domingo, 28 de fevereiro de 2010

Luanda. Avenida dos Combatentes

Via email

Era assim a Av. dos Combatentes



E agora é assim...

Engraçado, até o céu era mais azul!

O FOLHA 8 e a intolerância da Igreja de Angola




O F8 fora de jogo

«Na emissão “Revista de Imprensa” da Rádio Ecclesia, a 12 de Dezembro, coube ao jornalista Rio Alves apresentar o programa; e, por essa ocasião, o contributo do F8 foi para o ar com alguns cortes, curiosamente em certas passagens mais contundentes e, sobretudo, explicativas da matéria abordada.

O resultado foi muito mau. O nosso colega parecia ser um gago que alinhava frases que colavam defeituosamente umas às outras, dando a impressão de discurso sem linha nem agulha, desconexo e de má qualidade. Isto ocorreu no mês de Dezembro e não passou de um episódio pacífico, mas depois disso, as coisas azedaram.

Não compreendemos bem o que se está a passar, mas o F8 foi simplesmente afastado da emissão “Revista de Imprensa”, todos os sábados entre as nove e meia e as dez da manhã. Estamos tristes e desapontados, nutrimos um grande respeito pela rádio Ecclesia e cremos em merecer outro tratamento. Esperamos sinceramente que as nossas relações voltem a ser o que sempre foram, cordiais e de mútuo respeito de um pelo outro.»

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O homem novo made in Angola (Fim)


Mas isto é geral, prática anormal em toda a Luanda. Os incêndios devidos a curtos-circuitos são constantes. Parece existir um prazer mórbido em destruir. Há sim um gozo pela destruição, porque depois são apanhados a rirem. E tudo numa boa. Estes bantus ainda não têm noção do que são leis de convívio social. Ainda seguem escrupulosamente os ensinamentos do maravilhoso, saudoso, Poder Popular.

Angola só se vira para a especulação imobiliária. É o paraíso mundial de tudo o que é especulador. Fantástico o número de empresas de construção civil e de negociatas imobiliárias para meia dúzia de novos-ricos. É simplesmente impossível… é uma aberração incurável. Angola é o país do abandono de trabalho e de passaportes perdidos dos chineses. Como é monstruoso verificar isso diariamente nas páginas do Jornal de Angola.

Até agora ainda ninguém veio a público explicar o motivo de tanto despedimento. Parece claro que só existe uma explicação: invasão dos lugares deixados à força pelos angolanos para os estrangeiros desempregados. Angola teima em não querer sair das trevas.

Exceptuando a recolha do lixo que é exemplar, pelo menos no asfalto da capital, em Angola e em Luanda as únicas coisas que funcionam são a demolição de casebres e um Governo quase com cem membros. E os fiscais do Governo da Província de Luanda que espoliam selectivamente, por exemplo, são ávidos por óculos dos vendedores das ruas.

Para quê não confessar que Luanda vive no contínuo caos económico e social!
Em Janeiro de 2010, a actividade marxista-leninista no derrube da nossa energia eléctrica foi breve, porquê? É fácil de explicar: deveu-se às olimpíadas da laranja CAN 2010, para que os estrangeiros vissem as capacidades do nosso Politburo em construir estádios de futebol e organizar futebóis.

A questão é que dar pontapés na bola qualquer um os dá, agora construir e organizar uma universidade, ler um livro… isso são coisas muito complicadas… de deitar dinheiro para o lixo. Com estádios de futebol, sem universidades e energia eléctrica, e com a nova Constituição, sem arborização e com o fumo dos carros e dos geradores, Luanda é uma cidade irrespirável, envenenada. Luanda é sem dúvida uma cidade do Inferno, onde a incompetência está sempre em primeiro lugar.

Com esta receita que parece saída da feitiçaria, Luanda sobrevive reduzida no pó. O nosso insigne ministro da Indústria, Manuel Vicente, afirmou muito recentemente que vai diversificar a economia com a edificação de diversas fábricas nos também mais diversos sectores económicos. Como é que isto é possível sem energia eléctrica?! É sórdido ver bancos dependentes do funcionamento de geradores. Claro que o serviço prestado é mau e duvidoso porque regra geral não garantem os cinquenta ciclos exigidos pela corrente alterna.

É a impune lavagem de dinheiro do desenvolvimento económico que faz com que Angola mais pareça estar sem governo. E o nosso PIB sobe, está sempre a subir. Sem oposição, o dinheiro usurpado gasta-se em vão. É a prova elementar de que em Angola para alguns, sempre os mesmos, o dinheiro não lhes custa a ganhar. Sem oposição, é espoliar, é espoliar, sem fartar. Não, não é um país, é um palácio, um templo perdido.
Não sabe?! Mas o MPLA não sabe que está a reduzir Luanda e Angola a pó?!

A Ocidente do Paraíso (9). Quando conseguia alguns do Brick Bradford com o seu pião do tempo


Um dia chamou-me e começou a aliciar-me para transportar tijolos para o segundo andar. Em troca receberia algumas moedas, o que para mim parecia ser uma pequena fortuna. Na minha ignorância pensei que pouco demoraria a carregar os tijolos e receber o meu dinheiro. Mas por mais esforços que fizesse a carregá-los, parece que nunca mais acabavam. Vi a aldrabice que me tinha sido feita. A minha mãe quando soube, foi muito aborrecida ter com ele, e disse-lhe se não tinha vergonha de andar a explorar crianças. E que era por isso que estava rico. E porque andava sempre a enganar as pessoas. Como resposta ele apenas se limitou a rir, aquele riso que nos considera a todos idiotas.

Como só apareciam livros de caubóis, continuava na sua leitura. Quando conseguia alguns do Brick Bradford com o seu pião do tempo, deslumbrava-me. Comecei a gostar muito de ficção científica. Entretanto, com os meus amigos fazíamos grandes batalhas de caubóis e índios.
Consegui improvisar um arco de aço muito potente. As flechas eram varetas de guarda-chuvas também de aço. Tornei-me exímio no seu manuseamento, até ao dia que decidi apontar a uma galinha de uma distância considerável. Lancei a flecha e acertei em cheio no pobre animal. Entrei em pânico e corri atrás dela para retirar a flecha, para que ninguém soubesse do sucedido, mas ela parecendo querer incriminar-me fugiu na direcção da minha mãe. Acabou-se o arco e flechas para sempre.

Nas proximidades construíam uma auto-estrada. Alguns amigos disseram-me que tinham feito uma descoberta. Pediram-me para que os acompanhasse. Partimos, chegados ao local havia uma abertura na terra. Um deles tinha uma lata com azeite e um bocado de pano ao qual pegou fogo. Com essa luz improvisada avançámos. Eram grutas escavadas na terra, com algumas ramificações e quanto mais avançávamos mais surgiam. Alguém teve a ideia de marcar os locais para não nos perdermos. Num ponto do trajecto com receio de estarmos perdidos decidimos regressar.

Voltámos lá mais uma vez. Entretanto um dos meus amigos disse-me que encontraram algumas moedas, mas alguém, talvez um historiador ou arqueólogo que por ali apareceu açambarcou-as. Acho que essas grutas serviam para as fugas históricas dos cercos de Lisboa, ou para penetração de forças para o seu interior.

À noite, um dos meus amigos convidou-me para assistir a um filme que estava a dar na televisão. Era o Homem Invisível de Herbert George Wells. Mas tínhamos que ir a outro café que ficava a cerca de dois quilómetros, porque a mercearia próxima já não deixava entrar menores. Lá fomos e chegados ao café deparamo-nos com um empregado a fazer de segurança na porta para evitar que não entrássemos.

A televisão intencionalmente ficava por cima da porta de entrada, e quando o empregado servia algum cliente nós aproveitávamos e víamos o filme aos bocados, porque quando ele vinha enxotava-nos para a rua. Fazíamos o jogo do entra e sai. Para a minha idade o filme tinha muito suspense, deixava-me muito medo. Porque ver uma pessoa invisível a bater noutra, a tirar as ligaduras para ficar invisível, ou quando tirava os óculos e nasciam-lhe dois buracos.

