Luanda - Estive em casa do Abel, no mesmo dia da sua corajosa e fundadora declaração de um novo projecto político. Para além de vizinhos de bairro, na capital, e conterrâneos do Huambo, eu e “o mais novo” Abel cultivamos uma sólida amizade, desde quando se tornou possível, para muitos de nós, visualizar com clareza que as ideologias e os projectos políticos não têm nada a ver com a convivência humana. Infelizmente, para muitos ainda tarda alcançar este entendimento.
Fonte: marcolinomoco.com
Em casa do Abel (e não na CASA do Abel) fui saudar a notória vontade de trazer para Angola, um novo estilo de fazer política, ao mais alto nível e manifestei o meu voto de que não saiamos mais uma vez frustrados com o pessoalismo e imediatismos de muitos projectos como aquele em que o meu próprio MPLA foi transformado.
Estou a escrever este texto no dia em que vejo, em altas parangonas, no semanário “Continente”, a minha suposta adesão à CASA do Abel. Não.
Não aderi à CASA.
Continuam válidas as minhas ideias que podem ser lidas ali ao lado neste site/blog www.marcolinomoco, à minha mesa do café, no longo texto que brevemente será livro: “Angola: a terceira alternativa”.
Isto significa que continuarei aqui, a pronunciar-me livremente sobre os acontecimentos que julgar poderem afectar negativa ou positivamente o futuro de Angola, uma liberdade que nunca teria em qualquer projecto político, neste momento.
É uma situação privilegiada que penso ser importante para Angola, um Estado-Nação que nunca chegou a fazer vincar uma liderança liberta da febre de ideologias e ou corridas para o poder pessoal ou de grupo.
Alguns chamam a isso “estar em cima do muro”. Respeitemos as opiniões. Mas eu próprio, e cada vez com mais apoiantes, acho que é este papel que me cabe neste momento. Ali encontro um largo corredor desocupado, porque provavelmente desinteressante, mas muito importante, repito. Nele, podemos tentar (nem que seja só isso) empurrar os projectos políticos para visões mais a longo prazo e mais colectivos, em termos de termos amanhã uma agenda nacional que implante de forma sustentada, um regime pacificador, porque justo e solidário para com todos.
Todos hoje, melhor do que ontem, podem entender que não é possível jogar este papel dentro do próprio MPLA, completamente entregue ao seu Presidente, que da sua direcção nos afastou da forma mais cínica possível. Este mesmo que, depois disso, é hoje talvez o mais “poderoso” Presidente duma República democrática e de direito do mundo, que pode entregar canais televisivos públicos ou privados exclusivos a seus filhos sem ouvir um mugido de qualquer lado; ou, como agora acabo de ler, no mesmo número do “Continente” (e sei que ninguém da oposição vai levantar ondas com alguma consistência) manda nomear filhos e sobrinhos para fundos petrolíferos de um Estado em combate aberto contra o nepotismo, pela probidade administrativa e tolerâncias zero e em vésperas de eleições. O mesmo que permite que nos meios de comunicação por si controlados, tipos de milícias pró seu regime reivindiquem impunemente tortura física e pública contra manifestantes pacíficos, depois da chamada “primavera árabe”.
De outra maneira, a nossa atitude é também uma forma de dizer que para além da acção político-partidária, pura e dura, há outras formas de contribuir para o chamado “bem comum”.
Viva a CASA de Abel e seus companheiros do topo, felizmente grandes amigos meus. Mas a minha casa continuará a ser aqui “à mesa do café”!
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