segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cidade de Nampula. Da areia vermelha nas principais avenidas às cancelas na casa do governador


Canal de Opinião. por Borges Nhamirre

Maputo (Canalmoz) – Entre quinta-feira e sábado estive na cidade de Nampula. Como qualquer jornalista iria fazê-lo, fui um atento visitante desta cidade que foi muito falada nos últimos dias por força dos confrontos entre guardas do presidente da Renamo e os agentes da FIR.
Aproveitei a minha estadia em Nampula no máximo. Óbvio que passei pela Rua das Flores, onde reside o “temido” líder da Renamo. Notei uma tranquilidade surpreendente nesta rua. O senhor Manhinhe, um funcionário dos escritórios da CEDE (Centro de Estudos de Democracia e Desenvolvimento) que estão localizados nesta rua, disse que “esta é a rua mais segura da cidade. Nem os ladrões têm a coragem de vir aqui roubar”.
Passei também pela Rua dos Sem Medo, a famosa rua de que tanto se falou nos últimos dias. É aqui onde residiam os chamados “homens armados da Renamo” até quando a FIR decidiu atacá-los. Aqui nada vi de especial.
Fui um apreciador (só isto) atento das “muthianas orera” (mulheres lindas) desta cidade e pareceu-me que a única coisa de “orera” que há nesta cidade são mesmo as suas gentes. O resto é uma vergonha.
Logo ao sair do aeroporto em direcção ao centro da cidade, quando entrámos na Avenida do Trabalho, o taxista sugere-me para fechar os vidros do carro para evitar a poeira.
Recusei. Queria tirar fotografias durante o percurso até ao local da estadia. Até porque não percebia como iria apanhar poeira se viajávamos no asfalto.
Afinal o taxista tinha razão. É que o município de Nampula decidiu inovar. Anda a tapar os buracos nas estradas com areia vermelha. E como os buracos são muitos, as estradas de asfalto quase que se transformaram em ruas de terra batida. Com o sol escaldante que faz em Nampula, a areia vermelha seca e o vaivém dos carros faz espalhar poeira para todo o lado.
Um pouco por toda a cidade de Nampula, a realidade é esta. A areia vermelha substitui o asfalto nas ruas e nas principais avenidas da cidade. É assim nas avenidas de Trabalho, Francisco Manyanga, dos Combatentes. É assim um pouco por toda a cidade.
É mesmo uma inovação do edil de Nampula. Se em Maputo o “camarada” David Simango opta por deixar os buracos nas ruas e avenidas acumularem água das chuvas e dos esgotos que transbordam em todo o canto da cidade, em Nampula o “camarada” Castro Namacua encontrou solução para as malditas covas: junta a areia vermelha ao asfalto e pronto… “estamos a melhorar as condições de vida dos munícipes”!

As cancelas de Tocoli

Há alguns anos o meu colega Aunício da Silva tinha reportado que o governador de Nampula, Felismino Tocoli, vedou a passagem pelas ruas que ladeiam o seu palácio. Bem que foi há anos e eu já tinha me esquecido, mas tive que recordar e… da pior maneira.
Era tarde, seguia pela avenida Francisco Manyanga em direcção à intercepção com a Avenida Eduardo Mondlane. Era um caminhar lento de um desconhecedor e contemplador da cidade. De repente paro quando me é apontada uma arma de guerra à cara.
Com gesto feito pela arma, um agente da FPAI (Força de Protecção de Altas Individualidades) manda-me descer do passeio. Fiquei assustado. Era a primeira vez que me era apontada uma arma de fogo na cara.
Depois de ser obrigado a abandonar o passeio e atravessar imediatamente a estrada para a outra faixa, presto atenção àquele palácio ao lado. Recordo-me da notícia do meu colega sobre as cancelas em casa de Felismino Tocoli e entendo, finalmente, por que razão o agente me tinha apontado uma arma de fogo.
É que o governador da província de Nampula decidiu que pelas ruas que circundam a sua residência oficial, ninguém passa. Para isso mandou uns tantos guardas policiais, fortemente armados, ficar a vigiar os passeios para impedir que alguém ponha por ali os pés…
Na verdade, gostava de contar coisas lindas de Nampula, mas não vi muita coisa boa digna de registo. O resto é o mesmo caos que se vive nas principais cidades do país. Muitos carros de luxo a circular em estradas esburacadas, quando multidões de pessoas estão nas paragens à espera de transporte público que não existe; os transportadores semi-colectivos, com a vista grossa da polícia municipal, vai encurtando as rotas… Mulheres e crianças a venderem nas bermas da estrada e a polícia municipal a arrancar os seus produtos.
Enfim, pude ver que é a mesma fórmula de governação em toda a parte, com a particularidade de em Nampula a edilidade estar a inovar com os remendos dos buracos nas estradas e o governador a inovar na criação de cancelas nos passeios que ladeiam o seu majestoso palácio. (Borges Nhamirre)
Imagem: Mas são menos agora os meninos da rua em Nampula, revela-nos a polícia.
tribomacua.blogspot.com


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