domingo, 9 de maio de 2010

Este é o fim Pepetela. Vivemos, ardemos neste Inferno


Ingenuamente lutámos, colocámos o poder numa bandeja disfarçada de punhais, de bárbaros escondidos. Que nos roubaram a independência e tudo nos espoliaram. Inauguraram-nos com a exemplar, a mais brutal selvajaria.

«Fazendo um rock triste, vamos, sim
Matar, matar, matar, matar, matar, matar»

Como acaba de noticiar o semanário AGORA… já encetámos o canibalismo?! E a seguir?! Vivemos no Inferno!
Temos que renovar, reparar o tremendo erro que cometemos. Estamos sempre prontos, dispostos, o tempo é nosso grande amigo, é-nos terno e eterno.


«O Fim
Este é o fim
Belo amigo
Este é o fim
Meu único amigo, o fim
Dos nossos elaborados planos, o fim
De tudo que permanece, o fim
Sem salvação ou surpresa, o fim
Eu nunca olharei em seus olhos... de novo
Você pode imaginar o que será?
Tão sem limites e livre
Precisando desesperadamente... de alguma... mão de estranho
Numa terra desesperada?

Perdido numa romana... selva de dor
E todas as crianças estão loucas
Todas as crianças estão loucas
Esperando a chuva de verão, sim
Tem perigo no extremo da cidade
Passeie pela estrada do rei, bem
Cenas estranhas dentro da mina de ouro
Passeie pela estrada do este, bem
Passeie pela serpente, passeie pela serpente
Para o lago, o antigo lago, bem
A serpente é longa, sete milhas
Passeie pela serpente… Ela é velha e sua pele é gelada
O oeste é o melhor
O oeste é o melhor
Vá lá, e nós faremos o resto
O ônibus azul está nos chamando
O ônibus azul está nos chamando
Motorista, aonde está nos levando?

O matador acordou antes do amanhecer, ele pôs suas botas
Ele tirou uma foto da antiga galeria
E andou pelo corredor
Entrou no quarto em que sua irmã vivia, e... então ele
Pagou a visita a seu irmão, e então ele
Ele andou pelo corredor, e
E ele veio até a porta... e ele olhou para dentro
"Pai?", "Sim filho?", "Eu quero te matar."
"Mãe... Eu quero... te foder."

Venha bem, tente conosco (3x)
E me encontre atrás do ônibus azul
Fazendo um foguete azul, No ônibus azul
Fazendo um rock triste, vamos, sim
Matar, matar, matar, matar, matar, matar

Este é o fim, belo amigo
Este é o fim, meu único amigo, o fim
Dói te libertar
Mas você nunca vai me seguir
O fim da gargalhada e das mentiras suaves
O fim das noites que tentávamos morrer
Este é o fim»

In The Doors. The End. Música do filme Apocalypse Now
http://letras.terra.com.br/the-doors/11513/traducao.html


«Pepetela: «Eu Vivo No Inferno!»


Lisboa - Angola mudou muito nos últimos anos e abraçou a ideologia capitalista e a economia de mercado. Um passo que acaba por chocar com a matriz de esquerda do partido no poder, o MPLA, ao lado do qual Pepetela combateu enquanto era um movimento de libertação de Angola e que representou enquanto governante.

Fonte: Hugo Rodrigues/Luís Ene CLUB-K.NET

Hoje, o escritor angolano não esconde o seu descontentamento pelo rumo que o seu país tomou.

Considerando existir, actualmente, «um ambiente favorável ao desenvolvimento económico de Angola», algo que se verifica «desde que houve a paz» e que leva a que comecem a surgir «infra-estruturas importantes» e até «mais algum emprego», Pepetela mostra-se preocupado com os desequilíbrios que existem na sociedade angolana.

«Não se sentem ainda as consequências sociais deste crescimento económico. Aparentemente, não está a haver desenvolvimento e sim enriquecimento de uma burguesia», que muitas vezes leva o dinheiro para além-fronteiras, disse. «Há uma diferenciação social que se tem agravado», resumiu.

Apesar de ser natural de Benguela, Pepetela fez de Luanda a sua cidade e escreveu, em tempos, sobre as belezas da capital angolana.

Mas as mudanças que a sua cidade sofreu devido aos fortes desequilíbrios sociais com que Angola se debate levam-no a ser assertivo na hora de descrever o que ela se tornou. «Eu não sou crente, mas partilho com eles uma noção: a do Inferno. Eu vivo no Inferno!», afirmou.

Luanda comporta, nos dias que correm, cerca de cinco milhões de habitantes, quando as infra-estruturas existentes foram concebidas para uma população de perto de 500 mil pessoas. «Há extensos bairros nos arredores sem água, luz ou esgotos».

Imagem: http://www.pauliddon.net/img/apocalypse%20now%20assault.png

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