sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Editorial. Porque razão em África os “eleitos” terão de chegar ao ponto de fugir?


Maputo (Canalmoz) - Os ditadores estão a revelar-se aliados naturais entre si. José Eduardo dos Santos, a modos de quem está em desespero de causa, talvez por imaginar que lhe pode vir a ser caro, um dia, semelhante imbróglio, por vontade do Povo Angolano, está com “unhas e dentes” aliado a Lourent Gbagbo, o presidente derrotado nas últimas eleições de 2010 na Costa do Marfim, que insiste em alapar-se ao Poder.
Depois de ter desmentido notícias que davam conta de mercenários angolanos em Abidjan (sede do Governo) caiu a máscara a José Eduardo dos Santos, também ele exímio manipulador do Poder no seu País. Desde promover o reinicio de uma guerra contra a UNITA, em 1991, para não ter de ir à segunda volta das “presidenciais” com quem acabou por conseguir eliminar “em combate” – com a ajuda, saliente-se, dos que até aí eram aliados de Savimbi e dele se descartaram por conveniência de petróleo –; até promover alterações à Constituição de Angola, para que o Povo Angolano seja impedido de votar directamente para eleição do seu Presidente, José Eduardo dos Santos já fez de tudo um pouco, por isso não admira que ande tão solidário com o que ele chama de “presidente constitucional” (Laurent Gbagbo), derrotado nas urnas.
Mohamed Kadaki, que se eternizou no Poder na Líbia, fazendo uso das mais infames manipulações à custa do petróleo, diz que Ben Ali é o presidente legítimo da Tunísia onde o Povo acaba de forçar a fuga precipitada do chefe de Estado que se mantinha no Poder desde 1987, há 24 anos.
Tanto na Costa do Marfim como na Tunísia foram os respectivos povos que desmontaram do poder os algozes. Enfrentando os ditadores os povos disseram NÃO aos abusos e ao saque que faziam de uns, imensamente ricos, e de outros, pobres e esfomeados.
Ficou assim provado, nesses Países, que não existe nenhuma força, de qualquer que seja o ditador, que consiga superar a força de um Povo. Se o Povo quiser mesmo! Entenda-se.
Na Tunísia, as Forças Armadas estão neste momento ao lado do seu Povo a celebrar a vitória da “Revolução do Jasmim” depois dos militares fiéis ao Povo terem combatido “milícias” leais a Ben Ali, estadista que há cerca de ano e meio dizia ter sido eleito com uma esmagadora maioria de cerca de 90%.
Hoje o Povo está na rua a celebrar a Liberdade e até já há um governo de unidade nacional com ministros de vários partidos da oposição. Já há até manifestações com maciça participação popular em que o Povo pede a dissolução do partido do presidente deposto que se habituou a ser o partido no poder.
Os exemplos na História da humanidade mostram bem que não há ditador nenhum que consiga reunir forças suficientes eternamente para impedir que o Povo imponha a sua vontade. Pode levar tempo, mas chega sempre o dia em que a força das armas se ajoelha à força da razão. Nem que seja preciso que os comuns soldados entendam que o poder dos generais vem deles e eles são o Povo em armas para defesa da soberania e da liberdade.
Na Costa do Marfim, o presidente Laurent Gbagbo perdeu as eleições. Em vez de respeitar os resultados manipulou as instituições para continuar a armar-se no líder eterno da Costa do Marfim.
Ben Ali, na Tunisia, também se diz “eleito”, mas certamente que fruto de manipulação de instituições eleitorais, de intimidação, e do uso da riqueza que acumulou no cargo. Não será questionável como se consegue estar no poder 24 anos numa democracia credível?
Tanto Kadafi como José Eduardo dos Santos alegam que Gbagbo e Ben Ali são legítimos presidentes da Costa do Marfim e da Tunísia, respectivamente. Mas a questão é: de onde vem a legitimidade de Kadafi e de José Eduardo dos Santos? Da força das armas? Da força do petróleo?
Da força da razão não é certamente!
