Rafael
Marques de Morais
Em Dezembro
próximo, o MPLA realizará o seu V Congresso Extraordinário. O presidente do
partido no poder, José Eduardo dos Santos, deixou claro que não haverá “renovação de mandatos dos
órgãos de direcção”.
Na II Sessão Extraordinária do Comité Central do MPLA, José Eduardo dos Santos garantiu que “essa renovação só acontecerá no Congresso Ordinário, previsto para o ano 2016, sob o signo da estabilidade, coesão e afirmação da liderança do MPLA na sociedade”.
Na II Sessão Extraordinária do Comité Central do MPLA, José Eduardo dos Santos garantiu que “essa renovação só acontecerá no Congresso Ordinário, previsto para o ano 2016, sob o signo da estabilidade, coesão e afirmação da liderança do MPLA na sociedade”.
Com estas
afirmações, dos Santos protela, mais uma vez, qualquer discussão sobre a sua
sucessão na presidência da República, cargo que ocupa há quase 35 anos.
Maka Angola tem
conhecimento dos planos do presidente para alterar a composição do Bureau
Político quando proceder à renovação de mandatos, de modo a garantir uma
maioria de apoio a Manuel Vicente, a sua escolha pessoal para a presidência.
A esta estratégia
não é alheia a nomeação recente do antigo secretário-geral do MPLA, general
João Lourenço, para o cargo de ministro da Defesa. No obscuro jogo da sucessão
presidencial, João Lourenço deverá ser promovido ao posto de vice-presidente de
Manuel Vicente. João Lourenço tem vindo a familiarizar-se com os dossiês de
defesa e segurança, de modo a garantir o apoio e controlo deste sector, assim
como dos contrariados do MPLA, ou seja, aqueles que Manuel Vicente não tem
poder de influenciar. Em resumo, o presidente impõe o seu sucessor e, como
concessão, entrega a vice-presidência ao MPLA.
Nos últimos anos,
o culto de personalidade à figura de José Eduardo dos Santos tem eclipsado
qualquer análise séria sobre quem é quem no MPLA e a influência que estas
figuras têm sobre a governação, sobre a sociedade e sobre o futuro do país.
Apesar de o presidente do MPLA ser também o presidente da República, vezes sem
conta, os poderes concentrados na presidência da República têm-se manifestado
paralelos aos do MPLA. O partido tornou-se assim num mero acessório político de
legitimidade para Dos Santos. O líder tem sido o principal obstáculo tanto para
a democratização interna do seu partido como para o país, para além da fachada
eleitoral.
Dos Santos tem assumido,
com inqualificável cinismo, a função de padrinho da corrupção em Angola. Por
essa via, tem sido também o principal agente da destruição dos valores morais e
cívicos que devem nortear uma sociedade, tais como a integridade e a dignidade
humanas.
Mas quem são os
dirigentes do MPLA, o partido no poder há 39 anos ininterruptos? O que fazem e
podem fazer pela sociedade, para além da manutenção do poder e dos seus
interesses privados? Como podem moralizar o próprio MPLA, para que este partido
reencontre a sua visão inicial de servir o povo e a nação?
Maka Angola inicia
uma série sobre os bons, os maus e os piores da política e da sociedade
angolana, ao nível do partido no poder, dos órgãos de soberania, da oposição,
da sociedade civil, entre outros sectores e categorias.
A discriminação
entre bons, maus e piores não procura atestar o carácter individual de cada
cidadão seleccionado, mas sim classificar o impacto das suas acções ao nível da
política, da sociedade e mesmo junto dos seus pares.
Por razões óbvias
e acima explicitadas, o MPLA é a primeira instituição a passar pelo crivo do
Maka Angola.
A corrupção
configura hoje a matriz política do MPLA. A promiscuidade entre o público e o
privado, a falta de ética, a corrupção e a incompetência transformaram-se hoje
nos pilares do poder. O encobrimento e a defesa mútua dos crimes praticados
passaram a ser os símbolos de camaradagem e solidariedade entre dirigentes e
militantes. A corrupção passou a ser o elo de ligação mais forte entre todos, o
modelo de ascensão e sucesso no seio do regime e da sociedade.
Contudo, os nossos
critérios de selecção são mais modestos, e baseiam-se na capacidade de
liderança, influência, defesa de interesses e sensibilidade para com o resto da
sociedade.
