sexta-feira, 20 de abril de 2012

Golpe de Estado na Guiné-Bissau. Actualização sobre a situação político-militar


Pesquisa e Análise. por Xavier de Figueiredo, in África Monitor intelligence
  
Lisboa (Canalmoz) - 1 . Está a ser notada na conduta dos militares que tomaram o poder na Guiné-Bissau um esforço destinado a tentar moderar a atitude crítica da CEDEAO face ao golpe de  Estado de  12.Abr. O sentido anti-Angola (também anti-CPLP) da retórica que enfaticamente empregam para justificar a sua acção, é visto como parte desse esforço.
A presença militar angolana, patrocinada há cerca de 1 ano pelo PM, Carlos Gomes Jr, foi sempre encarada com reservas na  CEDEAO, em particular por países influentes da organização, especialmente a Nigéria, que tem o estatuto de potência regional  e por essa razão não condescende com uma partilha na área de influências com Angola.
São conhecidas em meios que acompanham a situação na Guiné-Bissau informações (não verificadas) segundo as quais as expectativas dos militares relativamente a uma atitude menos severa da  CEDEAO é devida a discretos gestos de compreensão provindos de meios de países que constituem a organização, incluindo a Nigéria.

2 . O CEMG, General António Indjai, em passado recente adverso a cenários de presença militar da  CEDEAO no país, terá entretanto mudado de posição, conforme deixou transparecer numa reunião convocada há ca 3 semanas pelo PR interino,  Raimundo Pereira, com o fim de tentar encontrar uma solução para a crise político-eleitoral.
A visão menos contemporizadora com a presença da Missang que A. Indjai denotou na reunião (alargada aos candidatos às eleições presidenciais e a chefes religiosos), foi atribuída pelo próprio a “advertências” para riscos da presença angolana que lhe teriam sido feitas por generais nigerianos com os quais se encontrara em data próxima.
A reserva de A. Indjai em relação à CEDEAO e a uma participação preponderante de países da organização numa força internacional destinada a acompanhar a reforma das FA, era considerada reflexo de um sentimento muito presente na população de escassa simpatia por países como Senegal e República da Guiné.

3 . Numa reunião com uma delegação de alto nível da CEDEAO, a 16 de Abril corrente, os militares invocaram o argumento segundo o qual a sua acção foi ditada pela necessidade de prevenir um plano subreptício de desmantelamento das FA guineenses, no qual as autoridades depostas pelo golpe e Angola estariam mancomunadas.
Uma carta de Carlos Gomes Jr para o SG ONU, solicitando a criação de uma força internacional com a missão de acompanhar o processo de reforma das FA guineenses, é também apontada pelos militares como demonstração de “propósitos  obscuros” das autoridades que depuseram – mais uma vez envolvendo angolanos.
A instalação na Guiné-Bissau de uma força internacional destinada a acompanhar a reforma das FA ficou prevista na concepção do próprio processo. A iniciativa formal de solicitar a sua criação à ONU surgiu na esteira da decisão de Angola de pôr termo à sua missão militar, Missang, a qual passaria a integrar a força internacional.
A exploração negativa que os militares revoltosos fazem da carta baseia-se em pontos de vista como os seguintes: o assunto não fora apreciado pela Assembleia Nacional; o país está em paz, não fazendo sentido uma  força de interposição; tratava-se de uma cilada; o portador da carta foi, indevidamente, o MRE de Angola, George Chicote.

4 . Na véspera da chegada a Bissau da delegação da CEDEAO,  Kumba Yalá, falando em nome dos  5 candidatos chamados contestatários, referiu-se num tom considerado acrimonioso a uma tomada de posição da  CPLP, condenado o golpe de Estado e exigindo a reposição da ordem anterior.
De forma considerada velada está igualmente a ser feita pelos militares implicados no golpe de Estado e em meios civis a eles afectos uma exploração tendenciosa do deslocamento para  Cabo Verde de uma força militar portuguesa cuja missão alegadamente humanitária é apresentada como sendo “agressiva”.  (Xavier de Figueiredo, editor do África Monitor Intelligence, Lisboa 17 de Abril de 2012, com a devida vénia do Canalmoz / Canal de Moçambique)
Imagem. Análise: quem está por trás do golpe na Guiné Bissau?
dw.de


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