domingo, 26 de outubro de 2008

Apocalypse Now! Angola, e as falsas perspectivas


A bóia angolana
A crise já chegou à economia real em Portugal e a edição de hoje deste jornal é um bom exemplo disso – a Galp decidiu travar os investimentos em novos mercados e também na área dos centros comerciais há um congelamento de novos projectos.

Pedro Marques Pereira

Em caso de dúvidas sobre a dimensão da retracção económica que nos espera, é preferível ter o dinheiro à mão do que gastá-lo em aventuras, parecem pensar. O problema desta postura é que a travagem do investimento privado ameaça tornar-se no principal contributo para que as profecias mais negras se cumpram.

Obviamente, a escolha de não investir para aproveitar os saldos dos tempos que atravessamos não resulta apenas de um sentimento primário de insegurança, mas de dificuldades muito concretas: a principal é que não está fácil levantar dinheiro no mercado, nem sequer para refinanciar créditos já concedidos, quanto mais para novos gastos. Sobretudo numa altura em que o mundo financeiro, ainda abalado pela crise imobiliária que continua a alastrar nos Estados Unidos, olha agora com preocupação crescente para os castelos de produtos derivados construídos sobre os créditos concedidos às empresas. E se as empresas portuguesas já estavam descapitalizadas antes desta crise, maior preocupação passaram a ter com os custos.

Apesar das nuvens escuras, Portugal até tem condições para sofrer menos do que muitos outros países. O que é preciso é aproveitar as oportunidades. E Angola continua a ser uma das prioritárias. Primeiro, porque continua a ser um dos países que mais cresce em todo o mundo. E apesar de ir previsivelmente sofrer um abrandamento, com a queda brusca do preço do petróleo – a sua principal fonte de rendimento –, continua a ser um dos principais destinos do investimento chinês, como também se explica neste jornal, através dos projectos que Stanley Ho prepara, tanto para Angola como para toda a África que fala português.

A verdade é que, por muito grave e prolongada que esta crise se revele no Ocidente, os chineses vão continuar a consumir e a investir. Podem não chegar para impedir uma crise mundial, como muitos esperam, mas chegarão com elevado grau de probabilidade para suportar a economia angolana e os negócios das empresas que ali estejam. Talvez não sejam suficientes para assegurar as taxas de crescimento do PIB esperadas pelo Governo português. Mas poderão salvar as contas de muitas empresas e a travar uma recessão mais profunda.
http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/editorial/pt/desarrollo/1178032.html

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