As listas
cingem-se a 10 elementos cada, e a escolha é da inteira responsabilidade do
autor. De todo o modo, o que se pretende é um debate sobre as figuras que pesam
na vida quotidiana política e civil.
Os Bons
1. Maria
Ângela Bragança – Membro do
Comité Central, secretária de Estado para a Cooperação
É uma referência
no MPLA, uma grande senhora, pela sua conduta discreta, positiva e, sobretudo,
digna. É uma patriota que, para além do essencial, nunca foi propensa a
discursos a favor do culto de personalidade. Tem sido muito penalizada pela sua
resistência aos caprichos pessoais do presidente do partido.
2. Carlos
Alberto Ferreira Pinto –
Secretário para a Organização e Mobilização do BP, deputado à Assembleia
Nacional
Mandatário do MPLA
para as eleições de 2008 e 2012, revela grande capacidade intelectual e uma
personalidade moderada no seio do Bureau Político. Sabe-se muito pouco sobre
ele. É a figura mais discreta da direcção do partido.
3.
Norberto dos Santos “Kwata Kanawa” –
Membro do BP, primeiro secretário provincial do MPLA e governador de Malanje
Em 2009, deu o
rosto à contestação interna, no seio do MPLA, contra as alterações ao seu
projecto pela turma presidencial, cujo resultado foi a Constituição atípica.
Sempre teve um espírito aberto. Em Malanje, é dialogante com todos os sectores,
incluindo a sociedade civil. Não é dotado de criatividade política, mas é bom
camarada e um digno cidadão.
4. António
Pitra da Costa Neto – Membro do
BP, ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social.
Preferiu renunciar
à vice-presidência do MPLA em 2007, assim renunciando a ser somente a sombra do
chefe. É ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social há 22
anos. É o único dirigente que se mantém no mesmo cargo ministerial há mais de
20 anos, por sinal, o que gera mais rendimentos logo a seguir às finanças.
Mantém-se afastado das manifestações de demagogia populista do seu partido e do
culto de personalidade ao chefe. Prefere cuidar dos seus amores, acima de tudo,
o que é bom para a sociedade. No entanto, enquanto governante, não revela
preocupação com os mais desfavorecidos, recusando a estipulação de um salário
mínimo que permita uma cesta básica mensal e a cobertura do custo de transporte
entre a casa e o trabalho. É ainda o promotor do anteprojecto de lei laboral
extremamente prejudicial aos interesses dos trabalhadores.
5. Rui
Falcão Pinto de Andrade – Membro
do BP, governador do Namibe
Quando ascendeu ao
Bureau Político e assumiu as funções de secretário do Departamento de
Informação e Propaganda, partilhou com os seus funcionários os US $700,000 que
recebeu como subsídio partidário de instalação. Apesar do seu radicalismo
ideológico, compreendeu a política de desarticulação do Estado através das
práticas de rapina da mais alta magistratura. Foi o único membro do BP a
pronunciar-se em termos mais duros contra a corrupção que governa o partido.
Fê-lo nas vestes de governador, cargo que assumiu contrafeito. Falou de coração
e de acordo com as suas acções práticas. Espera-se mais deste antigo chefe dos
escuteiros de Angola e co-fundador da defunta Associação Cívica de Angola
(ACA). É de registar a sua defesa do grave espancamento que elementos do regime
desferiram contra o opositor Filomeno Vieira Lopes, como um acto entre lúmpenes
aos quais supostamente FVL estava associado. Na realidade, quem dirigiu o
comando de operações de violência contra manifestantes e opositores que
culminaram na agressão a Filomeno Vieira Lopes foi o general Manuel Hélder
Vieira Dias “Kopelipa”.
6. João
Baptista Kussumua – Membro do
BP, ministro da Reinserção Social
Bastante polido, é
a mais eficiente antena de JES junto dos Ovimbundo, grupo etnolinguístico do
qual faz parte. À época de Nandó, como primeiro-ministro, e Aguinaldo Jaime,
como adjunto do primeiro-ministro, Dos Santos confiava-lhe a chefia interina do
governo. É competente a estabelecer pontes com outros sectores. Muito discreto,
chega ao ponto de se manter afastado da má fama do MPLA e do seu líder, de
cujas acções é um dos principais beneficiários. No entanto, pelo seu ministério
passam avultadas verbas destinadas ao sector social, mas que acabam por ser
usadas noutras operações do regime.