Imagem: http://www.comicsfun.com/comicart/albums/comic_strips/BrickBradford_8_30_70.gif

Rafael Marques de Morais


É um jornalista e pesquisador angolano, com especial interesse sobre a economia política de Angola e os direitos humanos. Em 2000, recebeu o distinto Percy Qoboza Award [Prémio Percy Qoboza para a Coragem Exemplar] da Associação Nacional dos Jornalistas Negros dos Estados Unidos da América. Em 2006 venceu o Civil Courage Prize [Prémio de Coragem Civil] da Train Foundation (EUA) pelas suas actividades em prol dos direitos humanos.


Tem vários relatórios publicados sobre a violação dos direitos humanos no sector diamantífero em Angola, incluindo A Colheita da Fome nas Áreas Diamantíferas (2008), Operação Kissonde: Os Diamantes da Miséria e da Humilhação (2006), e Lundas: As Pedras da Morte (2005), em co-autoria com Rui F Campos.

Malanjino, Rafael é Mestre em Estudos Africanos pela Universidade de Oxford. É formado em antropologia e jornalismo na Goldsmith, Universidade de Londres.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Títulos do FOLHA 8. Edição nº 995. 20 de Fevereiro de 2010


Governo reforça forças militares em Cabinda
Universidade Katyavala. Reitor nomeado bastante contestado e acusado de desestabilizador.
Movimentação de Fundos Angolanos Debatida no Senado Americano
Conselho de Ministros debruça-se sobre a “probidade administrativa”
Mais um investimento de Isabel dos Santos. A Zap milionária com ajuda dos polícias quer “zapar” jornais privados. Um caso (não) único do selvagem Capitalismo moderno.
Le Canard Enchaîné, “Folhinha” anarquista francês
Caso frescura volta à carga. Declarações contraditórias na ordem do dia
O homem novo made in Angola

Indígenas ou gentios. A Luta Continua a Vitória é Certa
Destinos de Angola. U.T.-MPLA condena Burguesia nacional
Cabinda. Angola continua a prender quem lhe apetece
Sociedade anónima II
Benguela pode voltar a sorrir. MPLA coloca 1º secretário na administração Municipal
III República. As consequências das políticas de exclusão social
Golpe “fatal” de um general
Reintegração dos doentes da Lepra preocupa autoridades
Projecto Nova Vida. Problema de água e luz irrita moradores
Que tal o dia dos amantes (?)
PGR condena culpados da morte de Mingota
Folha familiar. Casamento é saudável à vida. Cidadão acusado de abusar sexualmente três das suas filhas. Pequena é violada pelo padrasto.

O OGE-Lei das finanças. A lei dos salários foi votada, para uma Nova Angola
Top Secreto. Presidencialista-Paralamentar. A miséria e um Lamborghini de 300 mil USD.
Guerra total contra a imprensa privada
Angola em crescendo. Longueve há trinta anos sem escola.
Memórias do passado recente. Viriato da Cruz. Mário Pinto de Andrade
Urbanizando. Como interpretar os Planos Directores Municipais?
Bioética, biocombustíveis e fome global

Do outro lado do oceano. Higiene, um assunto constrangedor
Mitosofia. A propósito das origens do reino do Kôngo
Realidade social em Angola é o Fim do Mundo!!!
Na hora da leitura. A morte do “kinguri”
Ciência e educação. A má educação em Angola: uma herança DESPREZÍVEL
Literatura. Prémio Literário António Jacinto em aberto mas pouco divulgado
Carnaval 2010. Unidos do Caxinde, o grande vencedor
Malangatana distinguido com doutoramento “honoris causa”
A língua na boca dos falantes. O “ao” que já virou moda



«A incompetência, a cobardia e a subserviência continuam a florescer»


Afinal o mesmo lixo da História reaparece sempre sob vários disfarces. E assim continuam na navegação agarrados às proas e dirigindo os lemes da riqueza espoliada, acumulada durante gerações e gerações. E criam forças especiais, espaciais e arsenais de seguranças… para se protegerem daqueles que esfomearam. E assim engalanados anunciam sempre espampanantes que os jornalistas são, serão, acordados ou a sonharem, livres para denunciarem os abusos do poder que corrompem as sociedades.

A História é, são, as revoluções periódicas quando o embuste social da fome se torna insuportável.

E para continuarem com o ultraje odiento de nos despojarem de tudo escondem-se no último invento: a democracia. Que outro sistema político implantarão a seguir? Provavelmente clones muito obedientes, democráticos... A CLONOCRACIA!


«“Vê se moderas as críticas”
Foi com a publicação do meu quinto texto aqui no Alto Hama, em 31 de Agosto de 2006 («(Re)flexões (+ ou -) sobre Jornalismo (I)»), que os donos do poder em Portugal traçaram o meu destino profissional. Uns porque são os donos da verdade única, outros porque da verdade única são os donos.

ORLANDO CASTRO ALTO HAMA

Nesses tempos, e já em 2001 na minha página pessoal, bem como ainda hoje, era um acto de suicídio escrever que “se não for possível deixar às gerações vindouras algum património, ao menos lutemos, nós os Jornalistas, para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e cobardia, visível quando a subserviência substitui a competência”.

Quase quatro anos depois, a incompetência, a cobardia e a subserviência continuam a florescer e a sar uma mais-valia decisiva para quem quiser singrar numa relevante parte da comunicação social portuguesa.

“Porque não há (digo eu na minha santa ingenuidade) comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, cá estou mais uma vez (já lhes perdi a conta) a tentar o impossível já que - reconheçamos - o possível fazemos nós todos os dias”, escrevia eu num exercício de pregação para uma classe profissional surda, muda e cega.

Já nessa altura eu interrogava: “Não será este texto um (mais um) exercício de mero suicídio?” Em 2001 era uma dúvida, em 2006 uma interrogação, em 2009 uma certeza e hoje uma confirmação.

Mesmo “suicidado”, continuo a pensar que se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas que o rodeiam é, com certeza, um imbecil. Também penso que se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.

Por não querer ser criminoso fui, com muitos outros, abatido. A bem, acrescente-se, de uma nação cujos dirigentes actuais, tais como os do antigamente, quando ouvem falar de liberdade de expressão puxam logo da pistola.

Acresce, para mal dos nossos pecados (digo eu), que a precariedade profissional de muitos os obriga a aceitar fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar). E mesmo assim...

Ontem escrevi aqui que não há restrições directas à Internet, acrescentando que as indirectas, essas existem e aumentam de volume e são do tipo, “enquanto escreveres no teu blogue o que escreves está fodido”.

Hoje, nem de propósito, recebi mais um “não” a uma tentativa de emprego numa entidade onde, aliás, sou conhecido por durante os 18 anos de jornalismo ao serviço do Jornal de Notícias ter feito vários trabalhos nesse organismo.

De forma particular, um dos responsáveis dessa entidade escreveu-me a dizer: “Eras a pessoa indicada para o lugar... mas essa tua mania de dizeres o que pensas ser a verdade em nada ajuda. Vê se moderas as críticas”.»

Imagem: http://www.imotion.com.br/imagens/data/media/71/8597dino.jpg

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Ocidente do Paraíso (8). Junto à nossa barraca, havia outra também de madeira que servia de mercearia.



CAPÍTULO II
LISBOA

Ficámos alojados numa barraca de madeira. Para entrarmos tínhamos que subir uma escada também de madeira com alguns degraus a ameaçarem ruir. Não demorou muito tempo que caísse nelas. O pulso direito ficou com uma entorse que a minha mãe curou com água quase a ferver e sal durante muitos dias. Banhava-me o pulso, depois colocava uma moeda no osso e uma ligadura para obrigá-lo a voltar ao seu lugar.

Junto à nossa barraca, havia outra também de madeira que servia de mercearia. Os clientes na sua maioria tinham direito a crédito, e passavam os tempos livres a beberem. Via-se que o local fazia parte de uma montanha porque para chegar tínhamos que subir por uma rua íngreme.

Quase a um quilómetro de distância, no início da montanha ficava a rua principal onde existiam algumas casas de tijolo. Havia também uma mercearia com paredes de tijolo que tinha televisão. A cem metros à esquerda uma barbearia que tinha muitas revistas onde passava a maior do tempo a lê-las. Como eram quase todas de caubóis li-as rapidamente. Para ler mais consegui fazer amizade com o filho do barbeiro e esgotei a leitura… não havia mais nada para ler. Quando chovia muito as ruas ficavam enlameadas o que nos dificultava o caminhar.

