Rafael Marques
de Morais
O caso dos três jovens assassinados no
Golf II, a 3 de Junho de 2014, por indivíduos identificados como membros do
Grupo Operativo da 32ª Esquadra Policial do Kilamba Kiaxi está a ganhar novos
contornos.
O Maka Angola apurou que o Comando Provincial da Polícia Nacional (PN) está a desenvolver uma teoria, já transmitida ao Comando-Geral da PN, segundo a qual os jovens foram assassinados por indivíduos não identificados que circulavam numa motocicleta.
O Maka Angola apurou que o Comando Provincial da Polícia Nacional (PN) está a desenvolver uma teoria, já transmitida ao Comando-Geral da PN, segundo a qual os jovens foram assassinados por indivíduos não identificados que circulavam numa motocicleta.
Entretanto, a mãe de uma das vítimas -
Damião Zua Neto “Dani”, de 27 anos - já prestou declarações, a 7 de Junho, ao
chefe-adjunto da inspecção do Comando Provincial de Luanda sobre a ocorrência e
revela o seu conteúdo ao Maka Angola.
“Depois de matarem o meu filho, que foi o primeiro e a poucos passos de casa, eu saí à rua ao ouvir os gritos da minha filha. Eu reconheci o Sr. Vasco, da investigação criminal [Grupo Operativo da 32ª Esquadra]. Eu vi o Sr. Vasco a disparar contra o carro e a dizer para os outros recuarem”, conta Helena Joaquim Zua, de 44 anos. A testemunha refere-se às mortes de Manuel Samuel Tiago Contreiras, de 26 anos, e Gosmo Pascoal Muhongo Quicassa “Smith”, de 25 anos, que morreu cravejado com 14 tiros.
A mãe enlutada acrescenta que “o Sr. Vasco frequentava muito este bairro. É muito conhecido aqui na zona. Eu conheço-o bem”.
“Depois de matarem o meu filho, que foi o primeiro e a poucos passos de casa, eu saí à rua ao ouvir os gritos da minha filha. Eu reconheci o Sr. Vasco, da investigação criminal [Grupo Operativo da 32ª Esquadra]. Eu vi o Sr. Vasco a disparar contra o carro e a dizer para os outros recuarem”, conta Helena Joaquim Zua, de 44 anos. A testemunha refere-se às mortes de Manuel Samuel Tiago Contreiras, de 26 anos, e Gosmo Pascoal Muhongo Quicassa “Smith”, de 25 anos, que morreu cravejado com 14 tiros.
A mãe enlutada acrescenta que “o Sr. Vasco frequentava muito este bairro. É muito conhecido aqui na zona. Eu conheço-o bem”.
Helena Joaquim Zua confirma e completa
informações anteriormente divulgadas pelo Maka Angola: “Eles
vieram num [Toyota] Hiace azul e branco que primeiro estacionou mesmo junto ao
meu portão. Desceram seis camaradas, deram dois tiros no ar e depois é que
começaram a matar os rapazes. Depois de muitos gritos da vizinhança, eles
meteram-se no carro, aos tiros, e foram.”
A testemunha indica não ter visto em que
direcção a viatura seguiu, devido ao forte tiroteio para cobertura da retirada.
Joice Zua, que assistiu à execução
do irmão Dani, acompanhou a mãe à polícia e deu o seu testemunho sobre o
sucedido.
Entretanto, três dias antes, a 7 de
Junho, por volta das 6h00, os residentes em algumas ruas adjacentes ao local do
crime notaram a presença de agentes policiais na área. Segundo os seus relatos,
os agentes levavam a cabo uma missão inaudita.
Dadinho Simão Kissoka conta como foi
abordado por um patrulheiro da PN, na Rua 9, Travessa 7 do Bairro 28 de Agosto.
Vestido à paisana, o agente ordenou-lhe que o levasse à sua casa. “O
Filipe, meu amigo, estava comigo. Apontaram-nos as armas e obrigaram-nos a
mostrar as nossas casas”, recorda.
“Um dos agentes deu-me uma bofetada e
exigiu o meu telefone. Eles estavam a confiscar telefones e a apagar dados dos
outros porque ouviram dizer que algumas pessoas tinham tirado imagens do
Hiace”, explica.
Dadinho Simão Kissoka revela que o seu
telefone “só tinha imagens da minha namorada. Mesmo assim, levaram-no. O do Filipe
também. O Dinis, outro vizinho que foi encontrado na rua, quando passávamos,
também ficou sem o telefone”.
“Eu reconheci um agente da polícia,
da 36ª Esquadra, situada no Projecto Nova Vida”, explica Dadinho.
Kissoka.
Uma jovem, que prefere o anonimato,
conta como “uns senhores apareceram aqui como jornalistas a pedirem vídeos do
caso para denunciarem os assassinatos e apresentarem provas em tribunal”.
“Apontaram-me a arma, receberam-me o
telemóvel e apagaram toda a informação”, acrescenta a jovem.
Guerra ao Crime
Nas últimas semanas, o governo tem invocado uma suposta onda de crimes em Luanda, exigindo, entre outras medidas, a participação das Forças Armadas Angolanas para a combater.
Nas últimas semanas, o governo tem invocado uma suposta onda de crimes em Luanda, exigindo, entre outras medidas, a participação das Forças Armadas Angolanas para a combater.
Todavia, até ao momento, a Polícia
Nacional não tem prestado quaisquer informações públicas sobre os assassinatos.
