quarta-feira, 14 de maio de 2008

O PRÉDIO DO PODER POPULAR (III)


Inicialmente publicado no Jornal O Observador

Quando há depressão económica à vista, o preço do petróleo enlouquece, e todos ficam na loucura colectiva, vê-se que outra guerra é certa.

Uma folha de papel A5 entra como vento sem tempestade por baixo da porta. Nela impressa continua a ilusão do devaneio trintenário da deputação do poder auto-adesivo.
Convocatória
São por este meio convocados os moradores do prédio para uma reunião com a comissão de moradores que será realizada amanhã (Sábado) às 9 horas no patamar entre o 3º e 4º andar. A reunião tem como objectivo analisar e resolver os problemas de energia no prédio.
A Comissão
Analisar e resolver os problemas do prédio… nenhum dos moradores entende de instalações eléctricas, e não foi presente nenhum técnico para prestar esclarecimentos

No fim da reunião, o novo-rico comissionado impõe o seu ponto de vista. Que a reparação da energia eléctrica custará 2.200 USD, cada vizinho pagará (parece que foi assim, porque é notório onde há dialogo confuso, há sempre cambalachada) 220 USD.
Os novos-ricos militantes insistem no regresso dos bons velhos tempos marxistas-leninistas, agora também tecendo, corrompendo a teia de Penélope.
Festejam os ganhos extraordinários do petróleo. Exportam-no, importam tudo, agulhas também. Como não interessa, dá muita chatice produzir internamente, importar é fácil, apesar que há a outra chatice da congestão dos portos, como será a seguir? Os preços das importações sobem e esconde-se maldosamente que virá a confrontação interna sem limites dos que morrem à fome por causa do petróleo. E o que se reconstruirá com preços tão elevados? Que interessa depender do petróleo, se não se produz nada internamente? O dinheiro obtido da alta petrolífera esgotar-se-á rapidamente. Até porque serão incentivadas, utilizadas energias alternativas e o petróleo cairá, adormecerá. E como todos querem endinheirar, no petróleo esbracejar, nadar e por causa dele afogar.

Para se libertar da má governação dos homens, o mar inventou as marés. Vazante e depois enchente, onde devolve o que resta da civilização… o lixo humano.
Libertar um Povo é construir-lhe universidades.
Quando um governante manda construir estádios de futebol e depois dá-lhes o pontapé de saída, marca mais um golo na miséria mental, milenar do seu Povo.
A História moderna esconde um facto notável: o consentimento, o apadrinhamento de Estados clonados da prossecução do cerrado nevoeiro medieval, com passaportes sem limites para a inconsciência.
Um país bem organizado tem: palácios, estádios de futebol, um canal de televisão, uma única rádio, um partido único, petróleo e diamantes, escolas de samba, esgotos ao ar livre, toda a gente a vender nas ruas, governantes que anunciam milhões de lucros mas desconhecem-se as despesas, muitas, muitas festas com muitos luxos, sem bibliotecas, sem livros, muitas ruínas, batuque de granadas dia e noite para ninguém dormir, muito lixo, muita população com muita, muita miséria, muita fome. Em suma: um país com um governo da Torre de Pisa.

E o novo-rico ressalta o seu estatuto, o mandato militante:
- Se nós fossemos unidos, podíamos ter um tapete nas escadas do prédio, do quinto andar até ao rés-do-chão.
Gil Gonçalves

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