quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Ocidente do Paraíso (6). Pareceu-me que os pinheiros falavam entre si


Numa tarde decidi aventurar-me pela floresta de pinheiros. Andei, andei o mais que pude e não consegui atingir o fim. Pensei que a floresta era interminável. Vi plantas pequenas brancas com uma sombrinha, rodeadas de musgo e outras cinzentas. Apanhei algumas que depois entreguei à minha mãe. Ela assustou-me:
- Não apanhes mais dessas plantas nem as comas, porque algumas são venenosas… chamam-se cogumelos. Os que servem para comer são os brancos, mas mesmo assim alguns são venenosos. Estes aqui são bons para comer fritos ou cozidos, mas quando fores apanhar mais, tens que me mostrar.
Continuando, aprendi a distinguir os que eram bons para comer, até que me fartei e fiquei enjoado. Também havia muitos espargos que fritos eram deliciosos.

Claro que o único local onde me podia divertir era na floresta de pinheiros. Decidi aventurar-me pelo seu mais profundo sem parar. Voltei a andar até me sentir cansado, até ouvir o vento uivar nos seus ramos, até sentir o que nunca antes experimentei, e pareceu-me que os pinheiros falavam entre si. Pareciam vozes humanas a murmurarem que havia um estranho no seu seio. Comecei a sentir medo, a querer fugir receando que estivesse perdido num outro mundo.

Distingui mais para lá um local bem escuro, e pareceu-me ouvir vozes humanas. Pensei que afinal não estava só. Deviam ser trabalhadores que cuidavam da floresta. Aproximei-me e vi uma pequena clareira com luz muito intensa. Vi um senhor de idade avançada sentado numa cadeira, e ao seu redor o que pareciam ser anjos rodeados de estrelas. Tomado de grande pânico iniciei uma grande correria de regresso a casa. Não contei nada à minha mãe nem à minha avó. Nessa noite dormi mal, carregado de pesadelos, com muito medo.

De manhã ao acordar decidi que pela tarde iria ao mesmo local para ver com mais pormenor o que seria aquilo. Atrasei-me, já era quase fim de tarde, o céu ameaçava chuva, mas mesmo assim fui. Quase ao chegar a escuridão veio de repente, do céu desabou uma grande chuvada, e os raios que a acompanhavam iluminavam tudo ao meu redor. Faziam os pinheiros e a vegetação parecerem horrendas criaturas que se moviam, como querendo agarrar-me. Já encharcado até aos ossos vi a tal clareira. A mesma luz intensa mantinha-se, e o cenário também. Consegui esconder-me debaixo da vegetação, o que para além de observar sem ser visto, também me ajudava a proteger da chuva.

Lá estava o mesmo senhor idoso rodeado, do que pareciam ser anjos. Todos tinham auréolas à volta das cabeças, círculos de luz pairavam-lhes, estrelas de luz muito intensa subiam e desciam, e quando estavam prestes a tocar o solo transformavam-se em pessoas iguais às que via em alguns quadros, e que me diziam serem anjos. De repente tudo escureceu. Pensei que fosse por minha causa. Aterrorizado pensei que descobriram o local onde estava. Só tive um pensamento, fugir. Ajudado pelos raios da trovoada que iluminavam de vez em quando a cena, fugi muito rápido, o quanto as pernas me permitiam. Já estava muito escuro devido ao avanço da noite.

Imagem: http://tramagal.blogspot.com/

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