O meu pai conseguiu emprego na Tap-Transportes Aéreos Portugueses, como empregado de limpeza nos aviões. Começou a trazer várias coisas que eram utilizadas a bordo, especialmente comida e bolos. A fome finalmente acabou para nós. Na televisão passava o filme Danger Man. Para conseguir entrar na mercearia tinha que ser muito sorrateiro, porque o proprietário não queria que ocupássemos espaço em vão. Das poucas vezes que conseguia ver um bocado desse filme de espionagem, quando regressava a casa e como não havia luz, amedrontava-me imenso com as sombras que pensava serem espiões que me queriam matar.

As nossas condições de habitação melhoraram porque o meu pai conseguiu que fossemos morar para as vivendas que estavam bem próximas. Estas já eram de tijolo e as condições de higiene muito melhores. Mas não seria por muito tempo, porque o proprietário ia proceder à sua demolição para construir prédios. Entretanto o meu pai comprou um rádio portátil, o nosso primeiro rádio. Foi uma festa. Até se construiu uma prateleira de propósito só para ele, e a minha mãe fez-lhe uma cobertura de tecido para o proteger. Era tratado como um tesouro do outro mundo.

Soube que a localidade onde vivíamos tinha o nome de Prior Velho. Era um local onde ainda existiam muitas oliveiras. Devido ao êxodo rural, muita gente como nós vinha para os arredores de Lisboa, e as oliveiras a pouco e pouco desapareciam, dando lugar a construções por todo o lado. Mudámos outra vez de casa e fomos para um grupo de três vivendas situadas num cume próximo à mercearia de tijolo.

O proprietário era o mesmo de todas as residências próximas, e já construía mais um prédio junto delas, mas estas também seriam demolidas para construir mais um prédio. O homem apesar de já estar rico, era muito austero. Não bebia, não fumava, comia pouco, andava com roupas pobres, não tinha mulher, apenas uma criada, porque conforme confessava não queria gastar dinheiro com mulheres, e dormia nos prédios inacabados para poupar.

Imagem: construção da igreja do Prior Velho
http://www.paroquia-sppv.pt/fotos/construcao_igreja/Foto_06.jpg

O homem novo made in Angola (2)


E continuando sem oposição, os bárbaros apoderam-se do império da Constituição. Isaías Samakuva, é o Presidente da UNITA. É o Waterloo da oposição angolana. Que decepção a sua intervenção na Rádio Ecclesia no dia 10 de Fevereiro. Que pena não existirem cursos de formação para a nossa oposição. É por isso que José Eduardo dos Santos apresenta sempre aquele seu sorrido à Mona Lisa.

É que nem uma manifestação, por mais insignificante que seja., conseguem fazer. Permanece a infantilidade, a desculpa da fragilidade oposicionista de que o regime não autoriza, que proíbe. Com proibição ou não, terá que haver manifestação. Onde é que já se viu oposição sem manifestação?

A verdadeira oposição ao regime continua no partido da energia eléctrica. E a ANGOP e Luanda irão pelos ares. No terraço contíguo onde funciona a ANGOP, são nove geradores potentes e mais tantos reservatórios de água que são suficientes para provocarem o desabamento da estrutura que os suportam.
Basta um gerador incendiar, é a coisa mais fácil de acontecer em Luanda, até porque acontece todos os dias, e por reacção em cadeia lá vai a ANGOP, a Agência Angola Press pelos ares. E como em qualquer local há geradores e respectivo armazenamento de combustíveis, também pela reacção em cadeia lá vai Luanda pelos ares. Não acreditam? Então aguardem!

Luanda. A anarquia interminável da energia eléctrica. Mais um super apagão. 03Fev10 das 23.30 às 00.50 do dia 06Fev10. Com tantos prédios, torres, condomínios, estádios de futebol e outras inúmeras construções, os cabos eléctricos não suportam tal consumo. Mas, o mais importante é a anárquica instalação de aparelhos de ar condicionado potentes sem justificação e os incontáveis liga e desliga das empresas fornecedoras de energia eléctrica que destroem os cabos que transportam energia até às nossas habitações.

E milhares de curiosos que se fazem passar por electricistas. Luanda não tem energia eléctrica. Está tudo destruído como bem compete. E não vale a pena falar qual será a energia eléctrica que alimentará o tal projecto do milhão de casas. E sem quadros tudo se entregará aos estrangeiros e fatalmente virá o regresso ao destino do colonialismo.

Não vale a pena virem com conversas e as ilustrativas politiquices porque isto é irremediável. Não me digam que também para isto é necessário um plano director. Em saudação à nossa nova Constituição, o nosso querido Politburo saúda-nos mais uma vez com grande, colossal, extraordinário, revolucionário apagão marxista-leninista. Há sempre que reforçar, cerrar fileiras em torno do nosso querido Deus Líder para que tenhamos mais prémios destes, mais apagões. E continuaremos muito felizes na sua Graça.

E Luanda desenvolve-se com garrafas de cerveja cheias de óleo alimentar, uma tampa com um furo, uma torcida improvisada. É esta a energia eléctrica desta futura nova Constituição: Reduzir Angola ao pó da escuridão. A besta marxista-leninista regressa em força. E sendo tão maldosos, acabarão na maldade que criaram.

E submissa a oposição condescende. Pouco ou nada mais lhe resta. Está como a religião, é a oposição benfeitora do rebanho da escravidão. Como era de esperar, a actividade marxista-leninista ressurgiu em força… destrutiva como habitualmente nas sobras da energia eléctrica. E tal como num tremor de terra esperam-se muitas réplicas sem iluminação. É mais rentável investir em fábricas de cerveja e similares.

Com a água de borla os lucros são fabulosos. Para quê investir na energia eléctrica! O petróleo é quanto baste. Em memória dos mártires da energia eléctrica e da água, desenvolvamos e reforcemos o marxismo-leninismo. Libertámo-nos do colonialismo e continuamos escravos do marxismo-leninismo.

Os camaradas da EDEL, Empresa Distribuidora de Electricidade de Luanda, repararam, não se sabe quantas vezes, o cabo que se queimou, que está sempre a se queimar, então, como estes bantus são todos electricistas, um deles mexeu nos condutores eléctricos da escada do prédio e incendiou. Ainda se nota o cheiro característico do queimar deixado pela energia eléctrica. É a vigésima vez que este electricista bantu incendeia o prédio.

Vivam os apagões do marxismo-leninismo!


Viva o marxismo-leninismo! Ontem, 23 de Fevereiro, dia da graça de Nosso Senhor, o Politburo escureceu-nos com mais um corte de energia eléctrica dos 19.08 às 02.44 horas.

Estão-me a dar cabo da vida. Não consigo fazer nada. Neste momento não sei o que fazer. Quero fugir daqui, já! Mas pensei melhor: vou aguentar até ao máximo que puder. Alguém tem que narrar os acontecimentos. É que me sinto como um correspondente de guerra numa sinistra frente de batalha. A miséria já me bate na porta com estrépito, já se anuncia, é uma coisa certa.

As crianças invadem massivamente os hospitais devido à onda de poeira das obras anárquicas do MPLA. Parece que querem ultrapassar a China em poluição, ou já lhe passaram à frente. O que é natural porque em desgraças não existe melhor que este MPLA. Estamos na Coreia do Norte ou quê!

Acho que sim! Os marxistas-leninistas são todos iguais. A palavra de ordem é: matar tudo à fome!
Esfomeados angolanos! As sepulturas do MPLA esperam-vos! E a hipocrisia da Igreja abençoa-os.

Este MPLA está a exterminar a população. E a trampa da oposição petrolífera devia fazer já uma manifestação, outra, outra e mais outra até o fazer espernear, ao maquiavélico, estalinista MPLA. Mas são todos a mesma porcaria. É por isso que o outro disse, o mais velho Hermes: «O que está em cima é igual ao que está em baixo.»

Receio que a Europa mais o seu aliado natural, os EUA, apoiem o plano de extermínio em curso da “negralhada” angolana. E como está na moda o extermínio de populações…

Não quero ouvir falar mais em MPLA!
MPLA o mata tudo! MPLA o partido dos tótós!
ESTE MPLA TRANSFORMOU-SE EM DEMONÍACO!

