Luanda - "Nós, os
estudantes do IMEL, através da sua direcção, fomos forçados a assistir a
actividade da JMPLA, hoje, em Luanda e um colega foi obrigado a dar uma
entrevista, JB, (25/04/12)".
Fonte: AGORA Club-k.net
Durante muito tempo o regime investiu, através da
instituição das “maratonas”, na alienação da juventude, para que esta se
afastasse do terreno da política. Outros segmentos mais exigentes foram
alienados através do dinheiro, das prebendas ou das promessas de emprego ou
carreira na administração do Estado. O grupo dos mais recatados foi imobilizado
pela instrumentalização da carência identitária e pela aparente compensação
através de um dito patriotismo, travestido por manifestações partidárias
camufladas. Todas estas formas de condicionamento da irreverência e da acção
protestaria da juventude foram cimentadas pelo apelo ao medo, manipulado no
interior das famílias, das escolas, das igrejas, das empresas, dos clubes
desportivos, dos movimentos culturais, da função pública e das relações
interpessoais, em geral.
Mas, apesar da aparente eficácia desta política, ao longo de vários anos, agora o ditador deu-se conta que a juventude despertou e não quer mais nada com o seu regime. A juventude está ávida de liberdade e de justiça social. E identifica o ditador com a repressão, a corrupção e a miséria que grassa pelo país a dentro. Uma sondagem, por ele próprio encomendada, realizada por uma empresa especializada brasileira, e mantida em sigilo, constatou que JES não chega a 50% dos votos e que, isto é a questão fulcral, o seu eleitorado é maioritariamente constituído por pessoas a partir dos 45 anos de idade. Ou seja, ele é minoritário (daí ter fugido das eleições presidenciais) e a juventude não o apoia.
Estas duas informações capitais fizeram-no mudar de estratégia política e abandonar as contra-manifestações antecipadas, as declarações bombásticas e terroristas dos seus cabos eleitorais mais extremados, a acção política através do partido de poder. Desesperado, tenta reverter o quadro, incidindo toda a acção política do partido-Estado na juventude, através de uma mão cheia de promessas. Casas, bolsas internas e externas, emprego, formação profissional, empreendedorismo, microcrédito e um dito “diálogo com a juventude”. Mas, neste caso, não é o partido do poder que comanda a acção política mas directamente a sua organização de massas, para a juventude, superiormente dirigida pelo próprio ditador.
Na sua retórica de recuperação da boa imagem, aos
olhos da juventude, reconhece que o país “precisa da força, dinamismo,
criatividade e disponibilidade da juventude” mas “o programa do executivo” para
a resolução dos problemas dos jovens foi suspenso. Não explicou quais foram as
razões de tal suspensão, com certeza o desprezo pela condição de pobreza das
populações, porque ele que fez a apologia pública do enriquecimento fácil e
venal, não é responsável pela pobreza existente. Mas, aflito, ansioso por
conquistar o voto dos jovens, promete (mais uma vez) que o programa vai ser
retraçado e vai ser avaliado pelo Ministério da Juventude e Desportos e pelo
Conselho Nacional da Juventude. No entanto, esta instituição pluripartidária,
representativa das organizações da juventude angolana, foi preterida para dar
lugar à acção monopartidária da Jmpla, no dito “diálogo com a juventude”.
Este dito “diálogo” começou por ser um monólogo, em que a organização de massas do partido no poder, falava consigo própria e era manipulada pelo ditador para gritar bem alto que “o cabeça de lista” é sempre o mesmo. Agora, numa tentativa de corrigir o erro e porque o tempo urge, os “diálogos” passaram a ser feitos naquilo que consideram as suas reservas de caça eleitoral: as organizações juvenis das igrejas, sobretudo aquelas que estão presas ao poder, pela força do envelope gordo e as instituições de ensino, com jovens em idade eleitoral, as universidades e os institutos médios. Sobretudo estes últimos, já que as universidades foram ganhas pelas ideias revolucionárias de mudança e reivindicação do fim do regime de ditadura. Nos institutos médios, com a conivência ou passividade das suas direcções, as aulas são suspensas, o anfiteatro é todo decorado com as cores e símbolos dos camisas vermelhas e todos os estudantes são forçados a participar dos ditos “diálogos”.
O Bloco Democrático já denunciou vários casos
destes, não com base em “espantalhos”, como diria o ditador, mas sustentado na
denúncia dos próprios estudantes que se sentem violentados nos seus direitos de
estudantes e de cidadãos, como é o exemplo em epígrafe.
Por outro lado, manipulando uma política ambígua
e ambivalente, do bastão e da cenoura, como outra face do “diálogo com a
juventude”, organizou milícias para reprimir com violência inusitada, as
manifestações dos jovens revolucionários para que elas não fossem, em
crescendo, ganhando a adesão de toda à camada juvenil e colocassem a nu a
verdade escondida que os números da sobredita sondagem revelam. E, entre
cabeças, braços, pernas, mãos e outros ossos partidos, procura, ao mesmo tempo,
com falinhas mansas sobre a tradição combativa da nossa juventude, delegitimar
a acção reivindicativa dos jovens, de hoje, que cansados dizem que “32 anos é
muito” e lhe pedem: “Ti Zé tira o pé”que “o teu tempo já expirou a bué”.
Fazem-no, tal como os jovens, de ontem, disseram não ao colonialismo e
reivindicaram a independência, dizendo basta a “500 anos de opressão e
exploração”. Há pois uma continuidade da luta dos jovens, de hoje, em relação a
luta dos jovens de ontem, pois eles apenas querem que a libertação social, que
era, a par da libertação nacional, uma das componentes da luta pela
independência, se concretize, através da liberdade, da modernidade e da justiça
social.
Os jovens revolucionários continuam pois a honrar a as tradições de resistência do povo angolano pela sua participação activa na luta contra a nova opressão e exploração.
* Cientista Social
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