segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Ocidente do Paraíso (3). Mais uma vez adormeci com fome


- Mãe! Mãe! Vi uma cobra grande entrar na oliveira!
Ela olhou-me e levantou a mão para me bater. Suspirou, não disse nada, e arrastou-me para casa. Mas no outro dia a vizinha também lhe disse que viu uma grande cobra na oliveira, e a minha mãe confessou-lhe:
- O meu filho já me tinha falado disso mas pensei que me estava a mentir. E como ele só faz asneiras não lhe dei atenção.
Elas falaram qualquer coisa que não entendi. De seguida vieram com panos enrolados, atearam-lhes fogo e colocaram-nos dentro do buraco, e ficaram à espera com uma enxada e uma forquilha. A cobra acabou por sair, mas não teve tempo para nada porque a enxada certeira da minha mãe caiu exactamente na sua cabeça, e a vizinha com a forquilha fez o resto do trabalho. A partir daí nunca mais me aproximei da oliveira.

Até hoje nunca consegui entender. E creio que também ninguém se apercebe porque a Humanidade desde que existe – penso ser esta a questão número um – sempre foi a luta contra a fome. E por mais evoluídos que estejamos a fome aumenta. Várias personalidades ao longo da história deram grandes contribuições para se acabar com este flagelo. Vários partidos comunistas de todo o mundo apontavam na sua propaganda, que a fome acabaria para sempre e nós acreditámos e por isso os ajudámos a tomarem o poder.

Com alegria até oferecíamos a nossa vida, porque enfim seríamos libertados para sempre da miséria, e reinaríamos num paraíso eterno. É a mesma conversa das religiões. É por isso que sempre afirmo que entre um partido político e a religião, não existe diferença nenhuma. Ambos nos prometem o paraíso.

Para isso teríamos que conquistar os meios de produção. Esses meios ficariam então ao nosso dispor para sempre, devido à aliança operária e camponesa. Mas a detenção dos meios de produção nas mãos dos operários falhou, porque os engenheiros e intelectuais eram considerados inimigos da classe operária, e sem estes o sistema ruiu por completo, advindo daí uma grande miséria, uma grande fome que até hoje continua.

Depois com o liberalismo e o neoliberalismo da economia e a globalização, as grandes corporações unem-se numa só para comandarem o mundo e outra vez o advento da nossa escravidão. Parece ser sempre assim a História da Humanidade. No fundo acabaremos por depender de uma só pessoa que acabará por governar todo o mundo e a fome aumentará cada vez mais. Mas acho que tudo isso se deve à divisão do mundo em continentes. Não deveriam existir continentes na divisão do mundo, mas apenas um. De qualquer modo as ideologias ajudam a destruir a vida das pessoas.

Mais uma vez adormeci com fome. Acordei devido a uma grande trovoada cujos relâmpagos intensos iluminavam o interior da casa e os trovões faziam tremer tudo.

Alguém bate à porta com força. Como estava cheio de medo, mais fiquei ainda porque no local deserto onde vivíamos, e com a chuva intensa, só poderia ser talvez uma assombração. A minha mãe levantou-se e foi abrir a porta perante o meu terror de quem seria. Só poderia ser um monstro. Que alívio… era a minha avó materna que entrou ensopada:

Image: http://tramagal-geocaching.blogspot.com/2009/10/festas-do-15-de-agosto-de-1954.html

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