Imagem: FOLHA 8

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Homem Novo made in Angola (1)


«Um dos sonhos mais belos que nos trouxe a brisa forte da independência foi o de ser possível construir um Homem Novo.
São precisos Homens Novos para construir o Homem Novo.»
In http://reflectir-angola.blogspot.com/2008/08/o-homem-novo.html

O prédio infestou-se para a festa. Normalizado pelo não esgotado e constante esgoto que escorre fezes e outras porcarias dos seus indecorosos moradores. Não parecem incomodarem-se nem cansarem-se convictos de que a companhia é a mais agradável possível. Imitam com o maior à vontade disponível a pocilga porcina.

Serviram-se do aniversário de uma criança para festejarem o acontecimento. E engalanaram o prédio com cagalhões que dançavam, melhor, estremeciam pela mais horrível e barulhenta música. Nos prédios contíguos, paredes, janelas e vidros pareciam a todo o momento desfazerem-se. Era intencional porque a malvadez e a idiotice ganharam foros incomuns. Os convidados chegavam dignos de uma feira de vaidades. Antes, no lugar de lhes estenderem um tapete, ou algo assim, colocaram-lhes pedras para que caminhassem seguros sobre os cagalhões e o molho nauseabundo. E todos riam altissonantes… livres.

O que importa é festejar seja lá o que for, onde e como se desentender. No prédio ao lado um engenheiro conseguiu rapinar um alicate para reparar a falta de uma fase. Puxou os condutores eléctricos, ligou-os e passados minutos começou a cheirar a queimado. Ouviram-se pequenas explosões e o prédio mergulhou na escuridão. Alheio, o prédio da festa aumentou terrivelmente o som das suas poderosas colunas sonoras. Já tresandava a álcool e os pequenos cérebros das criancinhas já com certeza não existiam, destruídos pelo infernal som. O mais importante é produzir bocós, fábricas destas não faltam, abundam intermináveis.

E disse o Senhor da Constituição. Haja luz… e Angola ficou às escuras. E o Senhor da Constituição criou os grandes tubarões para nos desfalcarem, espoliarem e devorarem. E viu o Senhor da Constituição que era bom. E os abençoou dizendo-lhes: frutificai na corrupção, multiplicai-vos e enchei os nossos cofres. In Génesis angolano.

Angola já não existe. Pode ser que Platão a descreva na sua Atlântida, e ela renasça em mais um mito, uma lenda. E os vindouros interrogarem-se: «Mas Angola existiu realmente ou foi uma invenção de algum sonhador? Se realmente existiu onde seria a sua localização? Nos Açores, nas Fossas Marianas ou algures no Golfo da Guiné? Pode ser que se encontrem vestígios dessa extraordinária civilização que desapareceu misteriosamente.» A História passada, actual e futura, é o palco onde os mesmos actores continuam a representarem muito mal os seus papéis.

Oh! Faz como o nosso Chefe, não ligues! No fundo é um povo que parece gostar da farda do antigo colonizador e do fardo da nova Constituição. O povo angolano está maratonado. Os miseráveis atingiram tal desenvolvimento económico e social, que os únicos bens não espoliados, por isso naturalmente adquiridos, são os caixotes do lixo.

Ah! Este petróleo angolano das companhias petrolíferas e do nosso Politburo. Deste povo não é com certeza. Povo do petróleo desterrado, sem direitos e ainda espoliado. E onde há muito petróleo extraem-se muitos casebres. É um petróleo virtuoso, académico, porque de esfomeados. Enquanto os especuladores financeiros e imobiliários dominarem o mundo, nunca teremos paz. É extremamente importante cercar tais monstruosidades que na tamanha miséria e fome nos abrigam. Acabemos com eles o mais rápido possível… antes que eles acabem connosco.

Imagem: FOLHA 8

Luanda. O reforço do Poder Popular neste parque Jurássico


Finalmente a energia eléctrica colapsou, faleceu. O governo distancia-se, desintegra-se, apaga-se.

Começa a ficar hábito a falta de luz por períodos de horas e dias. A actividade das BDE, Brigadas da Destruição da Electricidade activaram-se em saudação ao Poder Popular. Depois dos homens da EDEL, a Empresa de Distribuição de Electricidade de Luanda, reparar mais uma vez a energia eléctrica, um boçal da BDE devidamente enquadrado no processo revolucionário ainda em curso, outra vez aplicou-lhe lastro e curto circuitou uma fase do prédio. Novamente o mesmo… aiuéééééé!!!! O prédio está a arder!!!

Colocado perante o facto ardente, o boçal esclarece com a habitual genialidade que não foi ele… foi a electricidade. Não tem noção de responsabilidade e muito menos de propriedade. É este o tal homem novo.

São estes boçais que reinauguram neste tempo outra escanzelada revolução: incendiar, destruir Luanda é preciso.

Eis o Apocalipse do Apóstolo S. MPLA.

Imagem:
http://universoliterario.files.wordpress.com/2009/10/o-parque-dos-dinossauros11.jpg


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A Ocidente do Paraíso (7). O meu tio insistia que a língua Esperanto deveria ser a língua universal.


«O Tramagal é uma terra privilegiada. A paisagem envolvente é duma extraordinária diversidade e é sem dúvida uma mais valia, que bem aproveitada, poderá ter uma enorme importância para o desenvolvimento económico da Vila.» In tamagal.blogspot.com/

Quando me aproximei da saída da floresta ouvi alguém gritar pelo meu nome. Era a minha avó que decerto preocupada com a minha ausência temia o pior. Receoso respondi ao seu chamado e quando se aproximou de mim pegou-me pelas orelhas e quase me arrastou. Tirou um dos tamancos e bateu-me bem até quase se cansar. Fui-me deitar com o rabo bem dorido.

De manhã, a minha mãe e a minha avó muito preocupadas disseram-me para nunca mais ir para esse local, para brincar apenas ao pé de casa, porque mais para longe lá na floresta era muito perigoso, e que as outras pessoas também tinham medo. Falei-lhes do que vi na clareira, lá muito no fundo da floresta. Olharam uma para a outra, e limitaram-se a responder que nunca mais fosse para esse local, porque aí era morada do demónio. Por mais que tentasse saber nos dias seguintes o que ali se passava, nunca ninguém me explicou nada, mantinham-se sempre no silêncio.

Já tínhamos mais algo para comermos, porque a minha avó começou a vender tremoços, e como sempre nunca se esquecia de nós.
Durante este tempo, o meu pai andava por Lisboa a tratar de arranjar melhores condições para nós. Depois de chegado levou-nos de visita ao meu tio no Tramagal. Era proprietário de uma barbearia, e pelo caminho o meu pai dizia que ele era um grande comunista, e que tinha muito medo de falar com ele, porque arriscávamo-nos a sermos presos. Nunca consegui saber se era militante ou não, apesar de o meu pai dizer que mantinha reuniões com os comunistas na sua casa.

Mas pelos diálogos que mantinha, notava-se que tentava aumentar os adeptos do Partido Comunista Português. Chegados à barbearia fomos recebidos pelos meus tios e pela minha prima Belita. Enquanto o meu pai se sentava na cadeira para o meu tio lhe cortar o cabelo, ele de imediato diz-lhe que ouviu na Rádio Moscovo que os comunistas de todo o mundo deveriam unir-se para acabar com a exploração do homem pelo homem. E que Salazar deveria deixar o poder porque Portugal estava muito atrasado. O meu tio insistia que a língua Esperanto deveria ser a língua universal. Assim o comunismo seria mais facilmente entendido em todo o mundo. Tentou oferecer um exemplar impresso em esperanto ao meu pai que o recusou de modo brincalhão:
- Nunca mais chove!

Enquanto a minha mãe conversava com a minha tia, os meus anseios eram para a minha prima Belita. Subi as escadas e encontrei-a a estudar. A primeira coisa que fiz foi pegar nos seus livros e fugir. A perseguição dela, os gritos e depois o choro nervoso alertaram os meus tios. Devolvi-lhe os livros cheio de prazer por a ver sofrer.
Não demorámos muito tempo, despedimo-nos enquanto o meu pai anunciava que iríamos brevemente para Lisboa. Terminou com a sua habitual frase:
- Nunca mais chove!
Durante mais uns tempos permanecemos no Crucifixo, sempre com a fome na nossa companhia. Até que o meu pai finalmente chegou e fomos para Lisboa.

