quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Guerra da Fome Petrolífera (VII)


O Livro Apócrifo de Job (III)

Se milhões de seres humanos aplaudem os pés dos jogadores, isso significa que são bípedes.

A vossa vida é como o vento; vem e esvai-se. É a sepultura donde nunca conseguem sair. As casas dos ricos estão sempre cheias de guardas; as vossas estão bem guardadas pela fome. Nem cama tem para se consolarem; como lençol, alguns plásticos, um cobertor e um balde para água; dormem infelizes no chão. Mesmo assim o Petróleo não vos deixa, espanta-os com pesadelos e visões da fome. Para quê tanto sofrimento; se a morte é melhor. Viver um nadinha é confortável. Não há um único momento em que não me incomodem; sentem enorme prazer inexplicável. Só o Petróleo o sabe. Transgridem constantemente. Escolhem as madrugadas para nos perseguirem; vivem o terror nos restos das casas dos colonos.

O petrofaminto está farto e injustifica o Petróleo
Porque só o Petróleo é Todo-Poderoso? Os filhos do Petróleo estão sempre a transgredir; acusam os filhos dos petrofamintos, e dão-lhes porrada até se cansarem. E não adianta pedir misericórdia ao Todo-Poderoso Petróleo. A injustiça do Petróleo é permanente; é impossível viver.

Não temos princípio, pelo que, nunca teremos fim. Acreditámos no ontem, e lixámo-nos; hoje só restam sombras do naufrágio. Falam sempre que nos precisam ensinar; já renderam o coração. Está tudo tão seco; enfeitiçaram a verdura. Assim são as veredas de quem acredita no Petróleo; mas os hipócritas nunca perecem. Tiram-nos tudo; e não podemos perguntar, que fazem? O Petróleo revogará a sua ira; e protegerá os maldosos. Nem nos juízes podemos confiar; a quem pediremos misericórdia? Mesmo que nos respondam, nunca ouvirão a nossa voz, porque são surdos.

E enviam-nos tempestades à força do camartelo para as nossas casas. Nem nos permitem respirar; até o ar é deles. As forças militares protegem-nos; por enquanto ainda são os mais fortes. Não nos podemos justificar, porque seremos condenados. São perfeitos em tudo; devido a isso somos imperfeitos. Protegem os ímpios e consomem os rectos. As terras são para eles; os juízes cobrem os rostos; se não foram eles que roubaram, quem foi então? Andam sempre em grandes velocidades; porém tudo marcha para trás.

Os juízes deixam as nossas queixas esquecidas; estão constantemente a mudar de rosto. Estamos cheios de dores, porque sabemos que nunca declarados inocentes seremos. Porque não há ninguém que nos livre do Petróleo!? As mãos do Petróleo não descansam, consomem-nos rapidamente. Até das nossas peles fizeram candeeiros muito elegantes, bonitos. A vida de escravos envergonha-nos de levantar as cabeças. Se nos exaltamos chamam-nos selvagens; depois acalmam-nos com a promessa de que a nova vida vem aí. Porque esqueceram as nossas mães e os nossos pais? Os nossos dias minguam; deixem-nos tomar um pouco de alento. Queremos fugir para outro reino; só que está difícil, ou impossível lá entrar. Já não há luz nesta terra de morte; as trevas do Petróleo eternizam-se.

O petrofaminto mostra a sua sabedoria e pede ao Petróleo que se arrependa
Não dão resposta às nossas desgraças? Só o Petróleo tem direitos? Obrigam-nos a calar as vossas mentiras? Com a vossa zombaria sempre presente? A doutrina política do Petróleo é pura e limpa. A sabedoria do Petróleo, é mais profunda que o inferno.

O Petróleo defende-se dos petrofamintos
Eu sou o povo, e quando me for levarei a sabedoria. O meu coração não sente, o vosso é-me indiferente. Inventores de conspirações; diplomados, falsos doutores. A vossa sabedoria? É ficarem calados; São maldosos e invejosos; querem o nosso dinheiro. Querem acabar com a realeza e implantar a democracia. Apartem-se! Porque só eu tenho o direito de falar.

O Petróleo confia no rei
Defenderei tudo o que estiver errado; disto depende a minha salvação.
Eu sei que sou justo; por isso defendo as minhas causas. Alguém tem coragem para me desafiar? Tirem as vossas mãos, que daqui não levam nada. Porque passam o tempo a escrever coisas ruins contra mim? Apesar de estar tudo podre, alguma coisa se aproveita.
Gil Gonçalves
Inicialmente publicado no
Jornal O Observador

Sem comentários: