Alemanha - Começou em abril a fase da votação pública do concurso The BOBs, da DW, um dos maiores prémios da blogosfera. Na categoria "Prêmio Repórteres Sem Fronteiras" concorre o blog Maka Angola, do jornalista Rafael Marques. Fonte: DW Club-k.net "Maka", em Kimbundo, significa "problema". E são os problemas do país, como a corrupção
Alemanha - Começou em abril a
fase da votação pública do concurso The BOBs, da DW, um dos maiores prémios da
blogosfera. Na categoria "Prêmio Repórteres Sem Fronteiras" concorre
o blog Maka Angola, do jornalista Rafael Marques.
Fonte: DW Club-k.net
"Maka", em Kimbundo, significa
"problema". E são os problemas do país, como a corrupção e a falta de
democracia, que o blog pretende combater. A DW África conversou com Rafael
Marques sobre a liberdade de imprensa em Angola.
DW África: Em Angola existem várias estações privadas de televisão e rádio. É possível dizer que situação da liberdade de imprensa no país é positiva?
Rafael Marques: Há uma televisão privada, e eu já
escrevi muito sobre esta televisão privada, e um grupo de comunicação social do
qual a TV Zimbo faz parte. A TV Zimbo é a única estação privada de televisão e
pertence ao General "Kopelipa", que é chefe da casa militar do
presidente da República e do atual ministro de Estado para Cooperação
Econômica, o senhor Manuel Vicente. Então são duas das quatro principais
figuras do poder em Angola que dão ordens diretas sobre o tipo de informação
que a estação pode ou não pode passar. As rádios privadas também. Tirando a
Rádio Ecclésia e a Rádio Despertar, as outras todas são rádios privadas que
pertencem ao MPLA, que, mesmo como partido, criou empresas para controlar a
Rádio Lac, em Luanda, em frequência modulada, a Rádio Morena em Benguela, a
Rádio Cabinda em Cabinda e a Rádio 2000 na província da Huila. São Rádios cujo
capital majoritário é do próprio MPLA, com partido no poder. Então como se pode
falar de imprensa e de liberdade de expressão nestas condições?
DW África: E em Luanda são principalmente
a Rádio Ecclésia e a Rádio Despertar que têm o papel de transmitir informação
credível e independente?
RM: É, que tinham. Mas também têm muitos
constrangimentos, porque a Igreja Católica tem um alinhamento extremamente
partidário, e os bispos têm um controlo extremamente perverso sobre a linha
editorial da Rádio Ecclésia. E censuram. E telefonam e imiscuem-se nos assuntos
da rádio, de modo a favorecer a imagem do presidente do partido no poder. A
Igreja Católica em Angola faz exatamente o oposto daquilo que o Papa veio
pregar em Angola sobre a necessidade de defender os pobres, os mais fracos e
ser amante da verdade.
DW África: Qual é, do seu ponto de vista, o papel da internet? Já podemos falar de um meio de comunicação que atinge toda a população?
RM: Tem-se a ideia de que a internet atinge menos
de 3% da população angolana. É um meio importante, sobretudo na ausência de
meios de difusão massiva como rádios e jornais. A internet vai ocupando um
espaço importante no sentido de informar mais as populações nas áreas urbanas e
aqueles com acesso à internet sobre o que se está a passar em Angola. De todo
modo, é importante também notar que em websites como o Maka Angola, por
exemplo, regularmente as pessoas têm dificuldade de acesso por causa dos
constantes ataques de que é alvo.
DW África: Esses ataques são oriundos do governo Angolano?
RM: Esses são ataques muito bem coordenados, que
utilizam tecnologia sofisticada. Estou a dizer isso porque durante um mês não
foi possível às pessoas acederem, e várias vezes fica fora do ar. Inclusive já
foi preciso mudar de servidor três vezes, porque até os próprios servidores se
recusam, mesmo nos Estados Unidos, a manter os serviços com o Maka Angola por
causa da qualidade dos ataques que sofre. E para não comprometer outros
clientes, então colocam o site do Maka Angola em quarentena, e com o claro
aviso de que se os ataques continuam, têm que dispensar os serviços para não
comprometer o resto dos clientes.
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