7.Virgílio
Fontes Pereira – Membro do BP,
chefe da bancada parlamentar do MPLA
Um dos elementos
mais bem formados da cúpula do MPLA. É demasiado ambicioso e muito organizado.
Internamente, é acusado de arrogância por fazer valer-se dos seus
conhecimentos. Defende muitas ideias próprias, contrariamente às beatas
políticas que simplesmente se dedicam ao culto de personalidade do chefe. Tem
capacidade e articulação política para dar o seu melhor num quadro de
transição. Depois da sua grande golpada no Ministério da Administração do
Território, JES distanciou-se dele. Uma vez que a corrupção e o saque são
encorajados pelo próprio chefe, JES reabilitou-o e VFP regressou à ribalta
política como chefe da bancada parlamentar. O seu pecado terá sido o de ter
comido sozinho, sem partilhar com a família presidencial ou com o séquito
restrito do líder.
8.
Marcolino Moco – Militante do
MPLA
É o mais conhecido
dos militantes de base do MPLA, depois de ter sido membro do Bureau Político,
secretário-geral desse partido, deputado e primeiro-ministro. Tem demonstrado
de que forma um militante do MPLA pode colocar os interesses da sociedade acima
dos do seu partido. Marcolino Maco cansou-se do pretenso papel de “bailundo”
submisso que terceiros lhe atribuíam. Afirmou-se como o mais corajoso dos
políticos. Em 1996, Dos Santos patrocinou a criação do Movimento Nacional
Espontâneo, cuja primeira actividade foi celebrar a demissão de Moco do cargo
de primeiro-ministro: “carreatas” (passeatas de carro) e megafones
insultaram-no publicamente como “bailundo”. Em 2002, alguns deputados do MPLA,
seus colegas, visitaram-no de surpresa apenas para o “informarem” de que o
chefe dos “bailundos”, e portanto do próprio Marcolino, tinha sido morto em
combate. Moco é de uma humildade e integridade invulgares: preferiu fazer a
travessia no deserto, o que o tem levado ao empobrecimento gradual. Abomina
manter-se calado e ver o país saqueado pelos detentores do poder e seus
cúmplices nacionais e estrangeiros, enquanto espezinham os direitos humanos e
empobrecem cada vez mais a alma angolana. Moco pode vir a dar o passo que dele
mais se espera: abandonar a militância partidária. A sociedade civil precisa
dele.
9.Manuel
Domingos Vicente – Membro do BP,
vice-presidente da República
Actualmente, não
há figura mais afortunada no MPLA do que Manuel Vicente. Sem ter feito carreira
política ou partidária, tornou-se o herdeiro putativo da presidência da
República. Tem como mérito uma ligação familiar ao presidente e o facto de ter
servido de tesoureiro zeloso da família presidencial durante muitos anos,
enquanto gestor da Sonangol. De certo modo, a sua acção partidária é positiva,
porquanto demonstra quão desnecessário é o culto de personalidade a José
Eduardo dos Santos de modo a merecer a sua confiança. A sua discrição
partidária ridiculariza o servilismo de Roberto de Almeida, Dino Matross,
Nandó, entre outros. Enquanto vice-presidente, Manuel Vicente não adula o
presidente em público, o que garante dignidade ao cargo que ocupa. O congresso
extraordinário do MPLA, a realizar em Dezembro, servirá para reforçar o seu
poder enquanto candidato à sucessão presidencial e garantir uma composição
favorável no BP, o órgão de decisão do MPLA, por forma a alcançar o apoio
incondicional do partido. Todavia, sem José Eduardo dos Santos, Manuel Vicente
não tem influência política. É pouco provável que se mantenha no topo da
política angolana após a partida do chefe.
10. Higino
Carneiro – Membro do BP,
governador do Kuando-Kubango
É o mais coerente
dos dirigentes do MPLA. Professa abertamente o culto à ideologia do dinheiro,
que comanda a mentalidade dos dirigentes do MPLA. Não encobre os seus actos com
discursos inflamados de legitimidade política, patriotismo, autoritarismo e
outros ismos falaciosos. Como partidário, destaca-se pelas suas qualidades
humanas. Não é adepto das práticas de intolerância política e repressão que
enformam os instintos de sobrevivência política dos líderes do seu partido.
