quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Governo encostado à parede. Desmobilizados “assaltam” Ministério dos Combatentes


O ministro dos Combatentes, Mateus Kida, foi obrigado a prometer que até à próxima quarta-feira o Governo vai responder. Hermínio dos Santos respondeu que na “tal quarta-feira não será para negociar, será apenas para saber o dia em que os desmobilizados vão estar frente a frente com Armando Guebuza ou Aires Ali”

Maputo (Canalmoz) - Os desmobilizados de guerra estão decididos a levar a sua “luta” até às últimas consequências. Depois de na última terça-feira terem acampado no parque de manutenção física nas proximidades do Gabinete do Primeiro-Ministro Aires Ali, onde decorria mais uma sessão do Conselho de Ministros a que alguns membros do Governo chegaram disfarçados em viaturas comuns e fingindo não se terem apercebido do movimento, ontem, quarta-feira os desmobilizados decidiram marchar até ao Ministério dos Combatentes, na cidade alta, mais propriamente no cruzamento da Av. 24 de Julho com a Av. Mártires da Machava por onde passaria ainda uma outra manifestação dos “Magermanes” que todas as quartas-feiras se manifestam a reivindicar o que alegam e a que dizem ter direito, “fundos roubados” do tempo que descontaram como trabalhadores na extinta RDA.
Os desmobilizados na marcha até ao Ministério dos Combatentes em luta por uma “reforma condigna” deslocaram-se serenamente e sem provocarem distúrbios mas fizeram-no sob um dispositivo policial colossal e fortemente armado, que o regime montou com a intenção de intimidar o movimento.
Na segunda-feira, véspera do início das reivindicações de rua do grosso dos antigos combatentes, apareceram nos ecrãs da televisão pública os chamados líderes de uma outra ala de desmobilizados que pela sua indumentária se podem distinguir como estando já acomodados.
A ala que está na rua a manifestar-se, liderada por Hermínio dos Santos, já classificou os outros de “vendidos”.
Em frente ao Ministério, os desmobilizados disseram bem alto que “não querem mais máfias” e querem falar com o Presidente da República, Armando Guebuza, ou o primeiro-ministro, Aires Ali, negando qualquer diálogo incluindo com o próprio ministro ou qualquer outro intermediário a quem chamam de “fantoches”.
As reivindicações continuam as mesmas. Dizem que foram usados em diversas guerras e querem ser compensados pelos anos que passaram a combater. Para já querem, sem direito a negociação, uma pensão mensal de 12 mil meticais cada um.
Não aceitam o Estatuto de Combatentes aprovado pela Frelimo na Assembleia da República. Afirmam peremptoriamente que “é discriminatório e favorece os combatentes da libertação nacional com vínculo histórico ao regime da Frelimo”.
Deste grupo de desmobilizados de guerra que está na rua em Maputo a lutar pelos seus direitos, estima-se que seja, em todo o País, composto por mais de 7 mil mulheres e homens.
Segundo o presidente do Fórum dos Desmobilizados, Hermínio dos Santos, não há diálogo possível que não seja com a pessoa do Presidente da República ou o primeiro-ministro. Aliás, agora exigem também a demissão do secretário permanente do Ministério dos Combatentes, Lino Hama, por sinal esposo da governadora da cidade de Maputo, Lucília Hama. Acusam-no de ser o obreiro da maior parte das “trafulhices” em relação aos projectos a que os desmobilizados têm direito por lei. “Os desmobilizados têm o direito a facilidades de crédito bancário para financiarem os seus projectos, mas o secretário permanente, o esposo da governadora, está a burocratizar todo o processo e ninguém do nosso grupo até aqui teve acesso a qualquer crédito. Ele é quem está a burocratizar tudo. Queremos que seja demitido”, disse Hermínio dos Santos.

Ministro sai para falar com os desmobilizados

Perante os protestos à porta do Ministério dos Combatentes, o ministro não teve outra alternativa senão sair e falar com os manifestantes. Prometeu que até quarta-feira dará “uma resposta em relação às inquietações”. Assim o Governo tem agora sete dias para elaborar uma resposta aos desmobilizados. Mas Hermínio dos Santos deixou claro que na próxima quarta-feira não querem negociar. Querem saber o dia e hora em que se vão encontrar com o Presidente da República ou o primeiro-ministro.

Director da PIC vaiado

Recorde-se que na terça-feira os desmobilizados recusaram e vaiaram, no circuito de manutenção física António Repinga, o director da Polícia de Investigação Criminal (PIC), Dias Balate, que quis levar os líderes dos desmobilizados para negociar fora daquele local. Hermínio dos Santos, líder do Fórum dos Desmobilizados, disse ao director da PIC que ele e seus companheiros já não vão mais “cair nas trapalhices do Governo” e caso as suas exigências não sejam satisfeitas, as manifestações irão, segundo suas palavras, “até às últimas consequências”
Ainda na tarde da mesma terça-feira, o vice-ministro dos Combatentes, Marcelino Lipola, foi à rádio pública (Rádio Moçambique) dizer que o Governo quer responder às questões dos desmobilizados, mas “a pensão que eles pedem é muito elevada” e “vão negociar”.
Os desmobilizados já avançaram que não querem negociar antes de ser aceite e estabelecida a pensão mensal de 12 mil meticais.
Neste momento, os desmobilizados abandonaram as proximidades do gabinete do primeiro-ministro e aguardam pela resposta do Governo que, segundo o ministro dos Combatentes, virá na quarta-feira. (Bernardo Álvaro)
Imagem: Maputo, 13 Jun (AIM) – A Associação Moçambicana dos Desmobilizados de Guerra...
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