sábado, 24 de maio de 2008

Fumo


Um cientista Petrofaminto disse que a população era famosa pelo seu analfabetismo. Não tinham direito a instrução. Descobriu que só usavam dez por cento do cérebro.
Não sei distinguir se é a água que arrasta o lixo, ou este que a persegue.
Lixo, água e comida. Na transfusão diária à Nação, o boom da cólera expandiu trinta mil infectados e morticínio de quase mil.
A acção planejada das chuvas divulgará subitamente a epidemia.
Na terra ávida por cadáveres, a cólera diminuirá quando a população escassear.

Abriguei-me num contentor à desespera que a chuva desalentasse. Para obter tal permissão, comprei uma cerveja. Senti que a minha respiração se dificultava devido ao fumo que vulcanizava no interior. Apenas duas pequenas janelas nos extremos velavam o arejamento. Desloquei-me para a mais próxima, era o fumo do Vesúvio. Olhei para a jovem que fingia ser empregada. Tentei defender-me.
- Donde vêm tanto fumo?
- Dos geradores.
- Vamos morrer intoxicados. Presumo que há deleite nisto.
- É isso! Um é do general, o outro é da padaria. Já refilei, deram-me a importância do desprezo. Subi ao castelo dos deuses sanitários, fui ameaçada com a morte. São como Napoleão, é tudo deles, pensam que são invencíveis.
- Descolonizadores, novos mentores.
- É isso!Um quilombo da morte, uma grande quilombada.
Os olhos começaram-me a arder, a garganta a condescender. Fugi para debaixo de um toldo, que servia de habitação a duas famílias que ficaram sem casa. Foi destruída por um príncipe, para construir uma mansão. Podia abrigar-me da chuva, se fizesse despesa. Só havia cerveja. A chuva amainou. Daqui até ao próximo campo de concentração, terei que desandar cerca de vinte quilómetros.
Gil Gonçalves

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