segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Epopeia das Trevas (116). Acabou a vigarice da independência, voltei a lavar roupa. Consegui emprego como lavadeira


Ouvi um grande cientista afirmar que esta é a civilização da psique,
a psique do dinheiro. Nada mais fácil. Para enriquecer rápido
basta tirar um curso desses que explica como curar a mente.

Estamos a gerar filhos idiotas para internamento psiquiátrico.
Há uma degeneração somática devido às fobias
que assolam constantemente a mente.
É quase um milagre dormir em paz. As funções genéticas alteram-se
porque o sono não consegue ser reparador
Somos todos pacientes, acordamos a qualquer momento da noite com pesadelos
Não conseguimos dormir mais, e se insistimos acordamos com espasmos violentos
Porque não conseguimos retirar as preocupações que dominam o nosso cérebro
Este, quando a claridade do dia surge está como bêbado
Como se acabasse de jorrar uma garrafa de uísque
Na tentativa de o ajudar fuma-se um cigarro, depois outro
As próximas noites serão continuadas como uma floresta virgem,
onde aparecem escavadoras que desflorestam o sono reparador das noites
Surge a saída: os tranquilizantes que no início resultam
mas depois vazam-nos a existência
Porque não existe paz para a mente
Os filhos gerados desta mutação sem o verde planetário,
que existia, recebem os dotes dos progenitores e a sua missão é muito simples:
Destruirem os bairros, as cidades, os países, a Terra

Não há nada… nem ninguém que não se enterre
Nas comissões das corrupções sectoriais que enchem
os destemperados petrolíferos da fome
Oh! Como vos desnaturais

Acabou a vigarice da independência
voltei a lavar roupa. Consegui emprego como lavadeira
Lavo e engomo. Regressei ao passado colonial pois então! A minha luta com o tanque
de esfregar os tecidos não pára
Não consigo vencer o tanque. Há sempre roupa para lhe colocar e lavar,
e a ferro passar, engomar. A senhora proíbe-me de almoçar
Com fome saio fraca, quase a desmaiar

Meu Jasmim Branco! Foste e deixaste, abandonaste-me a tua Jasmim da Noite
Eras como um alaúde sem Idade Média. Não ouvirás os beija-flores
Não verás mais o prodígio do equilíbrio do seu sugar
Nem as marés quentes que se estendem, horizontais
E verticais sob os mangais. Alarmam, chamam os caranguejos das marés
Que se desabrigam a saírem das suas caves inundadas
Caminham como aranhas na maré-cheia, rotina marginal
Não me verás mais ondular no verde intenso do capim. Sem ti, senti
a memória passada do meu biquíni. Na frequência oscilante da fragrância marítima

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