sábado, 26 de julho de 2008

Universidade Lusíada em Luanda


Luanda é um campo de concentração. Os seus comandantes são os bancos e as empresas especuladoras imobiliárias de construção civil. O colonialismo despertou e reina, fortalece-se. A África negra é o pântano da felicidade dos garimpeiros internacionais. O nazismo está vivo, fortalecido, disfarçado de petróleo.
E estes exímios especuladores farão de cada prédio em Luanda, fábricas psicadélicas. Uma nova cidade, novos bantustões com chaminés de fumo arco-íris.
Gil Gonçalves

A grande realidade é que nenhum país dos chamados desenvolvidos jamais organizou um currículo universitário ou técnico em função de dificuldades específicas do desenvolvimento. A própria economia ensinada para países subdesenvolvidos, a chamada economia do desenvolvimento, constitui de uma escandalosa adaptação da ciência econômica dos países ricos – países onde se colocam problemas de conjuntura de economias estruturadas e maduras – a países onde o essencial é a formação das infra-estruturas e das estruturas produtivas.
In Guiné-Bissau, a busca da independência económica. Editora Brasiliense.
Ladislau Dowbor

Caro Director

É com grande estima que vos escrevo!
Sou estudante da Universidade Lusíada de Angola e quero por meio deste e-mail divulgar as péssimas condições de estudo a que os alunos dessa instituição estão sujeitos.

No passado mês de Maio, a direcção da Universidade reuniu-se com os estudantes de todos os cursos para ouvi-los, mas as reclamações eram tantas que ela resolveu silencia-los e dar por finda a reunião sem mais conversa.

Os estudantes chegam a pagar até 360 USD tornando a Lusíada na Universidade mais cara de Angola, sem contar com as multas que crescem avultadamente. E no fim do ano são surpreendidos com multas e propinas em atraso que não se sabe de onde saíram e também obrigados a repetir cadeiras porque as suas notas simplesmente “desapareceram”, por incrível que pareça!

Numa Universidade que deveria ser a melhor das privadas, na qual estudam maioritariamente filhos e filhas de figuras públicas no país, os estudantes são obrigados a dividir os computadores, por o seu número ser inferior ao de cada turma e também porque a maioria deles não funciona, dividindo-se nesse caso um computador por 4 a 5 estudantes.

As aulas de informática e de autocad têm sido um verdadeiro inferno não só pela rarefacção dos computadores, mas também pela falta de condições técnicas para que os professores possam explicar de modo que todos os alunos possam usufruir dos seus ensinamentos, sendo portanto uma turma de 30 alunos obrigada a visualizar a tal explicação no monitor do computador portátil do professor, o que como é óbvio, nem todos os alunos conseguem visualizar. O pior é que o professor aconselha aos alunos a levarem ás aulas os seus computadores, mas como sabem, nem todos têm a possibilidade de adquirir um portátil e ainda querem que tenhamos boas notas enquanto temos um ensino retardado e deficiente.

Também é visível a falta de turmas para albergar o grande número de estudantes e somos obrigados a passar dias e semanas a fio sem aulas, além de que o desaparecimento inexplicável de alguns professores sem reposição leva-nos a passar o dia sem aulas. É inconcebível para um estudante que vive a quilómetros de distância da Universidade e que para nela chegar tenha que enfrentar o engarrafamento, acordar muito cedo, apanhar o táxi e chegar à Universidade para passar o dia nos corredores, por não ter aulas, devido à falta de professores. Há ainda uma estória muito curiosa de uma professora que diz que não nos pode dar aulas à segunda-feira às 7 e 30 porque vive distante e tem preguiça de acordar cedo. Desde que arrancou o ano lectivo 2008/2009 no mês de Março, ainda só tivemos três aulas com a referida professora, sem contar que a ultima aula foi dada num sábado.

Existem cursos não reconhecidos que estão a ser leccionados na Universidade Lusíada, como é o caso do curso de Arquitectura, do qual ao fim do presente ano lectivo sairá a primeira leva de licenciados «SEM DIPLOMAS», o que fez com que 80% dos alunos do referido curso desistissem e rumassem para outras Universidades. A associação dos estudantes da referida Universidade não se faz sentir, ninguém sabe dela, nem onde localizá-la.

