Luanda
- Íntegra da carta aberta do acadêmico Fernando Macedo manifestando
solidariedade ao advogado e líder do Partido Popular, David Mendes respeitante
a onda de perseguição que tem sofrido no seguimento das denuncias das contas
bancarias do Presidente da Republica, José Eduardo dos Santos.
«Senhor Dr. David Mendes,
Tenho seguido a sua afirmação como advogado
nos últimos doze anos. Sei que o senhor não é perfeito, tal como eu e o resto dos
mortais não somos! Mas não consigo perceber, no quadro de um Estado que se
autoassume como democrático de direito, a perseguição e campanhas que são
movidas contra si por todos os meios possíveis e inimagináveis, incluindo os
usados nos órgãos de comunicação social do Estado. Confesso que não compreendo!
Para o actual regime o senhor Dr. David Mendes
cometeu um crime que não vem definido em nenhuma lei e na Constituição da
República. Esse crime, para o regime, na minha modesta maneira de perceber os factos,
é ter apresentado uma queixa-crime contra o engenheiro José Eduardo dos Santos,
que exerce o cargo de Presidente da República de Angola.
Senhor Dr. David Mendes,
Que Deus lhe dê paz de espírito e que o defenda e
proteja contra as ciladas dos seus adversários políticos!
Não tenho dúvidas em relação à perseguição que
contra a sua pessoa é movida. Esta prática tem sido usada pelo regime contra os
senhores Luaty Beirão, Casimiro e outros membros do Movimento Revolucionário.
Deixe-me dizer-lhe que esse partido não se inibiu
de assassinar Matias Miguéis, não se inibiu de assassinar Hoji ya Henda; não se
inibiu de assassinar Ricardo de Melo e tantos outros angolanos e angolanas.
Esse regime não se inibiu de ameaçar de morte Luiz Araújo. Esse regime não se
inibiu de dizer que Rafael Marques era um jornalista medíocre e de mover uma
companha permanente contra ele dizendo que está ao serviço do imperialismo.
Esse regime tem na Polícia Nacional esquadrões da morte: são oficiais dessa
corporação que o afirmam em público! Existem provas fotográficas que secundam
as denúncias de que a Polícia Nacional age em perfeita sintonia com agentes
criminosos, que anunciam publicamente por via da TPA que vão continuar a
praticar crimes semelhantes aos que já têm praticado, sob o olhar silencioso da
Procuradoria-Geral da República!
Senhor Dr. David Mendes,
Não tenho palavras nem poder para o consolar nem
defender. Não tenho palavras nem poder para consolar nem defender o Dr.
Filomeno Vieira Lopes nem os “Revús” e todos aqueles e aquelas que sofreram na
carne actos criminosos incentivados e apoiados por agentes do Estado no dia 10
de Março do ano em curso! Mas tenho a certeza de que os vossos adversários
escolheram a via do crime para vos combaterem. Seja o que for que vocês tenham
feito ou venham a fazer, que supostamente atente contra as leis da República,
deve ser resolvido nas barras dos tribunais e não pela justiça das mãos longas
dos que patrocinam milícias armadas e privatizaram o Estado, e pior,
instrumentalizaram a Polícia Nacional para os servir.
Senhor Dr. David Mendes,
Conte com as minhas preces junto do meu Deus, o
Deus de Abraão e Pai de Jesus Cristo, para que ajustiça Dele não tarde a
concretizar-se em Angola. Só me resta repetir os versos de um poeta, seu conterrâneo:
“Felizes os mortos que não se deixaram matar. Felizes esses a quem os tiranos
não compram a alma. Invencível a ideia de país desejável”!»
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