Também consta que é dos que mais contribui para os cofres do partido com
proventos originários, obviamente, dos cofres do Estado. O general Higino
Carneiro é outro exemplo de como a lealdade para com o chefe, de quem é um dos
mais fiéis operacionais, como “homem do saco”, dispensa o culto de
personalidade. Este fenómeno já se tornou numa endemia no seio do MPLA e da
comunicação social do Estado, capitaneada pelo extremista José Ribeiro. Com
alguma regularidade, serve de bombeiro do MPLA. Sossega figuras da oposição com
a sua célebre “generosidade” e propensão para distribuir parte do que vai
ganhando sem humilhar os beneficiários. No entanto, é demasiado influenciável
ao “diz-que-disse”. Continua como general no activo enquanto exerce política
partidária, o que constitui uma flagrante violação constitucional relativamente
ao apartidarismo das Forças Armadas Angolanas (FAA). Já tem dinheiro e estatuto
para contribuir efectivamente para a despartidarização das FAA, requerendo a
sua reforma do exército. Brada aos céus essa duplicidade de funções,
incompatíveis do ponto de vista constitucional.
Os Maus
1. Bornito
de Sousa – Membro do BP,
ministro da Administração do Território
Nos últimos
tempos, tem-se destacado como o principal comunicador do regime através do
Facebook, engajando-se, de forma interessante, em debates até com críticos,
particularmente jovens. É culto e de boas relações. Tem ambições presidenciais.
Politicamente, é uma decepção. Enquanto chefe da bancada parlamentar, teve em
suas mãos o poder de prevenir a Constituição atípica imposta pelo círculo
presidencial. O anteprojecto do MPLA propunha a eleição directa do presidente
por sufrágio universal. Sousa fez o jogo da avestruz e preferiu a rota mais
fácil: colocou-se à disposição do círculo presidencial e abandonou os camaradas
que divergiam. A posição de Bornito de Sousa sobre a Constituição reforçou a
ideia interna da sua falta de solidariedade para com os próprios camaradas na
hora do aperto.
2. João
Lourenço – Membro do BP e
vice-presidente da Assembleia Nacional
Finalmente, as
suas preces foram ouvidas: depois de 11 anos “arquivado” nas prateleiras da
Assembleia Nacional, Lourenço volta a ter grande protagonismo político, ao ser
chamado pelo chefe para assumir o cargo de ministro da Defesa. É novamente um
peão do líder. Como ministro da Defesa, deve familiarizar-se com os dossiês de
defesa e segurança, de modo a preparar-se como o segundo homem na lista de
candidatos do MPLA às próximas eleições, em 2017. Segundo o modelo atípico
angolano, o primeiro e o segundo nomes da lista do partido vencedor das
legislativas assumem automaticamente as funções de presidente e vice-presidente
da República, sem serem eleitos directamente pelos eleitores ou pelo
parlamento. Após as monumentais asneiras cometidas pelo anterior ministro da
Defesa, Cândido Van-Dúnem, do círculo familiar da sua mão direita, o general
Kopelipa, Dos Santos vê-se obrigado a entregar esse sector ao MPLA. Há um
grande ascendente, capacidade de organização e de trabalho dos generais
oriundos da UNITA que servem plenamente o presidente, mas que podem
manifestar-se contra a partidarização das FAA pelo MPLA, no período pós-Dos
Santos. Há vários generais nas estruturas de direcção do MPLA que continuam no
activo, incluindo João Lourenço, em flagrante violação da Constituição e demais
legislação sobre o carácter apartidário das FAA. Em 2003, Dos Santos anunciara
a sua retirada da presidência. O então secretário-geral do MPLA, João Lourenço,
encabeçou um segmento do partido que se propunha a insistir publicamente na
retirada voluntária do presidente. João Lourenço, homem de algumas convicções,
teve a coragem de reiterar aos órgãos de comunicação social que o presidente do
seu partido era um homem de palavra e de honra, e que o anúncio da sua decisão
era para ser cumprido. Como consequência, para além de outros conflitos de
natureza íntima, Dos Santos afastou-o do cargo de secretário-geral. Com esta
queda, experimentou do seu próprio veneno, usado com grande empenho no célebre
“congresso da batota”. Durante o IV Congresso do MPLA, em 1998, serviu JES na
sua estratégia de afastamento das estruturas do MPLA, de três
ex-primeiro-ministros e incómodos políticos: Lopo do Nascimento, Marcolino Moço
e França Van-Dúnem. Lopo do Nascimento passou de secretário-geral do MPLA a
militante de base nesse congresso. Para seu crédito, João Lourenço é, a seguir
a Bornito de Sousa, dos membros do BP que se opuseram abertamente, no conclave
partidário, à indicação de Manuel Vicente para vice-presidente, feita pelo
próprio Dos Santos. Este seu acto demonstra que sucumbiu à estratégia de
continuidade do Eduardismo. Todavia, JL pode ter aprendido a maior lição que
Dos Santos lhe deu: não honrar a sua palavra.
3. Julião
Mateus Paulo “Dino Matross” –
Secretário-geral, deputado à Assembleia Nacional
É das figuras mais
afáveis do regime. No entanto, epitomiza a velha guarda arreigada à mentalidade
e ao comportamento securitários. Dá a impressão de que não viveria sem o
presidente do partido, tal é a sua dedicação ao culto de personalidade.
Pretende ser o patriarca da família Dias dos Santos e rivalizar com os
Van-Dúnem. Para além desse projecto, não tem ideias próprias sobre o rumo do
partido. Para Matross, o país resume-se ao partido.
4.Carlos
Feijó – Membro BP
Quando o chefe lhe
dá luz verde, é o cérebro do regime. Infelizmente, nunca soube explorar de
forma positiva a relação especial que cultiva com o Presidente. Desperdiçou a
melhor oportunidade de fazer história quando teve nas suas mãos a
responsabilidade de modernizar a constituição de Angola. Trabalhou de forma
incansável para a “perpetuação” do JES no poder. Ficará conhecido como o pai da
Constituição atípica, com os poderes absolutos legais que JES sempre almejou
desde 1979. É o alfaiate dos legalismos do presidente para manter e consolidar
o seu poder com aparente legitimidade jurídico-constitucional. Deu o seu melhor
para conferir alguma respeitabilidade e comunicabilidade ao regime, com
tentativas de reforma da administração do Estado e conferências de imprensa
regulares. No entanto, mais uma vez subestimou a mestria do seu próprio chefe
no jogo de intrigas palacianas. Mas também se lhe deve reconhecer que deu o seu
melhor com a Lei da Probidade. Mais do que isso, empreendeu esforços na
organização da administração do Estado. A sua autonomia intelectual, mais uma
vez, e a capacidade de ofuscar os seus pares custaram-lhe o lugar de ministro
de Estado e chefe da Casa Civil, que faziam dele o “vice-presidente” executivo.
A sua influência acabou neutralizada. É o homem das grandes estratégias
não-violentas e repressivas do regime. É a antítese de Kopelipa, Jú Martins e
outros. Apreciador nato das intrigas palacianas, amante ávido das “discussões
de infantário”, Toninho Van-Dúnem que o diga. Desperdiçou a melhor oportunidade
de fazer história quanto teve nas suas mãos a responsabilidade de modernizar a
Constituição de Angola.
5.
Gonçalves Muandumba – Membro do
BP, ministro da Juventude e Desportos
É o impensável do
MPLA. O seu papel de louvaminhas do presidente raia o ridículo e dá azo a
inúmeras anedotas sobre a sua incapacidade de dizer algo publicamente sem
mencionar a “clarividência” do presidente. Trata-se de um indivíduo que nunca
teve uma ideia própria. Para seu benefício, o seu infantilismo político tem o
condão de prejudicar ainda mais a imagem do presidente, que procura endeusar. A
sua influência resume-se apenas ao serviço que presta enquanto dirigente do
pelouro da juventude: abafar a autoestima e a capacidade criativa dos jovens.
Muandumba é uma peça importante na alienação da juventude e sua precipitação no
vazio moral, intelectual e político.
6. Joana
Lina – Secretária para a
Administração e Finanças do BP, vice-presidente da Assembleia Nacional
É a tarefeira do
radicalismo político no feminino, na defesa exclusiva dos interesses de grupo.
Não tem ideias próprias.
7. Jesuíno
Silva – Segundo secretário do
Comité Provincial de Luanda , deputado à Assembleia Nacional
Este jovem turco é
um fiel seguidor de Bento Bento e seu ideólogo. Trata-se de um intriguista de
créditos firmados. Para esta nova vaga de líderes do MPLA, o culto de
personalidade ao chefe está acima de tudo, é o centro de gravitação do mundo.
Com este tipo de ideólogos, a nação angolana e os interesses do povo angolano
resumem-se única e exclusivamente à vontade emanada pela direcção do MPLA.
Jesuíno Silva tem sido um grande combatente contra as manifestações,
apoiando-se na palavra de ordem de Bento Bento: “Defender com bloco e atacar
com bloco!”. Foi entusiasta directo na agressão contra Filomeno Vieira Lopes,
tendo merecido louvores no seio do comité provincial do MPLA por esse mesmo
feito.
8. Manuel
Nunes Júnior – Secretário para a
Política Económica e Social do BP, deputado à Assembleia Nacional
Tem boas
qualidades humanas e boa formação académica, com doutoramento em Economia na
Universidade de York, em Inglaterra. O seu “crime” é a indecisão crónica e a
falta de coragem para, de vez em quando, mostrar o que vale. A esse nível, é
pior do que a velha guarda. Bem poderia usar o seu tempo e conhecimentos para
dar aulas e renunciar à liderança de um pelouro para o qual não é tido nem
achado.
9. Roberto
de Almeida – Vice-presidente,
deputado à Assembleia Nacional
Esperava-se mais
deste veterano, até pelo seu nível intelectual. Apesar do seu difícil
relacionamento pessoal, é dos poucos políticos que tinha peso, no seio do
partido, para criar uma corrente reformista e a favor dos interesses supremos
da nação. Esquivou-se sempre a assumir riscos. Preferiu render-se a José
Eduardo dos Santos, que o domesticou, integrando-o no esquema de privilégios
ilícitos. Hoje é apenas um corista. Tem no entanto um trunfo na manga, que lhe
garante estar entre os bons: pode sempre jogar uma cartada de alcance político,
ao anunciar a retirada voluntária da vida política activa e escrevendo a sua
autobiografia. De resto, já não aquece nem arrefece.
10. Mário
António – Secretário para a
Informação do BP, gestor principal dos negócios do MPLA através da GEFI, um
conglomerado de mais de 60 empresas
A recente nomeação
do general Mário António para porta-voz do MPLA revela o quadro psicológico que
comanda a liderança do partido. Mário António é um militarista pouco dado a
entreter-se em diálogos. Mesmo ao tempo de comissário político das então FAPLA,
era de poucas falas. A sua nomeação coincidiu com a implementação das Brigadas
Comunitárias de Vigilância, que constituem a formalização da política
presidencial de reabilitação das forças paramilitares e da bufaria entre
vizinhos, desta vez sob o controlo directo do MPLA. Também está alinhada à
ascensão do seu mentor, João Lourenço, ao cargo de ministro da Defesa. Como era
de esperar, Mário António falou publicamente, pela primeira vez depois de ter
assumido o cargo, sobre a intolerância política no país. Disse que “são rixas
entre cidadãos”. Com a sua nomeação, está consagrada a defesa nua e crua da
política de intolerância no país, desencadeada pelo próprio MPLA. Desse modo,
Dos Santos mostra que o campo de João Lourenço não tem intenções reformistas,
mas sim repressivas. E o jogo de baralhar para confundir continua.
Os Piores
Os Piores
1. Bento
dos Santos “Kangamba” – Membro
do Comité Central, secretário para a Mobilização Periférica e Rural do Comité
Provincial de Luanda
É o símbolo maior
da lúmpen burguesia que tomou conta do MPLA. Já havia sido expulso do MPLA, em
2004, após condenação por crimes de fraude, burla e falsificação de documentos.
Regressou em grande à cúpula do MPLA, pela mão do presidente, desposando a sua
sobrinha Avelina dos Santos. Passou a ser membro do círculo familiar íntimo do
presidente, que tem mais poderes que o BP do MPLA ou outra estrutura de poder.
