sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Jovens provam que mudar é possível. Democracia deu um passo gigantesco em Quelimane


Maputo (Canalmoz) – Terminadas que estão as eleições “intercalares” em Quelimane, pode-se dizer que foi a juventude, essencialmente, que provou ser possível destronar a Frelimo do poder. O MDM jogou a imagem de Daviz Simango e as suas credenciais de movimento vencedor na Beira e apontou Manuel de Araújo. O candidato emprestou a sua credibilidade e os jovens fizeram o que era preciso ser feito para ser possível vencer. De onze capitais provinciais a Frelimo já tem agora duas com governos autárquicos que não controla. As duas m,ais importantes capitais provinciais ao sul e norte do Zambeze são agora governadas pelo MDM, um partido com apenas 3 anos de existência.
Os jovens da capital da Zambézia provaram que mudar é possível. Provaram que a “geração da viragem” pode fazer jus à sua “auto-estima” e deixar de ser espezinhada se entender que por via de eleições pode afastar os que andam grudados ao poder a impedi-los de progredir na vida.
A Polícia colocou-se descaradamente ao lado da Frelimo e do seu candidato perante uma Comissão Nacional de Eleições ausente e incapaz de se impor numa circunstância eleitoral em que é suposto o Governo não interferir na escolha que a lei remete exclusivamente aos cidadãos eleitores.
Os bens do erário público foram usados no que configura um saque ao Estado, mas o PGR esteve também distraído ou não estivesse o senhor procurador sujeito a ser demitido pelo presidente da República se agisse.
Apesar de se dizer presidente de todos os moçambicanos o chefe de Estado também não foi capaz de aparecer a mandar parar o uso e abuso de fundos do Estado para a campanha do seu partido.
A Força de Intervenção Rápida foi usada, fortemente armada, para implantar duas bandeiras da Frelimo em espaço privado e alugado onde o MDM há vários anos tem instalada a sua sede na Zambézia.
A Frelimo usou a Polícia como seu exército privado e não se ouviram os mais pequenos reparos nem do ministro do Interior, nem do primeiro-ministro, nem do presidente da República.
Ficam as perguntas: afinal quem é que usa armas para fazer política, é a Renamo ou a Frelimo?
Afinal quem é que é belicista?
Será mesmo que a Renamo não tem razão quando se recusa a desarmar-se perante uma Frelimo, um Governo e um chefe de Estado sem escrúpulos?
E os escritores Mia Couto, Ungulani Ba Ka Khosa e Paulina Chiziane, que escreveram a Dhlakama a pedir-lhe que se deixe de ameaças, já se terão dignado a escrever a Guebuza a pedir-lhe que deixe de usar a Polícia para ameaçar os eleitores?
Sabe-se que a FIR ao invadir a sede do MDM em Quelimane sabia de antemão que estava a violar a ética eleitoral mais elementar, como também se sabe que esperava que lhe respondessem violentamente para que houvesse razões para cancelar as eleições em Quelimane onde a Frelimo sabia de antemão que ia ser humilhada nas urnas, como de facto foi.
A direcção do MDM foi capaz de não perder a lucidez e ignorou pura e simplesmente o gesto ordinário e buçal da Polícia que certamente agiu com ordens do Governo.
A juventude não se deixou amedrontar e também provou uma lucidez invulgar em cidadãos do seu grupo etário.
Os jovens de Quelimane provaram em todas as circunstâncias uma maturidade invulgar e digna dos mais rasgados elogios.
Defenderam os seus interesses com garra e valentia opondo a sua educação cívica e dignidade a um comando do Polícia rafeiro e que não reúne as condições mais elementares para o que está incumbido.
Dirá o comando da PRM que recebeu ordens do governador para agir daquela forma imprópria, mas então que o governador Itai Meque seja responsabilizado pela sua nojenta actuação.
Os jovens não se renderam e souberam sempre agir nos termos da lei. Conseguiram, inclusivamente, com a sua calma e civismo, irritar a Polícia pondo-a a deixar a nu que é completamente servil a um partido, ignorando o seu dever de respeito pela Constituição da República.