Imagem: tramagal.blogspot.com/

Angola, o suicídio ou os sequestrados da Constituição (Fim)


Infelizmente é apenas com esta palavra que as pessoas de todo o mundo, que trabalham nas áreas de saúde respondem. Habituaram-se demasiado às leis da morte. Como se comprassem qualquer produto num qualquer estabelecimento comercial. Parecem saborear com o maior à vontade um bom petisco na companhia de cadáveres. Como se saborear a morte fosse a sua profissão. Será que já perderam os sentimentos? Apenas sentem as pessoas como qualquer objecto que enquanto funcionais são prestáveis? E quando já não servem, o destino é o caixote do lixo, vulgarmente chamado de cemitério. Triste realidade e fim deste perecer.

Abel evadiu-se, afastou-se da realidade. A querida da sua vida… sem ela?! Será engano? Não! Viu, sentiu que ela se despediu do muro de suporte da vida que ruiu. Já não respirava. Lembrou-se que quando deixamos a dinastia da vela vivencial não respiramos. Sentiu a ténue chama que restava da alma do seu amor, já nos idos sempiternos.

Abel! Sonharam-me que descobriria o Caminho. Que tudo me seria revelado. Lamento! Não consegui. Deixo-te os meus últimos suspiros. Vão para ti. Vejo tudo tão escuro, parece noite. Que luar, neste tão estranho lugar! E contudo tão bonito. Vejo alguém muito longe que se apressa. Levita para mim. Abel! Sinto muito medo! Ah!.. És tu! Não te demores. Vêm meu ardor. Acolhe-te nos meus braços ainda abertos. Ainda desejava viver muito, mas não me deixaram. Com esta Constituição não deixarão ninguém viver. Apenas nos resta o sono do sonho eterno da nossa infelicidade.

Um tremendo fogo interior percorreu-lhe o corpo. A decisão da morte tão cruel para expiar o sentimento de culpa que sentia… a vingança nesta sociedade tão desumana. Uma vingança a este Governo que não os soube acolher. Adquiriu a certeza que assim não adianta mais viver. Mas, não foi ele que cometeu o crime. Infelizmente no reino epidémico é proibido amar. Tudo é proibido. Os nobres têm autorização legal, inquisitorial. Apenas uma coisa não é proibida… a morte. No reino da casa da mãe joana permite-se tudo.

Viver para espoliar e abandonar todos ao reino da fome.
Pegou num recipiente. Foi numa bomba de combustível da Sonangol e encheu-o com gasolina. Entrou em casa normalmente para que ninguém suspeitasse das suas intenções. Fechou-se no seu quarto bem trancado. Ensopou o colchão com a gasolina do nosso desenvolvimento, deitou-se e pegou-lhe fogo. As chamas rapidamente tomaram conta do seu corpo. Entretanto um familiar sente cheiro a fumo.

Tenta abrir a porta do quarto, não consegue. Gastaram-se quinze minutos para derrubar a fortificação. Levaram-no rápido para o hospital. As queimaduras eram intensas. Dificilmente escaparia. Pouco depois veio o fim do que nos resta. O convite da morte que foi atendido. Contente por roubar mais um jovem, transportou-o para o seu abismo eterno. Os últimos momentos foram uma mensagem de esperança para a sua Belita. A quem amou como poucos o sabem fazer. Ao maior, mais puro e único amor da sua vida.

Belita! Estou prestes a consumir-me nas chamas da gasolina da nossa Sonangol e na escuridão dos seus cofres públicos gelados. Onde guardam as fortunas invisíveis, insensíveis que nos conduzem à morte. O meu, o nosso clamor não será em vão. Alguém escutará, redobrará este apelo! Na noite mais sombria dos tempos voltarei, e juntos encantaremos, espalharemos o perfume humano, a esta desumanidade do nosso Amor.

Oh!.. Querida… voltaremos..! Para aniquilar estes tiranos que extinguiram o amor. Vejo para sempre finalmente a tua beleza e o teu amor que me seguem. Vem! Para a nossa morada eterna! Onde não existem noites mas apenas o nosso glorioso Amor. Se fortuna não tivemos nesta Angola a do céu será o nosso tesouro. O teu silêncio será como uma enciclopédia. Ó Glória! Ó Glória! Segue-nos, acampa-nos sempre amor vitorioso, virtuoso. Levo comigo o nosso anel, o símbolo da iniciação dos mistérios do nosso culto, do casamento que inventaram e com a morte nos casaram.
Este enlace que jamais alguém apartará.

Imagem: Luanda e os rendimentos do petróleo

Jornal de Angola, 05 de Fevereiro de 2010


Porta-estandarte do marxismo-leninismo e órgão oficial da nova Constituição

Marcelo Rebelo de Sousa. Constitucionalista português elogia o trabalho dos técnicos.

Comandante reafirma compromisso dos militares. FAA trabalham para a manutenção da paz.

Governo quer atingir a auto-suficiência alimentar

Antigos combatentes recebem apoios em Benguela

Tribunal começa julgamento de antigos comandos Búfalos

Cabinda é das províncias com maior número de obras sociais. Novos edifícios habitacionais em Chibodo. Empreendimentos na província são uma referência de nível mundial.

Editorial. A base da democracia. É no debate e na democracia que se funda o Estado de Direito.

A política externa de Angola na nova Constituição. Com a nova Constituição fica definitivamente encerrada a possibilidade de instalação de bases militares estrangeiras em território nacional.

Crédito avaliado em 350 milhões de dólares. UNACA reforça capacidade produtiva.

Engarrafadora Pepsi Bottling regista ligeiro aumento de lucro

Relatório da Save de Children. Governo angolano deve criar leis para punir quem castiga crianças.

Kwanza-Sul. “Água para todos” abrange municípios

Província da Huíla. Autoconstrução dirigida já tem material

Casas sociais no Kuando-Kubango. Fraca adesão da juventude preocupa autoridades locais.

Menongue. Protecção civil criou um espaço para alojar as vítimas da chuva

Imagem: Luanda infestada pelas sobras do petróleo












sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dinossauros petrolíferos


O vulcão marxista-leninista entrou em erupção. Despertou muito violento e obriga-nos a montar na sua lava. E já no poder cinquentenário vive primorosamente sem oposição. Sim, sem oposição! Se não são capazes de fazer uma manifestação alegando que o regime a proíbe… Mas é claro! Um regime ditatorial sempre proíbe manifestações. É isso que o caracteriza. E compete à oposição desafiá-lo, enfrentá-lo com manifestações. Se não conseguem, são incapazes, então demitam-se e entreguem-se, rendam-se ao soberano José Eduardo dos Santos. E qualquer outro que se lhe confronte o poder no seu saco a rebentar de milionário compra-o, corrompe-o, porque a sua lava é perene, uma enchente petrolífera.

E para provar a sua força esmagadora, o seu Politburo espolia-nos a energia eléctrica. Hoje 19 de Fevereiro lançou-nos o seu hediondo terror das 02.00 às 16.15 horas nas trevas da escuridão. Sempre sem justificação, porque somos como carneiros. Como se fosse possível um reino subsistir apenas com geradores. Isto é tudo tão habitual, tão selvagem que nunca sabemos o porquê que suas majestades nos inibem do mais elementar da sobrevivência: a energia eléctrica e a água.

A incompetência popular generalizou-se. Há que chamar os brancos ou amarelos para reparar estes males da nova Constituição subserviente que colapsam sem solução.

Não é com o regresso das BPV, Brigadas Populares de Vigilância que a teimosa permanência do poder nos ilude com a caça de milhões de dólares rapinados pelos fidalgos da nomenclatura, enquanto os príncipes continuam sorridentes de intocáveis. Que os desvios dos milhões de dólares começaram em 2010, e que afinal já vêem de 2007.

Que puro e ledo engano: já vêem de 1975, e é fácil prová-lo. Na realidade à falta de um mapa contabilístico que prove os tais cento e trinta e sete milhões, permite-se facilmente especular que serão um bilião ou mais. Assim justificam-se os 137 e os restantes entram no tal Real Saco… criando mais uma manobra de diversão, porque papalvos por aqui não faltam.

É uma espécie de imprevisibilidade, isso da terceira República e da nova Constituição. Há o risco do colapso, ou já o atingimos?!

