Maka Angola
O
ministro do Interior, Ângelo de Barros Veiga Tavares, solicitou recentemente ao
presidente José Eduardo dos Santos a exoneração do comandante-geral da Polícia
Nacional (PN), Ambrósio de Lemos, soube o Maka Angola de fonte oficiosa.
A
crispação entre o ministro e o comandante-geral tem vindo a acentuar-se nas
reuniões operativas que realizam semanalmente às segundas-feiras. Os ataques
verbais que o ministro tem desferido contra o comandante-geral, segundo um alto
oficial que regularmente participa dos encontros, tem esvaziado a seriedade dos
mesmos.
Em
causa está o controlo efectivo da Polícia Nacional. Desde a sua ascensão ao
posto, em 2012, o ministro Veiga Tavares tem vindo a usurpar as competências do
comandante-geral, a quem trata amiúde por “mole”, com a ambição de tornar-se
num superministro.
O
clima de tensão é bem evidente em episódios como o que se segue: o
comandante-geral havia dado instruções claras aos seus efectivos para que não
detivessem nem torturassem os jovens manifestantes de 27 de Maio passado.
Ultrapassando as suas competências, o ministro ordenou pessoalmente o ataque
aos jovens, através do comandante da Polícia de Intervenção Rápida, o
comissário Alfredo Quintino Lourenço (Nilo), para surpresa do comandante-geral.
No
referido dia, as esquadras policiais de Luanda recusaram-se a receber os mais
de 20 jovens torturados, incluindo o sexagenário Manuel de Victória Pereira, do
Bloco Democrático. O executor do ministro, o comissário Nilo, teve de ordenar o
abandono das vítimas fora da cidade de Luanda, adoptando assim a metodologia
usada no combate ao garimpo, nas Lundas.
Mas
o ministro não quer apenas o controlo directo dos actos de repressão, para
melhor agradar ao presidente da República, principal visado das manifestações,
e dele obter a total confiança.
Para
além de chamar a si o controlo exclusivo da Direcção Nacional de Investigação
Criminal (DNIC), o ministro passou a controlar também a logística da PN,
agravando os desentendimentos sobre a gestão dos fundos destinados à corporação.
O Ministério do Interior tem um orçamento global, para o corrente ano, de 397,5
biliões de kwanzas (US $3,9 biliões), mas é nos fundos destinados à logística
que reside o maior potencial para enriquecimento ilícito.
A
título de exemplo, as divisões policiais em Luanda queixam-se de falta de
abastecimento alimentar. No interior, a situação é caricata. Veja-se o caso do
comando municipal de Xá-Muteba, na província da Lunda Norte, que recebe
trimestralmente três sacos de arroz, três sacos de fuba de milho e uma caixa de
óleo para alimentação dos 150 agentes policiais ali destacados em várias
unidades. O comando já nem sequer procede à distribuição dos referidos bens
alimentares, “por vergonha”.
As
fontes do Maka Angola citam também que o ministro do Interior desencadeou um
processo junto da Presidência da República, com vista a garantir a
transferência da Polícia Económica para a sua tutela.
O
ministro tem feito recurso das suas alianças com o chefe da Casa de Segurança
do Presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”
e o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, invocando
regularmente estes nomes para demonstrar aos seus críticos internos que detém
um inquestionável poder e uma inquestionável confiança da parte do regime.
De
forma ríspida, o comandante-geral terá dito ao ministro, em conversa privada,
que estava a ficar agastado com os ataques pessoais deste. O comandante também
terá transmitido ao seu adversário que se mantém no cargo por conveniência do próprio
presidente da República e do MPLA. Foi precisamente o conteúdo dessa conversa
que Ângelo de Barros Veiga Tavares usou, como veículo de intriga, para informar
o presidente. Na versão do ministro, Ambrósio de Lemos ter-lhe-á confidenciado
a sua intenção de pedir demissão. O ministro solicitou então que fosse o
presidente a tomar a iniciativa de exonerar o comandante.
Outro
ponto contencioso na relação entre o ministro e comandante tem que ver com a
nomeação de oficiais superiores. É entendimento do ministro que a Polícia
Nacional não tem comissários (equivalentes a generais) suficientes. Nas
reuniões operativas, o ministro acusa directamente o comandante de ser um
obstáculo à promoção de mais oficiais à categoria de comissários. As últimas
promoções feitas pelo presidente da República foram feitas com base apenas nos
critérios de favorecimento do ministro, que dispensou as recomendações
acordadas com o comandante-geral. Para o ministro, que é oriundo dos serviços
prisionais, deve haver tantos comissários como nas Forças Armadas Angolanas,
que têm o maior número de generais do mundo.
Imagem:
Ângelo Tavares (à esquerda) quer a demissão do comandante-geral da PN, Ambrósio
de Lemos (à direita).
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