Com tal poder, internacionalizou a lumpenagem angolana, tornando-se a figura
nacional mais mediática no Brasil, por tráfico internacional de mulheres para
exploração sexual. É procurado pela Interpol. Trata-se do rosto do gangsterismo
político doméstico, em nome do regime. Serviu de padrinho das “milícias”
conhecidas como kaenches, muitos dos quais de nacionalidade congolesa, destinadas
a aterrorizar os manifestantes anti-regime.
2. Manuel
Hélder Vieira Dias “Kopelipa” –
ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do PR
Participa
regularmente das reuniões do Comité Central e do BP, supostamente para garantir
a segurança do presidente. Na realidade, a sua presença é sempre no sentido da
coacção psicológica dos eventuais críticos do presidente. Apesar de ser general
no activo, viola o apartidarismo das Forças Armadas Angolanas ao envergar
abertamente camisolas do MPLA durante a campanha eleitoral. De forma prática,
Kopelipa intromete-se na vida interna do MPLA para afirmar-se também como um
líder-sombra desta organização política. Com as marionetas que vegetam pelos
corredores da direcção do MPLA e a sua insaciável capacidade para a intriga,
Kopelipa pode e manda. É a figura mais destrutiva do país, do ponto de vista
político e económico, sendo o principal responsável pela “venda” de Angola à
China.
3. Bento
Bento – Membro do BP, governador
de Luanda
Não soube
influenciar positivamente o MPLA, com o poder de mobilização de massas de que
dispunha. O seu populismo é despido de quaisquer princípios doutrinários ou
outros que possam contribuir positivamente por uma Angola melhor. Exemplo disso
é o recente encontro que teve com as quinguilas. Primeiro, patrocinou a
detenção arbitrária das vendedoras ambulantes por três dias. A seguir, “por
ordens do presidente”, providenciou para que as centenas de mulheres presentes
no encontro consigo recebessem cada uma 5000 kwanzas. Debalde, não havia
dinheiro para o efeito. É irresponsável. O presidente da Comissão
Administrativa de Luanda, José Tavares, revogou publicamente a cessação de
hostilidades do governo contra as quinguilas, desautorizando Bento Bento e
fazendo supor que este apenas usou o nome do presidente para sua autopromoção.
Tem contribuído om a sua incompetência e falta de visão para encaminhar o MPLA
para o precipício. A forma como apareceu vinculado ao desaparecimento e
assassinatos de Cassule e Kamulingue é um indicador dos caminhos obscuros por
onde circula em busca de mais poder. Trata-se de outra figura destacada da
lúmpen-burguesia.
4. João
“Jú” Martins – Secretário para a
Política de Quadros do BP, deputado à Assembleia Nacional
É o ideólogo do
MPLA. Está intrinsecamente ligado às boas e às más estratégias do MPLA. Depois
de Lúcio Lara, é a figura que acumulou mais poderes como ideólogo do partido no
poder.
5.
Fernando da Piedade Dias dos Santos – Membro do BP, presidente da Assembleia Nacional
Tem o sorriso mais
cínico do regime. É um dos presidenciáveis do MPLA, por mérito do seu historial
de repressão. É conhecido como extremamente vingativo e, por isso, o presidente
e o seu círculo restrito não podem perdê-lo de vista. Têm-no feito circular
entre os postos de primeiro-ministro, de presidente da Assembleia Nacional, de
vice-presidente e, outra vez, de presidente da Assembleia Nacional. Quando Dos
Santos decidiu apartar-se de Carlos Feijó, teve a “crueldade” de o colocar sob
a chefia de Nandó, mesmo sendo o primeiro ministro de Estado e chefe da Casa
Civil do Presidente da República. Dificilmente se livrará da fama de ser o
protector de negócios obscuros e altamente perigosos, mesmo num país onde ser
corrupto é uma honra. O seu nome apareceu também associado a negócios com os
irmãos libaneses Kassim Tajideen, acusados pelos Estados Unidos da América como
financiadores de um grupo terrorista, tal como é qualificado o Hezbollah.