Há uma incompetência provada para gerar serviços de manutenção. Tudo se desfaz em bocados, já pouco resta da estrutura portuguesa que nos permite ainda ir vivendo. Muito brevemente nada restará. Já não temos tangas, nem arcos nem flechas. Terão que se importarem. Os brancos ou amarelos têm que regressar em força contratados para manterem o que resta das estruturas coloniais e actuais ainda que construídas ao deus-dará. Sem esta condição é impossível a sobrevivência da teimosia do eterno poder. É que por aqui já não temos ninguém que trabalhe e saiba trabalhar.

O que mais bem se sabe fazer por estas bandas é roubar, beber, andar no mulherio e ostentar brutos popós.

Angola está no último episódio da sua actual vã e vil existência.

Imagem: http://www.revistacriacionista.com.br/fc/Imagens/CapaRC68.JPG

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Luanda finalmente no comunismo primitivo


É isso! Luanda atingiu finalmente os Himalaias da revolução marxista-leninista. Depois da vitória do Poder Popular neste comunismo primitivo, evoluiu e já tem a BJE, a Brigada Jovem da Electricidade, que actua primitivamente nos circuitos eléctricos da ruinosa, da que já foi famosa, cidade de Luanda.

Então, conforme o ultimo relatório da BJE referente à sua actividade eléctrica destacamos: houve mais um apagão no dia 17 de Fevereiro das 19.15 às 22.30. a única fase que funcionava foi-se, apagou-se, queimou-se. Então, diligentemente, a BJE conseguiu improvisar outra fase, e é essa que estamos com ela até agora. Mas a qualquer momento esvai-se.

Entretanto o Politburo abandonou-nos com cortes no dia 17Fev10 das 23.21 às 23.32 horas. E no dia 18Fev10 das 06.17 às 06.44 horas. Certificamos que tudo está conforme os preceitos marxistas-leninistas.

De salientar que o prédio ao lado, devidamente assistido pela BJE, está com os fios eléctricos espalhados por todo o lado. Arrepia passar por ali… a afastar os fios com as mãos. E um deles está coberto por água, onde se vêem nitidamente mosquitos a boiarem, a gozarem a panorâmica.

No cruzamento de ruas mais próximo está uma caixa de fusíveis tapada com… um saco de ráfia. É esta a inovação da manutenção da nossa empresa camarada marxista-leninista, EDEL, Empresa de Distribuição de Electricidade de Luanda.

A EDEL ressalta a sua irresponsabilidade jurando que nada tem a ver com as caixas eléctricas da coluna montante. As caixas que ficam em cada andar e que distribuem energia para os apartamentos.

O pouco que falta dos portugueses ainda resiste heroicamente. Mas a célebre palavra de ordem continua exangue:
É NECESSÁRIO DESTRUIR TUDO O QUE OS PORTUGUESES DEIXARAM!
As hordas selvagens da BJE farão a sua parte. Mais logo não sabemos o que nos espera. Mais faltas de energia eléctrica serão certamente. Decerto a BJE solucionará a questão: umas faíscas para aqui, umas explosões para ali… e pronto, já está.

É apavorante o espírito destruidor neste bantustão Luanda.

Imagem: http://blacksmoker.files.wordpress.com/2007/12/national-geographic.jpg


A Ocidente do Paraíso (6). Pareceu-me que os pinheiros falavam entre si


Numa tarde decidi aventurar-me pela floresta de pinheiros. Andei, andei o mais que pude e não consegui atingir o fim. Pensei que a floresta era interminável. Vi plantas pequenas brancas com uma sombrinha, rodeadas de musgo e outras cinzentas. Apanhei algumas que depois entreguei à minha mãe. Ela assustou-me:
- Não apanhes mais dessas plantas nem as comas, porque algumas são venenosas… chamam-se cogumelos. Os que servem para comer são os brancos, mas mesmo assim alguns são venenosos. Estes aqui são bons para comer fritos ou cozidos, mas quando fores apanhar mais, tens que me mostrar.
Continuando, aprendi a distinguir os que eram bons para comer, até que me fartei e fiquei enjoado. Também havia muitos espargos que fritos eram deliciosos.

Claro que o único local onde me podia divertir era na floresta de pinheiros. Decidi aventurar-me pelo seu mais profundo sem parar. Voltei a andar até me sentir cansado, até ouvir o vento uivar nos seus ramos, até sentir o que nunca antes experimentei, e pareceu-me que os pinheiros falavam entre si. Pareciam vozes humanas a murmurarem que havia um estranho no seu seio. Comecei a sentir medo, a querer fugir receando que estivesse perdido num outro mundo.

Distingui mais para lá um local bem escuro, e pareceu-me ouvir vozes humanas. Pensei que afinal não estava só. Deviam ser trabalhadores que cuidavam da floresta. Aproximei-me e vi uma pequena clareira com luz muito intensa. Vi um senhor de idade avançada sentado numa cadeira, e ao seu redor o que pareciam ser anjos rodeados de estrelas. Tomado de grande pânico iniciei uma grande correria de regresso a casa. Não contei nada à minha mãe nem à minha avó. Nessa noite dormi mal, carregado de pesadelos, com muito medo.

De manhã ao acordar decidi que pela tarde iria ao mesmo local para ver com mais pormenor o que seria aquilo. Atrasei-me, já era quase fim de tarde, o céu ameaçava chuva, mas mesmo assim fui. Quase ao chegar a escuridão veio de repente, do céu desabou uma grande chuvada, e os raios que a acompanhavam iluminavam tudo ao meu redor. Faziam os pinheiros e a vegetação parecerem horrendas criaturas que se moviam, como querendo agarrar-me. Já encharcado até aos ossos vi a tal clareira. A mesma luz intensa mantinha-se, e o cenário também. Consegui esconder-me debaixo da vegetação, o que para além de observar sem ser visto, também me ajudava a proteger da chuva.

Lá estava o mesmo senhor idoso rodeado, do que pareciam ser anjos. Todos tinham auréolas à volta das cabeças, círculos de luz pairavam-lhes, estrelas de luz muito intensa subiam e desciam, e quando estavam prestes a tocar o solo transformavam-se em pessoas iguais às que via em alguns quadros, e que me diziam serem anjos. De repente tudo escureceu. Pensei que fosse por minha causa. Aterrorizado pensei que descobriram o local onde estava. Só tive um pensamento, fugir. Ajudado pelos raios da trovoada que iluminavam de vez em quando a cena, fugi muito rápido, o quanto as pernas me permitiam. Já estava muito escuro devido ao avanço da noite.

Imagem: http://tramagal.blogspot.com/

Angola, o suicídio ou os sequestrados da Constituição (2)


E a vida no laboratório da Belita expandia-se, sentia-se como peixe na água, que crescia, remexia, renascia. Preocupada, mas sempre muito romantizada, como se dos seus lábios nascessem torrentes de jasmins, e o seu perfume incinerasse o seu amado num lago de lágrimas de amores-perfeitos. E insistia desfeita no paraíso do seu amor:
- Abelzinho, beneditino, bendito, meu bento amor… não me sinto bem. Acho que estou com paludismo.
- Vou procurar ajuda.
- Não vale a pena. Com esta Constituição ninguém nos ajudará. Somos apenas jovens que se amam algures num reino perdido do Golfo da Guiné. Quem se preocupa com isso, com jovens? Ainda se de nós jorrasse petróleo! Pensa nisso minha ternura, minha essência pura, e tudo se enaltecerá!
- Confio em ti, na tua raiz celestial, matriz deste amor ainda sob o jugo imperial.

Belita sentiu-se navegar num mar confuso que não lhe corria de feição. Como mangais que oprimem, atapetam a margem da alma marítima da natural protecção. A juventude do seu corpo fortalecido, sempre adequado e programado para saltar qualquer obstáculo, em maré de rosas sempre cuidada, regada, e que no esquecimento se seca, sem rega. Mas que depois recebe a água da vida. Então reergue-se e canta a ária do Coro dos Caídos. Não esquece a representação final ao Criador do amor. A flor com e sem dor, sempre feminina, uterina, apta para a fecundação.

Belita sentiu a sua flor jasmim-manga murchar-se. Apesar de muito aromatizada não conseguia resplandecer. Lançou talvez o último pedido de socorro.
- Por favor… leva-me para a maternidade.
Abel não sabia como lhe obedecer. O que fazer do e no tempo, o que pensar. Sentia o sol apagar-se. Mecanizou-se como adivinho talvez ao último desejo da amada nebulosa.
- Está bem… não deixes o jasmim da nossa primavera da vida murchar.
- Não! A tua fumbalelê nunca murchará. Está rejuvenescida… já rejuvenescia a ecologia. Sempre bem desperta… e para ti aberta.