Pelo voto, na Costa do Marfim, Gbagbo perdeu claramente. Manipula agora para continuar a governar. Todo o mundo reconheceu Ouattara como vencedor. Ele é o Chefe de Estado escolhido pelo Povo, mas se o Povo da Costa do Marfim não tivesse ido para a rua, será que o Ocidente e os outros países africanos o reconheceriam? Não será que aconteceria o mesmo que no Zimbabwe?
Valha ainda o facto de Alassane Ouattara não se ter vendido como também já temos visto fazerem certos líderes africanos vencedores nas urnas…
Várias perguntas também se devem fazer: O que fará os algozes agarrarem-se ao Poder? Porque quererão os ditadores estar no Poder eternamente? Será para servir os povos ou para que os seus negócios pessoais e da sua clientela continuem bem oleados?
Por outro lado, recordar que tanto Kadafi como José Eduardo dos Santos não foram legitimados pelo voto. Nunca, quer um quer outro, se sujeitaram a escrutínios que terminassem limpos. Que legitimidade podem ter dois senhores que estão na presidência dos seus respectivos países fazendo uso da força e de valores exorbitantes extorquidos aos seus respectivos povos?
Quem não foi legitimado pelo voto nas urnas, em eleições transparentes em seus países, alguma vez pode ter a veleidade de querer ser ouvido em assuntos eleitorais de outros países e ainda para mais vir falar de legitimidade constitucional?
Os senhores Dos Santos e Kadafi não têm realmente nenhuma vergonha na cara. Francamente!
Quererão os senhores Dos Santos e Kadafi transportar a ditadura dos seus países para África no seu todo?
Vimos no Congo, vimos no Zimbabwe e estamos a ver agora na Tunísia e na Costa de Marfim, os mesmos homens sem vergonha a tentarem sobrepor-se à vontade dos respectivos povos.
A pressa com que correm Kadafi e Dos Santos, dois ditadores africanos bem instalados, é sintomático de que estão a sentir o fogo da Democracia chegar-lhes aos calcanhares.
Mas apesar de escandaloso, o desespero dos algozes de Angola e da Líbia é um bom sinal para África e para os Países Árabes.
Os povos começam a perceber o mérito das Democracias e sobretudo começam a compreender que Democracia não é só fazerem-se eleições que se manipulam a bel-prazer, tantas vezes para agradar até a quem fala de Democracia e fecha os olhos às manipulações.
Está, inclusivamente, a acabar o tempo de uns quantos senhores de ditos países civilizados que apesar de se apresentarem como promotores de Democracia não passam de pulhas com “duas faces” e sem vergonha.
Esses próprios senhores têm de começar a perceber que estabilidade não significa ter governos estáveis. Significa ter democracias estáveis. Com respeito pelos resultados nas urnas. E sobretudo com governos que governem de forma transparente.
Os povos sem recursos políticos civilizados para rejeitar quem não querem que governe não têm outra alternativa que não seja recorrer à violência.
Povos que falam, falam, falam e vêem que um determinado governo não resolve os seus problemas, fazem-no cair democraticamente. Em África, com algozes ainda apegados ao Poder não se podem resolver os problemas sem ser mesmo a empurrar. É por isso preciso forçar a que haja respeito pela democracia e pela Boa Governação, e respeito pelo erário público.
Os povos precisam de governos que os sirvam e não se apresentem proprietários dos Povos e dos Países.
Os povos, inclusivamente, têm de acabar com os apoios externos de quem apenas se diz promotor de Democracia para continuar a enganá-los a troco de petróleo, diamantes, madeira, ouro, de tantos outros recursos minerais, e do negócio da ajuda externa.
Os países que se dizem defensores da Democracia e da boa governação – Europeus, americanos e tantos outros – continuam envolvidos nas mais vergonhosas trapaças sem que sejam capazes de levar até às últimas consequências o que dizem defender. Isso tem de mudar. Os exemplos da Tunísia e da Costa do Marfim são bons e mostram que algo está a começar a ser assumido, mas foi preciso os povos não se deixarem manipular. Foi preciso os povos imporem-se. Foi preciso os povos irem para a rua. Foi preciso os povos dizerem BASTA.
Se não fosse a cumplicidade dos ditos “democratas” seria possível os ditadores manterem-se no Poder tanto tempo?
Veja-se o caso da Tunísia. A 25 de Outubro de 2009, Zin El Abidine Ben Ali “foi eleito” por 89,63%. Menos de um ano e meio depois o Povo obrigou-o a abandonar o poder, fugir do País e a procurar a Arábia Saudita para as mais “maravilhosas” férias turísticas do seu mandato. A França, ex-potência colonial não o quis receber, embora o tenha ajudado a sair. Algo realmente começa a mudar no Ocidente que ainda tem de valor os bons costumes que ultimamente até já vem sacrificando para que as “calças” não lhe caiam definitivamente.
Países onde vigoram sistemas democráticos respeitados, com instituições que se legitimam a elas próprias, não precisam do senhor Kadafi – qual vizinho da Tunísia apavorado – ou do Senhor José Eduardo dos Santos, para virem dizer-lhes quem são os presidentes ou os primeiros-ministros, nem precisam que lhes venham perguntar quem é a alternativa. Deve ser a soma dos votos de cada cidadão a resolver isso. De contrário vai-se continuar a ter capitais e colónias.
Mesmo quando acabam de ser eleitos, por vezes os eleitos, em Democracia reais não terminam os seus mandatos. Não chegam ao fim dos mandatos. Mas continuam a viver nos seus países. Porque fogem os que fogem? De que fogem os que fogem? Porque razão em África e noutros continentes com recursos imensos os eleitores continuam pobres e os “eleitos” vivem à grande e à francesa? Porque será que haja o que houver nesses países ricos em recursos as eleições são sempre “justas” e “democráticas”? O custo da corrupção é alto? Alternância custa caro aos corruptores? Transparência governativa é só conversa?
Não terão mesmo de ser os povos a dizer basta, como estão a fazer na Tunísia e na Costa do Marfim?
Porque terão de fugir os tais “legítimos” representantes do Povo? Porque fogem do Povo se a eles realmente não há alternativa como dizem? Porque querem garantias de amnistia todos os que fogem?
NOTA: Apesar do 05 de Fevereiro de 2008 e do 1 a 3 de Setembro de 2010, alertamos que qualquer semelhança com Moçambique é pura coincidência. Porque aqui o povo está feliz com os que esmagadoramente tem vencido eleições. Aqui nenhum vencedor de eleições já se vendeu. Aqui nunca se aldrabaram resultados eleitorais. Aqui tem havido alternância de poder. Aqui nunca os doadores se imiscuíram e nunca perguntaram: “onde está a alternativa?” Aqui é o Povo que escolhe o seu governo em eleições sempre “livres e transparentes”. Aqui a comissão de eleições cumpre sempre a lei. Aqui a comissão de eleições não exclui concorrentes. Aqui o povo anda todo satisfeito. Aqui vivemos num país exemplar. Aqui o Povo ama o seu governo. Aqui o povo tem emprego. Aqui o povo não tem fome. Aqui o povo vive feliz porque tem muitos carros baratos do Japão e do Dubai. Aqui o Povo sabe que o Poder está instalado para seu bem. Aqui é tudo bom…

(Canalmoz / Canal de Moçambique) 2011-01-21 06:41:00

3 comentários:

Anónimo disse...

No facebook tem um movimento chamado movimento anti ditadores e é para angola

Anónimo disse...

Na terra, tudo tem o seu tempo. Felizmente, essa corrente, vai arrasar com todas ditaduras em Africa. O susto é maior para os visados. Vão investir mais milhões para as suas seguranças porém, nem isso vai contrariar o rumo da situação. Tem mais, quando mais esticarem, pior será o fim. Tem se dito que "QUANDO MAIOR FOR A ELEVAÇÃO, MAIOR SERÁ A QUEDA".

Calcinhas de Luanda disse...

Precisamente por serem "os eleitos"!
Quando chegar a hora dos pobres ajustarem contas, se esses eleitos não se puserem a andar... É a vida! Certas coisas tardam mas não falham.