quarta-feira, 18 de abril de 2012

Oposição recusa participação de militares na Guiné-Bissau



Luanda - Os principais partidos da oposição angolana rejeitam que os militares que Angola mantém na Guiné-Bissau intervenham naquele país e exige o seu regresso a casa, disseram, esta segunda-feira, à Lusa fontes partidárias.

Fonte: Lusa Club-k.net
Segundo Alcides Sakala, porta-voz da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido com representação parlamentar, a presença dos cerca de 200 militares de Angola na Guiné-Bissau, no âmbito da missão militar angolana naquele país (Missang), "está na origem do clima de tensão que se criou e conduziu à situação atual".

"Nós recomendamos que essa questão seja abordada na Assembleia Nacional, independentemente da posição aprovada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), porque, enviarem-se mais unidades pode ter consequências muito graves", acrescentou.

A UNITA defende que deve haver "muita ponderação" e que o Parlamento deve concertar com o Executivo o que vai ser feito, porque, alertou Alcides Sakala, "podem morrer soldados angolanos".

"Angola pode ver-se arrastada para um conflito de maiores proporções", adiantou, citando o caso do conflito de Casamança, no sul do Senegal, que faz fronteira com o norte da Guiné-Bissau.

Para Joaquim Nafoia, porta-voz do Partido da Renovação Social (PRS, oposição) os militares angolanos que se encontram em território guineense "devem regressar imediatamente a casa".

"A questão não é se deve ou não haver autorização do parlamento. Quando a Missang foi enviada, o Executivo não pediu autorização ao parlamento. O presidente (José Eduardo dos Santos) agiu à margem das instituições oficiais e a situação agravou-se, pelo que Angola não deve mandar mais militares e exigimos o regresso imediato a casa dos que estão na Guiné-Bissau, até porque os próprios guineenses não os querem lá", acentuou.

A falta de autorização prévia por parte do Parlamento foi igualmente invocada pela Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE), liderada por Abel Chivukuvuku, ex-dirigente da UNITA.

Segundo o vice-presidente e porta-voz da coligação, Lindo Bernardo Tito, caso os soldados angolanos entrem em combate contra os militares guineenses "haverá flagrante violação das leis angolanas e do acordo celebrado entre os estados angolano e guineense".

"Entendemos que o que o Governo angolano devia fazer era retirar as tropas da Guiné-Bissau e ajudar a que se encontre uma solução pacífica, mas assente em premissas duradouras e não em soluções frágeis, como as que foram encontradas até hoje", adiantou.

A solução duradoura preconizada pela CASA-CE atribui à comunidade internacional a responsabilidade de assegurar a estabilidade, a tranquilidade e a paz na Guiné-Bissau.

"Até, pelo menos, que haja um quadro mais ou menos aceitável e que os guineenses estejam maduros para seguirem sozinhos, sem a comunidade internacional", explicou.

Quanto aos militares angolanos, Bernardo Tito defendeu que qualquer intervenção carece de autorização prévia do parlamento de Angola.

"Não tendo o parlamento angolano dado um mandato ao presidente (José Eduardo dos Santos) para intervir militarmente noutro país, a solução será unicamente a de retirar as tropas e fazê-las regressar a Angola", concluiu.

A Lusa tentou contactar o porta-voz do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder), Rui Falcão, mas tal não foi possível.

A Missang, com cerca de 200 efetivos, foi formalmente lançada a 21 de março de 2011 com o objetivo de apoiar a reforma do setor militar guineense.

Há cerca de uma semana, as autoridades de Luanda anunciaram o fim da missão na sequência de críticas de alegado envolvimento nos assuntos internos guineenses, feitas pela hierarquia castrense, que na quinta-feira protagonizou um golpe de Estado, com suspensão da Constituição e detenção, em local desconhecido, do Presidente interino, Raimundo Pereira, e do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

No fim de semana, a CPLP anunciou, em reunião extraordinária realizada em Lisboa, a decisão de propor "uma força de interposição para a Guiné-Bissau, com mandato definido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas".


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