Chegou na maternidade e entregou-se aos cuidados intensivos. Suspirava, procurava a vida que lhe faltava, e do único que a amava. No exterior, Abel aguardava impaciente. Talvez fosse apenas mais um daqueles trejeitos, um daqueles sintomas que normalmente as mulheres sentem durante a gravidez. O tempo passava, e as notícias, ele sentia, eram desconfortáveis. Sentiu uma faísca no cérebro.

Como se alguém lhe estivesse a enviar uma mensagem. Que estranho... era a primeira vez que sentia tal no seu pensamento. Parecia um pesadelo. Despertou sobressaltado. Não esperou, correu pelas escadas empurrando, não se importando com quem lhe aparecia à frente. Sabia onde ela estava. Estacionou e perguntou desordenado:
- A Belita…
O semblante da médica augurava que o ser de crer não se amoldava. Sentiu-se deslocar para a época glacial. A geografia física entonteceu-o com os seus fenómenos físicos, biológicos e humanos. A médica conseguiu descartar-se:
- Faleceu!

Imagem: Luanda e as promessas das miragens dos revolucionários de acabarem com a miséria das populações

Jornal de Angola, 31 de Janeiro de 2010


Porta-estandarte do marxismo-leninismo e órgão oficial da nova Constituição

Angola fala da aposta nas tecnologias de informação

Medidas contra poluidores aguardam aprovação

Diversos negócios. Água ao Domicilio Atendemos também de noite

Ambiente. Formação de funcionários locais para alterar hábitos dos zairenses

Dundo. Tuberculose mata na Lunda-Norte

Cheias no Cunene. Bombeiros prontos para intervir

Imagem: Luanda enterrando-se na podridão dos caminhos do desenvolvimento económico e social

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Ocidente do Paraíso (5). Oh Meu Deus!.. Tu viste as bruxas ao luar (?!)


Chegados a casa, o meu pai ausenta-se rapidamente, e como eu queria ir no seu encalço, paralisou-me:
- Vai-te embora, vou escrever uma carta ao Salazar!

As horas passavam expectantes, a noite chegou e insistia para o sono. Eu e a minha mãe aguardávamos impacientes que ele chegasse, e como tardava fui-me deitar. A minha mãe ansiosa ficou de atalaia.
Acordei com o barulho. Era o meu pai com a voz cheia de terror, quase que não conseguia falar. Ouvi a minha mãe admoestá-lo de tão preocupada:
- Chegas depois da meia-noite porquê?! E estás assim tão cheio de medo, pareces que vistes o diabo à tua frente!
- Oh Mulher! Oh Mulher!
- Credo homem!
- Oh Mulher! Oh Mulher! Temos que sair daqui… eles viram-me e não me vão perdoar com medo de que eu me queixe deles!
- Mas eles quem?!
- As bruxas… eu vi as bruxas!
- Oh Meu Deus!.. Tu viste as bruxas ao luar (?!)
- Sim, como hoje é lua cheia eu vi-as, mesmo aqui ao pé de nós, naquele pequeno descampado… acho que estavam todas nuas. Eles e elas parece que a fornicarem… quando me viram pararam, fizeram-me gestos ameaçadores, e sabes que eu não quero nada com essas coisas do Diabo. Acho que reconheci algumas pessoas… a nossa vizinha, a sua filha, o marido, muita gente estava lá. Temos que sair daqui!
- Tens razão, temos que sair daqui, porque gente do demónio acabará por nos matar.
Ainda com todos os acontecimentos bem gravados na minha memória, no outro dia todas as pessoas que via ficava com medo, porque os meus pais diziam que as bruxas eram demónios que viviam na Terra para nos matarem, e depois beberem o nosso sangue, e assim sobreviviam. Como os meus pais eram muito religiosos – era tudo religioso – começaram a rezar o terço muito concentrados e com muita intensidade. Depois a minha mãe chamou a minha avó para ajudar nas preces a Deus, para que nos livrasse dessa terrível bruxaria.

Numa carroça de bois que o meu pai conseguiu arranjar, transportámos os nossos parcos haveres e rumámos para uma aldeia próxima de nome Crucifixo. A habitação era pequena mas servia-nos bem. Tinha também um pequeno espaço de terra em frente, e quase no centro uma figueira. Haviam algumas habitações idênticas contíguas que lembravam uma imensa carruagem de um comboio. Eram as habitações típicas dos mais pobres e miseráveis.

Em frente havia um vasto pinhal que se espaçava para muito além, e no seu mais profundo nascia uma verdadeira floresta.
A fome continuava a assolar-nos, de tal modo que nem um pouco de pão havia para comer. A minha avó conseguiu edificar um pequeno forno e começaram a sair os primeiros pães de milho, grandes e pesados. Trazia-nos alguns, e durante meses foram a nossa única alimentação. Crianças para brincar eram raras e assim continuei sozinho. De vez em quando ouvia a minha avó falar com a minha mãe de que tinha havido uma grande guerra, mas eu não fazia ideia do que isso era.

Imagem: Tramagal. O Rio Tejo navegável em 1942
http://tramagal-geocaching.blogspot.com/

Angola, o suicídio ou os sequestrados da Constituição (1)


O homem que não lê bons livros não tem vantagem alguma sobre aqueles que não podem lê-los. Mark Twain

Com a nova Constituição e sem energia eléctrica, Angola será reduzida a pó.
Por aqui não são as Leis da Gravitação Universal que nos governam. É a atracção universal de alguns corpos desumanos. Que insituáveis, nos permanecem nas cadeias dos regimes totalitários. As cadeias dos queridos guias imortais que iluminam os caminhos da fome. Não há condicionantes. Há as condições aprazíveis… só para aventureiros e bajuladores.

Abel e a Belita enamoraram-se e namoravam-se. Não como aqueles que namoram e fazem disso uma mera ocupação para passarem o tempo. Amavam-se para além das montanhas aladas das suas almas. Muito para além da atracção universal duma Constituição que eterniza um santo poder eleito por Deus. Os seus corações eram atípicos. Estavam possuídos pela também espoliação da alta voltagem de Tesla que lhes provocava curto-circuitos amorosos. De tão enlevados, não notaram o logro constitucional do voo da sua nave divina. E nela embarcaram num universo paralelo longe das nossas imutáveis leis desumanas.

Abel presenteava-se com vinte e um anos e Belita com dezasseis. Vizinhavam-se e aproximavam-se muito bem nos dois anos que floresciam como enamorados do amor. O pai da Belita não sabia, saber não podia. Estudavam e assim o futuro preparavam. Abel vivia com um tio que o apoiava, como num mar de rosas imenso.

Distraíram-se e a Belita engravidou. Coisa mais natural e não atípica nos que se amam. Aquele que se dá ao outro, o que recebe o sémen que dizem consagrado, que depois germina como vida premiada, num bonito ou numa bonita, sempre à espera dos ternos e eternos olhares fecundos de carinho que o espreitam antes e depois do brutal contacto com os predadores humanos. Desabrochavam-se no seu amor que já se sentia em maturidade. A responsabilidade que aceitavam do infiel quotidiano da inconstitucionalidade.

Abel muito romântico, cheio de responsabilidade mas amargurado obriga-se a um lamento:
- Querida… acho melhor desfazeres a gravidez.
- Sim… também já pensei nisso meu amor!
- Sabes… alguns remédios que vendem por aí na candonga… acho que são eficientes.
- Já tomo alguns… com a ajuda das minhas amigas… tudo correrá bem. Assim o espero!..
- Concordo imenso contigo. Estudamos, e neste momento não temos condições para suportar um ser que nascerá, e para o qual não temos meios de o sustentar, alimentar. Será mais um esfomeado sem apoio da novel constituição da inconsideração. Quem nos apoiará? Decerto serás escorraçada de casa. Para onde? Para algum casebre e depois os martelos demolidores dos estupores destruírem-no?! E eu?! Que estou na casa de um tio?!.. Deixaremos de estudar. Será o nosso fim… se o reino agendasse uma agenda de consenso nacional… um programa de apoio a jovens como nós, isso seria óptimo, como isso não existe, nunca existirá... até um nobre da universidade real quase a destruiu por causa de uma amante. Não concebo que o nosso ensino possa ser como um passatempo tão enganador, tão desalentador.
Abelzinho… compreendo perfeitamente. As tuas preocupações são a eternidade da fortaleza… da certeza do nosso amor. Apesar de retirar a sementeira do meu ventre, que jurei só a ti pertencer, ele continuará sôfrego de liberdade para nele de novo te exercitares. Planta neste jardim das delícias acolhedor, a semente do nosso universo. Verás depois os frutos saborosos e acolhedores que cairão no paraíso das tuas mãos.