A Universidade já tem fama de «relaxada», «preferida dos riquinhos», «malhação» outros nomes feios, mas a sua direcção nada faz para que as pessoas tenham uma outra imagem dela e dos seus estudantes.

Houve ainda uma tentativa de greve mas que fora frustrada porque os chamados «filhos de papai» ou de «bossangas» não estão interessados em mudar a situação na Universidade, por gostarem da «boa vida» que a Universidade, na sua óptica, oferece. «Greve?! Abaixo-assinado?! Para quê?! Eu sou filho do fulano e gosto dessa vida. Não me interessa se há aulas ou não», teve a coragem de assim dizer um desses filhos de papai. Mas, existe um bom número de estudantes sacrificados, que valorizam o suado dinheiro dos pais ou parentes com que pagam as propinas e compram o material didáctico que estão dispostos a mudar a situação que se vive na Universidade Lusíada para que consigam terminar com êxito os seus cursos. É para isso que lá estão. E não para brincadeiras.

Para terminar, conto-vos uma cena bastante caricata que ocorreu no dia 13 de Junho no parque de estacionamento da Universidade, onde cinco viaturas iam a sair e no mesmo instante uma outra entrava. A entrada do parque não possui sequer dimensões suficientes para que entrem e saiam duas viaturas ao mesmo tempo. Imaginem cinco. Os seis carros permaneceram parados aproximadamente uma hora, porque o sexto individuo – professor do 2º ano do curso de Arquitectura – que por não ter mais carros atrás de si deveria recuar para possibilitar a passagem das outras cinco viaturas e posteriormente da sua, recusou-se a tal.

Desceu do seu carro no momento em que o SR. Rui Mingas entrava para a Universidade e deparou-se com tal situação. Ambos foram-se embora, deixando os outros motoristas, que eram alunos, a xixilar, até que o tal professor regressou e resolveu retirar o seu carro, pondo-se assim fim a um caso simples, mas por arrogância demorou mais de uma hora para ser solucionado.

No fundo, a Lusíada é uma Universidade de «pequeno porte», pois de «grande» só tem o «nome». Cumprimos com as nossas obrigações, pelo que o mínimo que a Universidade tem de fazer é oferecer aos seus alunos condições de ensino dignas de «ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS»!

De uma leitora identificada
In Semanário Angolense com o título A «Lusíadas» é como a «Malhação».
Edição 270 de 21 a 28 de Junho de 2008

3 comentários:

Anónimo disse...

Ola,não posso deixar de comentar pois sendo que ja estudei tanto na Lusíada do Porto como na Lusíada de Famalicao posso vos dizer que a falta de condições,o "deixa andar" junto com o funcionamento ao gosto dos meninos da mama é do que as Lusíadas vivem.Professores a passar alunos sem olhar para os seus trabalhos e a chumbar alunos porque numa planta de um edificio em vez de um X do elevador tinha uma legenda sao casos que qualquer aluno de arquitectura da Lusíada do Porto pode testemunhar.Depois ainda temos professores que sabem que têm a faca e o queijo na mão e que chumbam alunos simplesmente porque os querem chumbar em que a nota de todos os exames desse aluno,por muito que ele o repita e se esforçe,será sempre 9.A Lusíada segue ao ritmo de Portugal e ninguem faz nada contra isso.Sei que o tema não era as Lusíadas de Portugal mas espero não ter divagado muito.

Cumprimentos.

Unknown disse...

Peço desculpa por não entrar no debate em sí mas achei a oportunidade interessante pois julgo que aquí obterei a informação que desejo. Por mais que recorra à web o único mail que encontro para a Lusíada em Angola não funciona!
Será que alguém me poderá fornecer um mail válido?
Póde ser do Reitor; aliás seria desejável.
Muito obrigado

Anónimo disse...

Eu estudo na universidade lusiada do porto e é uma excelente universidade, das melhores, com excelentes condicoes modernas e que nos dao a oportunidade de vingar-mos um dia. A Universidade Lusíada é maravilhosa.