Infelizmente é apenas com esta palavra que as pessoas de todo o mundo, que trabalham nas áreas de saúde respondem. Habituaram-se demasiado às leis da morte. Como se comprassem qualquer produto num qualquer estabelecimento comercial. Parecem saborear com o maior à vontade um bom petisco na companhia de cadáveres. Como se saborear a morte fosse a sua profissão. Será que já perderam os sentimentos? Apenas sentem as pessoas como qualquer objecto que enquanto funcionais são prestáveis? E quando já não servem, o destino é o caixote do lixo, vulgarmente chamado de cemitério. Triste realidade e fim deste perecer.
Abel evadiu-se, afastou-se da realidade. A querida da sua vida… sem ela?! Será engano? Não! Viu, sentiu que ela se despediu do muro de suporte da vida que ruiu. Já não respirava. Lembrou-se que quando deixamos a dinastia da vela vivencial não respiramos. Sentiu a ténue chama que restava da alma do seu amor, já nos idos sempiternos.
Abel! Sonharam-me que descobriria o Caminho. Que tudo me seria revelado. Lamento! Não consegui. Deixo-te os meus últimos suspiros. Vão para ti. Vejo tudo tão escuro, parece noite. Que luar, neste tão estranho lugar! E contudo tão bonito. Vejo alguém muito longe que se apressa. Levita para mim. Abel! Sinto muito medo! Ah!.. És tu! Não te demores. Vêm meu ardor. Acolhe-te nos meus braços ainda abertos. Ainda desejava viver muito, mas não me deixaram. Com esta Constituição não deixarão ninguém viver. Apenas nos resta o sono do sonho eterno da nossa infelicidade.
Um tremendo fogo interior percorreu-lhe o corpo. A decisão da morte tão cruel para expiar o sentimento de culpa que sentia… a vingança nesta sociedade tão desumana. Uma vingança a este Governo que não os soube acolher. Adquiriu a certeza que assim não adianta mais viver. Mas, não foi ele que cometeu o crime. Infelizmente no reino epidémico é proibido amar. Tudo é proibido. Os nobres têm autorização legal, inquisitorial. Apenas uma coisa não é proibida… a morte. No reino da casa da mãe joana permite-se tudo.
Viver para espoliar e abandonar todos ao reino da fome.
Pegou num recipiente. Foi numa bomba de combustível da Sonangol e encheu-o com gasolina. Entrou em casa normalmente para que ninguém suspeitasse das suas intenções. Fechou-se no seu quarto bem trancado. Ensopou o colchão com a gasolina do nosso desenvolvimento, deitou-se e pegou-lhe fogo. As chamas rapidamente tomaram conta do seu corpo. Entretanto um familiar sente cheiro a fumo.
Tenta abrir a porta do quarto, não consegue. Gastaram-se quinze minutos para derrubar a fortificação. Levaram-no rápido para o hospital. As queimaduras eram intensas. Dificilmente escaparia. Pouco depois veio o fim do que nos resta. O convite da morte que foi atendido. Contente por roubar mais um jovem, transportou-o para o seu abismo eterno. Os últimos momentos foram uma mensagem de esperança para a sua Belita. A quem amou como poucos o sabem fazer. Ao maior, mais puro e único amor da sua vida.
Belita! Estou prestes a consumir-me nas chamas da gasolina da nossa Sonangol e na escuridão dos seus cofres públicos gelados. Onde guardam as fortunas invisíveis, insensíveis que nos conduzem à morte. O meu, o nosso clamor não será em vão. Alguém escutará, redobrará este apelo! Na noite mais sombria dos tempos voltarei, e juntos encantaremos, espalharemos o perfume humano, a esta desumanidade do nosso Amor.
Oh!.. Querida… voltaremos..! Para aniquilar estes tiranos que extinguiram o amor. Vejo para sempre finalmente a tua beleza e o teu amor que me seguem. Vem! Para a nossa morada eterna! Onde não existem noites mas apenas o nosso glorioso Amor. Se fortuna não tivemos nesta Angola a do céu será o nosso tesouro. O teu silêncio será como uma enciclopédia. Ó Glória! Ó Glória! Segue-nos, acampa-nos sempre amor vitorioso, virtuoso. Levo comigo o nosso anel, o símbolo da iniciação dos mistérios do nosso culto, do casamento que inventaram e com a morte nos casaram.
Este enlace que jamais alguém apartará.
Imagem: Luanda e os rendimentos do petróleo
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