Imagem: Angola e o futuro

Jornal de Angola, 29 de Janeiro de 2010


Porta-estandarte do marxismo-leninismo e órgão oficial da nova Constituição

Banco Mundial prevê para Angola crescimento da economia em 2010. Representante da instituição diz que está a aprender com os angolanos.

Obras do Governo mudam a imagem dos Dembos

Deputados satisfeitos com o desempenho da Comunicação Social no Kwanza-Sul.

Candidaturas abertas. JURA prepara Congresso ordinário

Namibe. Jovens despertam para a formação profissional

Editorial. Deontologia e ética. A Ordem dos Médicos de Angola é uma associação profissional que pode, em parceria com o Estado desempenhar um papel importante no estabelecimento de mecanismos que possam levar os médicos a respeitar escrupulosamente as normas deontológicas.

Curso de jornalismo no CEFOJOR. Consultor brasileiro elogia imprensa

Diversos perdeu-se passaporte chinês em nome de Wang Pin

INAC denúncia casos de violação dos direitos da criança em Luanda

Malange. Produção de café está a renascer nos campos da área de Calandula

Namibe. Preparadas áreas para o cultivo

Imagem: Há duas Angolas: esta imagem é uma delas.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Quem desrespeitou a velha constituição, respeitará a nova? (Fim)



E depois do CAN Orange 2010, outro campeonato segue: o CAN das trevas 2011 e seguintes. O campeonato da caça e eliminação dos feiticeiros da oposição. Mais uma espécie de intolerância civil à vista, ou algo parecido? Quem é escritor do MPLA não é escritor angolano. Quem é jornalista do MPLA não é jornalista angolano. Quem é poeta do MPLA não é angolano. Quem é empresário do MPLA não é angolano.

O povo angolano pode muito bem ser disciplinado, organizado, desenvolvido… mas como parece que não existe ninguém no governo para o ensinar, continuará na anárquica sobrevivência. É impressionante o desprezo com que o MPLA nos devota. Trata-nos como se fossemos lixo, zeros. Vê-se Angola a arder no Inferno. Já não há povo, há sobreviventes deste campo de concentração.

Tão estupidificados, tão anormais, tão bestiais. É como se não existissem, é como se Angola também deixasse de existir. A nova Constituição é um objecto VIP de uso e abuso pessoal. Isto é Angola, é fora de qualquer lógica. E depois um novo governo com tantos ministros, vices e outros disto e daquilo. Uma estrutura pesadíssima de que não há memória.

Na prática todo o Orçamento Geral do Estado vai para toda esta gente, que nada ou quase nada fará. É, pode-se dizer, um governo parasita. Um governo genuinamente africano, angolano. E a Constituição marxista-leninista de 1975 também era democrática. E a nova também o é? E este povo consumido em festas aprovou, não sabe o que é a nova Constituição.

Um casebre não é de certeza. Ah! Angola que te volatilizas sem horizontes, sem esperanças. Que te asfixias num colete de forças… de moribundos, moribunda. Que fizeram tal povo tão animalesco, perdido de selva em selva, perdido de Constituição em Constituição.

No regresso triunfal às cavernas da escravidão, a um altar, uma cruz e uma vela paramentados que nos esperam neste desespero continuado. Nova Constituição e velha Igreja fazem o par ideal. E os sinos tocam a rebate e os pecados ficam sempre perdoados. Pelos dados apresentados é de crer que caminhamos para o fim da nossa civilização. Quem desrespeitou a velha Constituição não respeitará a nova.

E com um governo tão abrangente, tão excessivo, quase com cem componentes, significa que não é um governo, é um sobado, ou outro Vaticano. Com esta estrutura pesadíssima, chumbada, a fadiga dos materiais responde rápida. A estrutura desaba e deixa de funcionar. Depois é uma estrutura que mantém intactos os trilhos do tradicional africanismo.

Que o fingir que vamos mudar, mas continua tudo na mesma… para pior. E com dois OGEs, um para eles e outro para nós. Assim não é governar, é arrasar. É o tal abismo que chama outro abismo. Como aquela anedota bem conhecida de que se espera a confecção do Plano Director de Luanda para a reparar, endireitar. Parece que ninguém nota que Luanda ruma exemplarmente comandada para o suicídio colectivo.

E os nossos intelectuais vaidosos não se cansam de mastigarem as palavras mal condimentadas. Angola já não existe, perdeu-se num principado. Acabem com o funji de bombó que só enche, não alimenta nada. Com este funji os cérebros não funcionam.

Imagem: Luanda, o PIB sobe

A Ocidente do Paraíso (4). É que as coisas vão revolucionando até a pressão rebentar com a caldeira.


- Trago esta comida para vocês, devem estar esfomeados!
- Obrigada minha mãe.
A minha mãe chamou-me para comer. A comida era couve verde cortada aos pedaços cozida com farinha de milho. Comi até não poder mais. Senti-me muito feliz por estar de barriga cheia, e por ter uma avó que não me deixava passar fome.

O meu pai era caixeiro-viajante, percorria Portugal de lés a lés. Transportava amostras de artigos de cordoaria. Tentava obter encomendas para o seu patrão. Deslocava-se numa motorizada até que teve um acidente do qual sofreu várias escoriações. Como o patrão não lhe pagava – e daí a nossa fome – vivíamos na miséria. Nunca recebeu qualquer indemnização pelo acidente.

O meu pai decidiu não mais viajar… e regressou para casa sem um tostão. Curioso é notar que estas injustiças ainda continuam ou até se exacerbaram. Hoje continua vulgar a política de não pagar aos trabalhadores com o apoio discreto ou não de governos que obtêm dádivas muito substanciais do patronato e organizados em confrarias do mal. Governos onde vivem à solta, acobertados em regimes ditos democratas que são autênticos facínoras. Até a imprensa livre conseguem silenciar. Assim não dá. É que as coisas vão revolucionando até a pressão rebentar com a caldeira. Ainda há uma longa caminhada a percorrer ao reencontro dos caminhos da Liberdade.

O meu pai chegou quase como um desconhecido para mim devido às suas longas ausências. A partir daí para onde ele ia eu acompanhava-o sempre. Depois de contar as peripécias porque passou à minha mãe, das quais eu não entendia nada, apenas queria estar ao seu lado. Tudo o mais não me interessava.
No outro dia fui com o meu pai e dois amigos dele à pesca das enguias no rio Tejo. Apanhámos muitas, e quando chegámos a casa a minha mãe fritou algumas e gostei. Estavam muito saborosas.

Depois a fome veio outra vez. A minha mãe levou-me para um ribeiro mais conhecido pelo ribeiro do Caldeirão, onde habitualmente ia de vez em quando com a roupa acumulada para lavar. O trajecto era distante e enquanto ela lavava eu passava o tempo a investigar as margens do ribeiro. Fazia algumas caminhadas e num local de águas mais fundas nadavam muitos peixes, alguns de apreciável tamanho.

Ficava vários minutos a observá-los e tentava apanhá-los com as mãos, mas depressa descobri que escorregavam facilmente. Então tive uma ideia. Peguei nalgumas pedras e quando os peixes maiores se aproximavam da superfície, com muita força atirava-lhes uma pedra… e consegui apanhar três. Quando regressei e mostrei à minha mãe o que trazia, ela não queria acreditar.

No outro dia pela manhã disse-me que o meu pai antes de sair comeu um e os outros dois ficaram para nós. A minha mãe confessou-me que o meu pai se surpreendeu com o meu feito, e que até comentou com os seus amigos. Cheio de orgulho o meu pai levou-me à presença do seu circulo de amizades e disse-lhes:
- Nunca mais chove!
Ao que eles corroboraram:
- Sim, nunca mais chove!
Senti-me um pequeno herói.

Imagem: http://tramagal-geocaching.blogspot.com/2009/10/festas-do-15-de-agosto-de-1954.html