quinta-feira, 27 de outubro de 2011

“Corrupção em Angola: Um impedimento para a democracia”. – Rafael Marques, activista dos Direitos Humanos


“Corrupção em Angola: um impedimento para a democracia” é o titulo do mais recente artigo divulgado pelo angolano Rafael Marques. No documento ele denuncia irregularidades cometidas por altos dirigentes de Angola.

Pretória (Canalmoz) – O ex-jornalista e activista angolano Rafael Marques deu recentemente uma entrevista a um jornal alemão. Pelo interesse e sobretudo pela similitude de comportamentos com o que se passa em Moçambique, publicamo-la em jeito de pergunta resposta, com a devida vénia:

DW: De que forma é que a corrupção verificada ao nível de altos dirigentes de Angola influencia negativamente a democracia?

Rafael Marques (RM): A razão principal da asfixia da democracia em Angola tem a ver com a necessidade de protecção dos negócios privados dos dirigentes angolanos. Temos estado a ver, desde 1992 que, praticamente, os dirigentes do MPLA têm estado a privatizar o país em seu favor, para o enriquecimento pessoal. Estamos a falar de umas poucas famílias, por exemplo, grande parte dos negócios estão em nome da filha do Presidente da República, outros negócios estão com uma dúzia de generais e ministros. Não há possibilidade de coexistência de uma verdadeira democracia onde haja um poder judicial autónomo e esse tipo de saque que se verifica no país. Porque havendo democracia no país, certamente haverá autonomia do poder judicial e estes casos poderão ser levados a tribunal.

DW: Até que ponto as leis anti-corrupção são porosas em Angola e abrem espaço para a corrupção ao mais alto nível?

RM: As leis são claras. Dizem claramente que é proibido ao dirigente, ao funcionário público fazer negócios consigo próprio enquanto estiver a representar o Estado. Na prática as coisas são diferentes – é uma prática de impunidade. Fazem-se leis muito bonitas, leis que podem ser apresentadas no estrangeiro para dar uma imagem de seriedade do regime, mas a prática é baseada na impunidade que o poder militar, o aparelho repressivo lhes confere.

DW: Perante estas afirmações, que credibilidade tem o poder judicial em Angola?

RM: Não tem credibilidade absolutamente nenhuma. Começando pelo próprio Procurador Geral da República, que também tem negócios particulares e cujas empresas privadas também prestam serviços à própria Procuradoria Geral da República, como menciono no texto. E eu tento explicar isso neste ensaio sobe a corrupção e a democracia em Angola. Um dos maiores artifícios do Presidente para se manter no poder durante 32 anos foi garantir que todos aqueles que têm acesso a um cargo público sejam corruptos e ele tenha provas dessa corrupção, de forma a poder chantageá-los. Então o juiz não pode julgar porque é corrupto e o Procurador Geral da República não pode dar seguimento a uma queixa, a menos que o Presidente autorize, porque também é corrupto. E assim se cria uma cadeia em que a corrupção destrói a possibilidade desta sociedade organizar-se e de ser gerida de acordo com princípios e com valores morais. (Redacção)

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