Vi, no
Facebook, as fotografias de Manuel Victória Pereira com as costas marcadas
pelas agressões que sofreu no passado dia 27 de Maio, na sequência de mais uma
manifestação falhada. Tais imagens não suscitaram grande indignação, nem dentro
nem fora do país. Isso – infelizmente – não me surpreendeu. A prática de
abortar manifestações e de surrar os manifestantes tornou-se entre nós algo
rotineiro. Aceitamos a violência do Estado como sendo inevitável: “quem anda à
chuva, molha-se.”
Os próprios
manifestantes sabem que irão ser presos e espancados. Sacrificam-se, enquanto a
esmagadora maioria da população desvia os olhos e finge não ver.
http://www.redeangola.info/opiniao/vamos-la-pensar/
A única
forma de quebrar um ciclo de violência é através da não-violência activa. A
não-violência tem como principal objectivo fazer com que o agressor se
confronte com a estupidez do seu acto e renuncie a ele. Ou seja, o principal
objectivo da não-violência é o de trazer o agressor para o nosso campo – para o
campo das ideias, para o campo da inteligência. As manifestações pacíficas são
apenas uma das estratégias da não-violência. Não são as únicas. Creio que
chegou o momento de reflectir sobre outras estratégias.
Os jovens (e
alguns não tão jovens, como Manuel Victória Pereira ou Filomeno Vieira Lopes)
que ao longo dos últimos anos têm saído às ruas, em pequenos grupos,
reivindicando mais democracia, mais justiça social, mais respeito pelos
direitos humanos, demonstraram / demonstram uma coragem enorme, e merecem o
respeito de toda a sociedade.
Creio que há
nestes pequenos grupos mais revolta, uma justíssima revolta, do que reflexão. É
preciso somar pensamento à indignação. O ideal seria reunir esta juventude em
fóruns alargados, que contassem com a participação de personalidades que se têm
distinguido, a nível internacional, em combates semelhantes, na Tunísia, no
Egipto, na África do Sul, e também no Brasil, na Índia, nos Estados Unidos e na
Europa. Estes Fóruns deveriam ser inclusivos, chamando ao debate representantes
dos partidos políticos angolanos, incluíndo o partido no poder, pois o que está
em causa é, afinal, o destino de todo o país.
A violência
em Angola não é de hoje. O nosso país foi construído através da violência.
Primeiro da violência colonial, com destaque para a instituição de um sistema
escravocrata, que, ao longo dos séculos, exauriu o campo e as sociedades
tradicionais, ao mesmo tempo que dava origem a uma sociedade urbana
profundamente injusta e arrogante; veio depois a independência e a guerra
civil. Na violência de hoje há um eco doloroso desse passado de horrores. Não
será fácil romper com o ciclo da violência, tão prolongado, tão enraizado,
instituindo um novo tempo, no qual todos os conflitos possam ser resolvidos
através do debate. Mas não há outro caminho. Nenhum angolano pode ficar de fora
de tal processo.
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