Pesquisa e Análise. por Xavier de Figueiredo, in África
Monitor intelligence
Lisboa
(Canalmoz) - 1 .
Está a ser notada na conduta dos militares que tomaram o poder na Guiné-Bissau
um esforço destinado a tentar moderar a atitude crítica da CEDEAO face ao golpe
de Estado de 12.Abr. O sentido anti-Angola (também anti-CPLP) da
retórica que enfaticamente empregam para justificar a sua acção, é visto como
parte desse esforço.
A
presença militar angolana, patrocinada há cerca de 1 ano pelo PM, Carlos Gomes
Jr, foi sempre encarada com reservas na CEDEAO, em particular por países
influentes da organização, especialmente a Nigéria, que tem o estatuto de
potência regional e por essa razão não condescende com uma partilha na
área de influências com Angola.
São
conhecidas em meios que acompanham a situação na Guiné-Bissau informações (não
verificadas) segundo as quais as expectativas dos militares relativamente a uma
atitude menos severa da CEDEAO é devida a discretos gestos de compreensão
provindos de meios de países que constituem a organização, incluindo a Nigéria.
2 .
O CEMG, General António Indjai, em passado recente adverso a cenários de
presença militar da CEDEAO no país, terá entretanto mudado de posição,
conforme deixou transparecer numa reunião convocada há ca 3 semanas pelo PR
interino, Raimundo Pereira, com o fim de tentar encontrar uma solução
para a crise político-eleitoral.
A
visão menos contemporizadora com a presença da Missang que A. Indjai denotou na
reunião (alargada aos candidatos às eleições presidenciais e a chefes
religiosos), foi atribuída pelo próprio a “advertências” para riscos da
presença angolana que lhe teriam sido feitas por generais nigerianos com os
quais se encontrara em data próxima.
A
reserva de A. Indjai em relação à CEDEAO e a uma participação preponderante de
países da organização numa força internacional destinada a acompanhar a reforma
das FA, era considerada reflexo de um sentimento muito presente na população de
escassa simpatia por países como Senegal e República da Guiné.
3 .
Numa reunião com uma delegação de alto nível da CEDEAO, a 16 de Abril corrente,
os militares invocaram o argumento segundo o qual a sua acção foi ditada pela
necessidade de prevenir um plano subreptício de desmantelamento das FA
guineenses, no qual as autoridades depostas pelo golpe e Angola estariam
mancomunadas.
Uma
carta de Carlos Gomes Jr para o SG ONU, solicitando a criação de uma força
internacional com a missão de acompanhar o processo de reforma das FA
guineenses, é também apontada pelos militares como demonstração de
“propósitos obscuros” das autoridades que depuseram – mais uma vez
envolvendo angolanos.
A
instalação na Guiné-Bissau de uma força internacional destinada a acompanhar a
reforma das FA ficou prevista na concepção do próprio processo. A iniciativa
formal de solicitar a sua criação à ONU surgiu na esteira da decisão de Angola
de pôr termo à sua missão militar, Missang, a qual passaria a integrar a força
internacional.
A
exploração negativa que os militares revoltosos fazem da carta baseia-se em
pontos de vista como os seguintes: o assunto não fora apreciado pela Assembleia
Nacional; o país está em paz, não fazendo sentido uma força de
interposição; tratava-se de uma cilada; o portador da carta foi, indevidamente,
o MRE de Angola, George Chicote.
4 .
Na véspera da chegada a Bissau da delegação da CEDEAO, Kumba Yalá,
falando em nome dos 5 candidatos chamados contestatários, referiu-se num
tom considerado acrimonioso a uma tomada de posição da CPLP, condenado o
golpe de Estado e exigindo a reposição da ordem anterior.
De
forma considerada velada está igualmente a ser feita pelos militares implicados
no golpe de Estado e em meios civis a eles afectos uma exploração tendenciosa
do deslocamento para Cabo Verde de uma força militar portuguesa cuja
missão alegadamente humanitária é apresentada como sendo “agressiva”. (Xavier de Figueiredo, editor do
África Monitor Intelligence, Lisboa 17 de Abril de 2012, com a devida vénia do
Canalmoz / Canal de Moçambique)
Imagem. Análise:
quem está por trás do golpe na Guiné Bissau?
dw.de
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