terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Epopeia das Trevas (117). Tantas e tantas fardas por todo o lado. Luanda é um gigantesco quartel militar


Sei agora que após a tua despedida da vida
o amor deixa rastos invisíveis, invencíveis
O Taj Mahal e o Mausoléu de Halicarnasso não superam a grandiosidade
desta tua prematura púbis cabeluda, onde anotavas
apontavas, desfloravas qual densa mata do Maiombe

Na eterna espera do teu regresso
talvez estejas a um minuto, ou biliões de anos-luz
num longínquo desconhecido. A distância que nos separa
desse muro cósmico, será nos próximos milénios assegurada
Quando os vindouros proclamarem o ressurgir da vida
do suspenso momentâneo actual
Por aqui cada dia tudo está a ficar demasiado violento
As tempestades, os ventos, ultrapassam as maiores batalhas
Rompem facilmente a História destas muralhas

Eras a minha sinfonia, a harmonia, antes da agonia
outra vez deste mar
Deste colapso esverdear. Até os pássaros deixaram de voar
Secaram tudo. As florestas, os bosques, os rios. Esconderam o encantar
do já nada existe para amar. Tudo está esclarecido, estarrecido
noutra dimensão a pairar. Nos confins da inconsciência
do reduzir outra vez tudo a pó

Outra melodia será universalizada quando este Jesus Cristo acabar
e outro surgir do fundo das águas
Ele está a ser modelado, e desta vez para sempre
será libertado. Não ouvirão parábolas, apenas o seu olhar de compaixão
Para os maldosos, crentes insistentes, não existirá perdão
Grande reconstrução, um gesto e uma bênção

Eras como o pranto dos jasmins, que ainda conservo no mesmo canto
na alcova do nosso recanto. Quando enlevados, abraçados
encalhados na ventania que anunciava os primeiros pingos
da agitação atmosférica próxima. Depois bem regados, enregelados
Como era possível dois desaparecerem e ficar um só corpo?
Ainda não consigo entender, para onde ia
o que acontecia ao outro ser

O meu sonho, os outros sonhos, terminaram
Só os pesadelos começaram, recomeçaram. Não há porvir
enquanto este governo e os seus aliados internacionais
persistirem em nos reduzirem a pó
A seguir o que resta do divino vai ruirá
Perco muito tempo à procura das nossas palavras perdidas
quando revivo o passado no ferro de engomar
Cada peça de roupa retrata momentos dos dias

Depois de tudo terminar, alimentamos o lamentar
Onde tudo começa e acaba só a morte o sabe

Onde estás, para onde fores lembra-te de mim
Há sempre um jasmim. Remodela os nossos passatempos
com novos pensamentos. Encontraste os jardins eternos
dos jasmins. Planta-os, rega-os. Finalmente tens tempo
para encontrar o amor vencido. O paraíso da morte está sempre desperto
no meu desespero de viver ao pé de ti, tão perto
Tarda, mas sei que vai chegar, me vai libertar
E só a morte nos liberta
Aqui continuamos no nascer e crescer desesperados,
acorrentados desejamos galgar as montanhas da feroz ditadura

Quando um simples monte se torna um obstáculo intransponível
Deixamo-nos vencer, obedecer a qualquer voz de comando
E obedientes de medo nunca venceremos, nunca triunfaremos

Tantas e tantas fardas por todo o lado. Luanda é um gigantesco quartel militar

Sem comentários: