém que me respeite, mesmo que seja pobre. Dinheiro não me falta. Sou filha única e os meus pais já estão velhos. Tenho um pretendente que mora aqui perto, mas não gosto nada dele. Bom… vamos jantar estou com fome!

Devido à intensidade do calor fui dormir no terraço. Estava num pesadelo, duas sombras aproximavam-se de mim. Levantei-me muito rápido, e já me lançava para o que pareciam serem dois inimigos, que me queriam matar. Eram a Marta e a tia que se assustaram muito com tal recepção. A síndroma do pânico tomava conta de mim. Também costumava acontecer quando ouvia um som parecido com o engatilhar de uma arma. Ou quando acordava de vez em quando em altos gritos, o que assustava as pessoas. Seria assim pelo resto da vida.

Estava no último lanche com o Avô. No outro dia seria o embarque que me levaria de regresso a casa. O Avô confidenciou-me que ouvira conversas da Marta, em que ela dizia gostar muito de mim. Para eu aproveitar, porque dificilmente arranjaria uma mulher assim. Segredei-lhe que ela e o Aurélio passavam muito tempo juntos. O Avô tranquilizou-me, que eram primos, e que esse relacionamento era apenas de amizade. Para eu evitar de pensar assim, porque não havia nada de mal.

Despedi-me de todos e intencionalmente guardei para o fim as despedidas à Marta. Pediu-me para escrever-lhe e confessou-me que também corresponderia.

Finalmente o avião chegou a Lisboa. O passaporte de disponibilidade foi-me dado no RAL1, Regimento de Artilharia Ligeira 1, a poucos quilómetros de casa. O meu pai aguardava-me. Não me despedi de ninguém. Cheguei a casa. Aproveitaria para descansar e consertar ideias. A odisseia da CCAV 3418, Companhia de Cavalaria 3418 em Angola terminara.

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