Os casos de execução sumária de jovens, atribuídos à Polícia Nacional,
têm sido uma constante.
Em Abril passado, a jornalista Isabel João, do semanário Novo Jornal, publicou uma matéria sobre “Crimes Impunes” , na qual narra casos similares aos assassinatos do Golf II.
O texto mencionou três casos paradigmáticos. Primeiro, foram os assassinatos de dois actores, por agentes da Polícia Nacional, enquanto filmavam, no Sambizanga, por volta das 14h30 de 17 de Dezembro de 2007. Os agentes supostamente confundiram-nos com meliantes e atingiram-nos mortalmente sem terem antes perguntado o que se passava.
No segundo caso, a 24 de Julho de 2008, sete agentes da Polícia Nacional, que se faziam transportar numa viatura de marca Toyota Hiace, dispararam indiscriminadamente contra oito jovens que se encontravam a conviver no Largo da Frescura, no Bairro do Sambizanga, atingindo-os mortalmente. A 22 de Maio de 2010, o Tribunal Provincial de Luanda condenou cada um dos sete agentes policiais a 24 anos de prisão, por homicídio, enquanto o Ministério do Interior foi condenado, por responsabilidade cível, a pagar um milhão e 500 mil kwanzas a cada família.
Em Abril do ano passado, o Tribunal Supremo absolveu agentes da Polícia Nacional “por insuficiência de provas”.
No terceiro caso, agentes da Polícia Nacional detiveram os primos Hamilton Pedro Luís “Kadu”, de 21 anos e William Luís “Liro Boy”de 19 anos, no seu domicílio, assim como o vizinho Kléber Teodoro, de 25 anos, que havia estacionado junto à sua residência. A 11 de Maio de 2010, os três apareceram mortos, na morgue do Hospital Josina Machel. Segundo o semanário O País “(…)Liro foi o que mais tiros levou e algumas facadas no peito. Kadu e Kleber que não se conheciam foram mortos com dois tiros na cabeça e um nas costelas”.
Em Abril passado, a jornalista Isabel João, do semanário Novo Jornal, publicou uma matéria sobre “Crimes Impunes” , na qual narra casos similares aos assassinatos do Golf II.
O texto mencionou três casos paradigmáticos. Primeiro, foram os assassinatos de dois actores, por agentes da Polícia Nacional, enquanto filmavam, no Sambizanga, por volta das 14h30 de 17 de Dezembro de 2007. Os agentes supostamente confundiram-nos com meliantes e atingiram-nos mortalmente sem terem antes perguntado o que se passava.
No segundo caso, a 24 de Julho de 2008, sete agentes da Polícia Nacional, que se faziam transportar numa viatura de marca Toyota Hiace, dispararam indiscriminadamente contra oito jovens que se encontravam a conviver no Largo da Frescura, no Bairro do Sambizanga, atingindo-os mortalmente. A 22 de Maio de 2010, o Tribunal Provincial de Luanda condenou cada um dos sete agentes policiais a 24 anos de prisão, por homicídio, enquanto o Ministério do Interior foi condenado, por responsabilidade cível, a pagar um milhão e 500 mil kwanzas a cada família.
Em Abril do ano passado, o Tribunal Supremo absolveu agentes da Polícia Nacional “por insuficiência de provas”.
No terceiro caso, agentes da Polícia Nacional detiveram os primos Hamilton Pedro Luís “Kadu”, de 21 anos e William Luís “Liro Boy”de 19 anos, no seu domicílio, assim como o vizinho Kléber Teodoro, de 25 anos, que havia estacionado junto à sua residência. A 11 de Maio de 2010, os três apareceram mortos, na morgue do Hospital Josina Machel. Segundo o semanário O País “(…)Liro foi o que mais tiros levou e algumas facadas no peito. Kadu e Kleber que não se conheciam foram mortos com dois tiros na cabeça e um nas costelas”.
O segundo comandante-geral da Polícia
Nacional, comissário Paulo de Almeida, havia admitido publicamente o
protagonismo de forças policiais no assassinato dos três jovens detidos no
Benfica. Todavia, não houve julgamento dos autores do crime.
Regularmente, sobretudo quando há uma
acentuada crise económica e um vazio no discurso político, o combate ao crime
tem sido um elemento mobilizador de apoio popular a medidas de violência
institucional. O assassinato dos três jovens concorreu para que muitos
cidadãos se pronunciassem nas redes sociais a favor de matanças extrajudiciais
de supostos marginais pela polícia, como forma efectiva de combate ao crime.
Os Esquadrões da Morte
A 6 de Agosto de 2005, a propósito de invocação oficial de medidas governamentais violentas para combater o crime em Luanda, publiquei um texto no Semanário Angolense sobre a existência de esquadrões da morte ao serviço do governo. O texto referia também que os marginais ajudavam esses esquadrões da morte, indicando-lhes as residências de inocentes abastados, para que os matadores oficiais pudessem assaltar inocentes.
A 6 de Agosto de 2005, a propósito de invocação oficial de medidas governamentais violentas para combater o crime em Luanda, publiquei um texto no Semanário Angolense sobre a existência de esquadrões da morte ao serviço do governo. O texto referia também que os marginais ajudavam esses esquadrões da morte, indicando-lhes as residências de inocentes abastados, para que os matadores oficiais pudessem assaltar inocentes.
O texto sobre os esquadrões da morte
permanece actual e responde a algumas das questões levantadas por vários
leitores sobre as consequências dessa política. Pode ser lido aqui.
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