quarta-feira, 14 de maio de 2008

O PRÉDIO DO PODER POPULAR (IV)


Inicialmente publicado no Jornal O Observador

Andamos no ar, porque nem passeios temos para andarmos a pé.
As velhas e os velhos lamentam os terrenos perdidos, que eram suas lavras, que os generais impunemente receberam, roubaram, seguindo os bons exemplos dos colegas de Myanmar, e outros africanos. É como no úlimo filme de James Bond, ANGOLA, ORDEM PARA ROUBAR.


AVISO
A comissão de moradores do prédio, vem mais uma vez, chamar a atenção dos moradores para tomada de consciência dos graves problemas de energia eléctrica que o nosso edifício apresenta. Como é do conhecimento de todos, já recebemos vários avisos por parte da EDEL nos quais declinam quaisquer responsabilidades, sobre eventuais prejuízos humanos e materiais resultantes do mau estado da instalação e que futuras intervenções à quaisquer anomalias no edifício, ficarão condicionadas ao cumprimento estrito da sua recomendação.
O prazo para reparação está esgotado e na reunião marcada para analisarmos os problemas de energia do prédio notou-se uma fraca aderência dos moradores. Por isso, e se quisermos mudar este quadro, a comissão de moradores vem por este meio avisar os moradores que devem contribuir por apartamento com a seguinte quantia para a referida reparação:
200 USD, para pagamento da mão-de-obra
300 USD, para compra do material
A referida quantia deverá ser entregue no 3º andar Esq., e quaisquer duvidas serão esclarecidas e as opiniões serão bem vindas. O prazo para entrega da quantia, segundo acordado na reunião é dia 20 de Março. Findo este prazo a comissão de moradores declinará quaisquer responsabilidades sobre o assunto e passará a responsabilidade para os moradores que não fizerem o pagamento no prazo estipulado. A Comissão.

Há dois andares, podemos dizer três, que não necessitam de intervenção. Também, por oito metros de cabo eléctrico e dois fusíveis pagar-se 1.000.00 USD por andar, cada tem dois apartamentos… isto chama-se aventureirismo empresarial…não admira que enriqueçam rápido. E sabe-se de antemão que tudo ficará pior que antes. Nada melhora, sempre a piorar, todos mandam, não existe lei, a não ser a petrolífera, o resto que se lixe, que vá para as calendas petrolíferas.

As empresas estatais existem na prática para servirem a nomenclatura. Qualquer problema do cidadão resolve-se com contribuição comunitária o (vamos se associar) de boas reminiscências do poder popular. Quem não paga, ou não tem dinheiro, quem o tem são sempre os mesmos, fica assim até desabar, arder, desaparecer. Mas sem dúvida alguma que o cerne da questão é o analfabetismo, e continua-se teimosamente sem investimentos na educação. É tudo para petróleo ver.

Um grupo de cidadãos quer criar uma frente patriótica antipetrolífera e proclama-se: não contando com as anunciadas, mas ignoradas catástrofes da vingança da Natureza, sem água, sem energia eléctrica, muitos carros de luxo, muitos seguranças privados que guardam o medo dos novos-ricos, clínicas só para governantes dentro e fora do país. Quanto mais petróleo mais miséria. Estes são os legados da libertação, da revolução. O eclipse da corrupção no discurso vaivém. Os problemas do Povo resolvem-se com petróleo e diamantes. A energia eléctrica soluça, a água convulsa, tudo se entope devido ao excesso do petróleo e diamantes

As obras da nomenclatura são tantas, tantas que já não se consegue respirar. É um deserto de pó nacional. Um reino infestado de geradores eléctricos que quando ligados ultrapassam a poluição do gigante chinês e número impressionante de depósitos de combustível que a qualquer momento numa reacção em cadeia, fará com que os postulados da Física sejam revistos. E depósitos de água nos terraços, nas habitações, e subterrâneos. Nada é real, é tudo virtual.
Gil Gonçalves

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