Os jovens de Quelimane, com a sua habilidade não só produziram a chegada a presidente do município de outro jovem, como ainda, sem margem para mais dúvidas conseguiram destapar o véu que escondia uma Polícia sem escrúpulos e ao serviço de um grupo político privado, sem o respeito que é devido ao Estado e ao propósito constitucional de se estabelecer em Moçambique uma democracia credível.
Derrotada a Frelimo nas urnas, a Polícia fortemente armada acabou por se retirar, seguramente envergonhada com o ridículo a que o seu comando sujeitou os agentes nestas eleições.
Os próprios agentes em algumas circunstâncias se lamentaram à Imprensa que estavam a ser usados para servir propósitos que eles próprios achavam estranhos à sua função.
As ruas de Quelimane encheram-se de gente alegre e de todas as idades. Apesar da vitória ninguém guarda rancor, nem mesmo aos agentes usados para reprimir o direito dos cidadãos escolherem livremente o edil que irá render no cargo Pio Matos.
Todos, no geral, acabaram por demonstrar dessa forma o elevado nível de educação cívica da população do chuabo.
A elite da Frelimo entrou em estado de choque. Quando os votos estavam a ser contados, os jovens gritavam para os seus respectivos bairros: “VOTO VÁLIDO, MANUEL DE ARAÚJO”. A festa rapidamente se foi alastrando a todos os cantos da cidade. A onda tornou-se incontrolável. A Polícia deixou pura e simplesmente de ter efectivos para amedrontar tanta gente.
Facilmente se pôde perceber que os jovens vitoriosos eram das classes mais pobres da capital zambeziana.
Saiu de Quelimane de queixo em baixo toda a elite da nomenklatura da Frelimo, pois foram eles os principais vencidos das eleições intercalares de Quelimane, capital da segunda província mais populosa do País.
Todos “os grandes da Frelimo” que vieram em bando tentar tudo por tudo para não darem oportunidade à “geração da viragem”, “perderam o pio” em Quelimane.
Nunca o nome da Frelimo foi tão humilhado.
Nunca a Frelimo fez os agentes da Polícia passarem por momentos de humilhação tão desprestigiantes para a corporação.
Em Quelimane a Polícia foi o símbolo da desordem em vez de ser o garante da ordem e legalidade.
Quelimane está agora a viver momentos ímpares da sua história.
Por todo o lado as pessoas falam de “independência” sinal do quanto estão fartas de uma Frelimo que de libertadora se transformou num clube de amigos estripadores da economia nacional.
Os desabafos que mais se ouvem são vários: “Respira-se liberdade”; “Já apanhámos o ladrão”; “O Galo comeu a maçaroca!”; “A Zambézia agora começa no Save”.
Até os frelimistas que pareciam mais “ferrenhos” se começam a abrir e a não esconder que se sentem aliviados: “Frelimo nunca mais!”.
A juventude está claramente a tomar conta do campo.
A repressão desapareceu das ruas.
A FIR “fugiu”.
A Polícia eclipsou-se.
“Afinal há vida depois da morte”.
“Quelimane ressuscitou”.
Até crianças já brincam pelas ruas a dizerem umas para as outras e a rirem-se às gargalhadas: “abaixo a Frelimo!”…
“Agora falta Nampula”, é a palavra de ordem.
Os jovens sentem-se orgulhosos.
Querem agora contribuir para que mais jovens do País se libertem. “Falta Chimoio”, grita um. “Tete”, diz outro. “Nacala”. “Dondo”. “Inhambane”. “Maputo”.
“A batalha final será Maputo”.
A integridade territorial não está em causa. Há antes a sensação de que a democracia deu um passo gigantesco.
A Unidade Nacional pode sair reforçada.
A alegria que se vive em Quelimane é contagiante. Aos que não tiveram oportunidade de lá estarem só podemos recomendar que experimentem. Para isso é preciso que sobretudo a juventude saiba que para haver verdadeiras mudanças os jovens não podem continuar sem fazer nada.
Mudar é possível.
Quem sabe defender o voto como os jovens de Quelimane nos mostraram, pode vencer. (Canalmoz/ Canal de Moçambique)

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