Canal de Opinião. por Borges Nhamirre
Maputo
(Canalmoz) – Entre quinta-feira e sábado estive na cidade de Nampula. Como
qualquer jornalista iria fazê-lo, fui um atento visitante desta cidade que foi
muito falada nos últimos dias por força dos confrontos entre guardas do
presidente da Renamo e os agentes da FIR.
Aproveitei
a minha estadia em Nampula no máximo. Óbvio que passei pela Rua das Flores,
onde reside o “temido” líder da Renamo. Notei uma tranquilidade surpreendente
nesta rua. O senhor Manhinhe, um funcionário dos escritórios da CEDE (Centro de
Estudos de Democracia e Desenvolvimento) que estão localizados nesta rua, disse
que “esta é a rua mais segura da cidade. Nem os ladrões têm a coragem de vir
aqui roubar”.
Passei
também pela Rua dos Sem Medo, a famosa rua de que tanto se falou nos últimos
dias. É aqui onde residiam os chamados “homens armados da Renamo” até quando a
FIR decidiu atacá-los. Aqui nada vi de especial.
Fui
um apreciador (só isto) atento das “muthianas orera” (mulheres lindas) desta
cidade e pareceu-me que a única coisa de “orera” que há nesta cidade são mesmo
as suas gentes. O resto é uma vergonha.
Logo
ao sair do aeroporto em direcção ao centro da cidade, quando entrámos na
Avenida do Trabalho, o taxista sugere-me para fechar os vidros do carro para
evitar a poeira.
Recusei.
Queria tirar fotografias durante o percurso até ao local da estadia. Até porque
não percebia como iria apanhar poeira se viajávamos no asfalto.
Afinal
o taxista tinha razão. É que o município de Nampula decidiu inovar. Anda a
tapar os buracos nas estradas com areia vermelha. E como os buracos são muitos,
as estradas de asfalto quase que se transformaram em ruas de terra batida. Com
o sol escaldante que faz em Nampula, a areia vermelha seca e o vaivém dos
carros faz espalhar poeira para todo o lado.
Um
pouco por toda a cidade de Nampula, a realidade é esta. A areia vermelha
substitui o asfalto nas ruas e nas principais avenidas da cidade. É assim nas
avenidas de Trabalho, Francisco Manyanga, dos Combatentes. É assim um pouco por
toda a cidade.
É
mesmo uma inovação do edil de Nampula. Se em Maputo o “camarada” David Simango
opta por deixar os buracos nas ruas e avenidas acumularem água das chuvas e dos
esgotos que transbordam em todo o canto da cidade, em Nampula o “camarada”
Castro Namacua encontrou solução para as malditas covas: junta a areia vermelha
ao asfalto e pronto… “estamos a melhorar as condições de vida dos munícipes”!
As cancelas de Tocoli
Há
alguns anos o meu colega Aunício da Silva tinha reportado que o governador de
Nampula, Felismino Tocoli, vedou a passagem pelas ruas que ladeiam o seu
palácio. Bem que foi há anos e eu já tinha me esquecido, mas tive que recordar
e… da pior maneira.
Era
tarde, seguia pela avenida Francisco Manyanga em direcção à intercepção com a
Avenida Eduardo Mondlane. Era um caminhar lento de um desconhecedor e
contemplador da cidade. De repente paro quando me é apontada uma arma de guerra
à cara.
Com
gesto feito pela arma, um agente da FPAI (Força de Protecção de Altas
Individualidades) manda-me descer do passeio. Fiquei assustado. Era a primeira
vez que me era apontada uma arma de fogo na cara.
Depois
de ser obrigado a abandonar o passeio e atravessar imediatamente a estrada para
a outra faixa, presto atenção àquele palácio ao lado. Recordo-me da notícia do
meu colega sobre as cancelas em casa de Felismino Tocoli e entendo, finalmente,
por que razão o agente me tinha apontado uma arma de fogo.
É
que o governador da província de Nampula decidiu que pelas ruas que circundam a
sua residência oficial, ninguém passa. Para isso mandou uns tantos guardas
policiais, fortemente armados, ficar a vigiar os passeios para impedir que
alguém ponha por ali os pés…
Na
verdade, gostava de contar coisas lindas de Nampula, mas não vi muita coisa boa
digna de registo. O resto é o mesmo caos que se vive nas principais cidades do
país. Muitos carros de luxo a circular em estradas esburacadas, quando multidões
de pessoas estão nas paragens à espera de transporte público que não existe; os
transportadores semi-colectivos, com a vista grossa da polícia municipal, vai
encurtando as rotas… Mulheres e crianças a venderem nas bermas da estrada e a
polícia municipal a arrancar os seus produtos.
Enfim,
pude ver que é a mesma fórmula de governação em toda a parte, com a
particularidade de em Nampula a edilidade estar a inovar com os remendos dos
buracos nas estradas e o governador a inovar na criação de cancelas nos passeios
que ladeiam o seu majestoso palácio. (Borges
Nhamirre)
Imagem:
Mas
são menos agora os meninos da rua em Nampula, revela-nos a
polícia.
tribomacua.blogspot.com
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