6. José
Tavares* – Membro do comité
provincial de Luanda do MPLA, presidente da Comissão Administrativa de Luanda
Pai e padrinho da
Constituição atípica, Carlos Feijó e Bornito de Sousa também imprimiram os seus
nomes nos anais da história como os criadores da Comissão Administrativa de
Luanda. Os atípicos ancoraram na Constituição a criação de “instituições e entidades
administrativas independentes”, bem como a sua organização e o seu
funcionamento (Art.º 199.º, n.º 3 e 4). Combinaram esse articulado com o
referente à administração local do Estado (Art.º 201.º, n.º1) para o ensaio da
CAL, como forma de controlo de Luanda pelo presidente, independentemente do
resultado das autarquias. Para o efeito, Dos Santos usou mais esta atipicidade made
in Angola para conceder poderes ao seu amigo José Tavares, que também
promoveu a general. Essa indicação respondeu à necessidade de a família Dos
Santos ter em Luanda um demolidor sem quaisquer encargos de consciência. José
Tavares é assim o protagonista das demolições regulares de vastas áreas
residenciais, em zonas valorizadas para a especulação imobiliária, remetendo
dezenas de milhares de cidadãos a uma vida primitiva fora da cidade, para onde
são desterrados depois de despojados. Os respectivos terrenos servem para os
interesses da primeira família e dos favoritos do círculo presidencial. De
administrador do Sambizanga, bairro onde o presidente passou parte da infância
e adolescência, o general José Tavares foi investido da função de presidente da
Comissão Administrativa de Luanda, para ser supervisor dos administradores
municipais. Debalde. Com o poder do MPLA na província e a amizade do pai
grande, José Tavares assumiu-se como o presidente da República de Luanda. É
outra figura cimeira da lúmpen-burguesia.
7. João
Ernesto dos Santos “Liberdade” –
Membro do BP, primeiro secretário provincial do MPLA e governador do Moxico
Ocupa o mesmo
cargo há mais de 30 anos. É e sempre foi um deserto de ideias, para além do uso
da violência. O Moxico, a maior província de Angola, mantém-se imobilizado no
tempo por obra desse senhor. Nunca mostrou trabalho, para além da violência. É
uma grande arma na estratégia de quem não tem nem vontade nem capacidade para
governar todo o país, mas precisa de o manter sob estrito controlo.
8. António
dos Santos França “N’dalu” –
Membro do BP, deputado à Assembleia Nacional
É a eminência
parda do regime, conhecido como o general dos generais. Teve uma carreira
militar extraordinária, que lhe granjeou grande prestígio. Também é um
diplomata bem ao estilo do seu nome de guerra, “Puma”. O general é sempre
solícito a defender interesses de certos grupos minoritários, em termos de
poder e vantagens económicas. Com todo o seu prestígio e reputação, não se lhe
conhecem iniciativas destinadas a honrar os antigos combatentes e veteranos de
guerra, milhares dos quais serviram sob seu comando. Também não se faz ouvir sobre
a necessidade de reformas nas FAA que façam chegar aos soldados, em várias
zonas do país, o mínimo: uniformes, botas, capas de chuva e, acima de tudo,
alimentação regular. Com tudo o que tem na vida, não se compreende a sua
persistência em manter-se como general no activo. Poderia dar o exemplo,
pedindo a oficialização da sua reforma como militar por respeito à exigência
constitucional de apartidarismo das FAA, de que foi o primeiro chefe de
Estado-Maior General. O seu poder de influência não serve a sociedade como um
todo. Por isso, é um afável sectário.
9. Ernesto
Muangala – Membro do Comité
Central, primeiro secretário provincial e governador da Lunda-Norte
Em parte alguma de
Angola os níveis de violência institucional e por parte de forças privadas de
segurança contra as populações se assemelha ao terror em que vive a província
da Lunda-Norte, por causa dos diamantes. Muangala é o secretário do MPLA e
governador, perdendo-se sempre em justificações a favor da mortandade dos seus
conterrâneos, cujo direito à vida é suposto defender. Sente-se confortável no
papel de carrasco dos seus próprios irmãos. No Cuango, as camponesas continuam
a ser mortas de forma macabra, e o homem assobia para o lado.
10. Kundi
Paihama – Membro do BP,
governador do Huambo
Orgulha-se do
papel de sipaio do regime. Depois de vários anos sufocado nos ministérios da
Defesa e dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, eis que o presidente o
convoca para mais uma tarefa de mostrar a sua classe como velho amante da
repressão. Essa é a sua missão no Huambo.
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