quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Angola, o suicídio ou os sequestrados da Constituição (1)


O homem que não lê bons livros não tem vantagem alguma sobre aqueles que não podem lê-los. Mark Twain

Com a nova Constituição e sem energia eléctrica, Angola será reduzida a pó.
Por aqui não são as Leis da Gravitação Universal que nos governam. É a atracção universal de alguns corpos desumanos. Que insituáveis, nos permanecem nas cadeias dos regimes totalitários. As cadeias dos queridos guias imortais que iluminam os caminhos da fome. Não há condicionantes. Há as condições aprazíveis… só para aventureiros e bajuladores.

Abel e a Belita enamoraram-se e namoravam-se. Não como aqueles que namoram e fazem disso uma mera ocupação para passarem o tempo. Amavam-se para além das montanhas aladas das suas almas. Muito para além da atracção universal duma Constituição que eterniza um santo poder eleito por Deus. Os seus corações eram atípicos. Estavam possuídos pela também espoliação da alta voltagem de Tesla que lhes provocava curto-circuitos amorosos. De tão enlevados, não notaram o logro constitucional do voo da sua nave divina. E nela embarcaram num universo paralelo longe das nossas imutáveis leis desumanas.

Abel presenteava-se com vinte e um anos e Belita com dezasseis. Vizinhavam-se e aproximavam-se muito bem nos dois anos que floresciam como enamorados do amor. O pai da Belita não sabia, saber não podia. Estudavam e assim o futuro preparavam. Abel vivia com um tio que o apoiava, como num mar de rosas imenso.

Distraíram-se e a Belita engravidou. Coisa mais natural e não atípica nos que se amam. Aquele que se dá ao outro, o que recebe o sémen que dizem consagrado, que depois germina como vida premiada, num bonito ou numa bonita, sempre à espera dos ternos e eternos olhares fecundos de carinho que o espreitam antes e depois do brutal contacto com os predadores humanos. Desabrochavam-se no seu amor que já se sentia em maturidade. A responsabilidade que aceitavam do infiel quotidiano da inconstitucionalidade.

Abel muito romântico, cheio de responsabilidade mas amargurado obriga-se a um lamento:
- Querida… acho melhor desfazeres a gravidez.
- Sim… também já pensei nisso meu amor!
- Sabes… alguns remédios que vendem por aí na candonga… acho que são eficientes.
- Já tomo alguns… com a ajuda das minhas amigas… tudo correrá bem. Assim o espero!..
- Concordo imenso contigo. Estudamos, e neste momento não temos condições para suportar um ser que nascerá, e para o qual não temos meios de o sustentar, alimentar. Será mais um esfomeado sem apoio da novel constituição da inconsideração. Quem nos apoiará? Decerto serás escorraçada de casa. Para onde? Para algum casebre e depois os martelos demolidores dos estupores destruírem-no?! E eu?! Que estou na casa de um tio?!.. Deixaremos de estudar. Será o nosso fim… se o reino agendasse uma agenda de consenso nacional… um programa de apoio a jovens como nós, isso seria óptimo, como isso não existe, nunca existirá... até um nobre da universidade real quase a destruiu por causa de uma amante. Não concebo que o nosso ensino possa ser como um passatempo tão enganador, tão desalentador.
Abelzinho… compreendo perfeitamente. As tuas preocupações são a eternidade da fortaleza… da certeza do nosso amor. Apesar de retirar a sementeira do meu ventre, que jurei só a ti pertencer, ele continuará sôfrego de liberdade para nele de novo te exercitares. Planta neste jardim das delícias acolhedor, a semente do nosso universo. Verás depois os frutos saborosos e acolhedores que cairão no paraíso das tuas mãos.

Imagem: Angola e o futuro

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