terça-feira, 21 de outubro de 2008

Colonato do Consórcio Soares da Costa/ Mota Engil


«Consórcio Soares da Costa/ Mota Engil paga salários de miséria aos angolanos»

«Ah!.. agora vou mais ser escravo dos portugueses?!». Desabafo de um Petrofaminto.
Portugueses exportam miséria, analfabetismo e colonialismo. Em Angola saúdam-se, instalam-se e já desejam fabricar outro pôr-do-sol.
É que eles chegam aqui e não mandam. Com desdém, nos comandam, ordenam-nos com o latente complexo de superioridade, digno de iletrados desconjuntados. Tão naturais, tão analfabetos. Espelham o desastre do povo português à deriva, na nau dos quintos de José Sócrates.

Antes navegavam com as naus e redescobriram-nos. Agora, substituíram-nas por outras metálicas, aéreas, com asas que claro, voam. E chegam rápidos, como num tiro de canhão. E de chegados, já não é em porto franco, é num aeroporto.

Trazem-nos novas bugigangas, o renovar dos ultrajes, e a ciência do mais atrasado país da Europa. Como seria salutar se a Espanha se dignasse provinciar Portugal, e lá colocar um sagaz governador. Porque Portugal deixou de existir, perdeu-se de futebol em futebol.
Assim, os portugueses vão-se tornando párias, inúteis, ciganos errantes, judeus de impossível convivência. Que, onde chegam só fazem merda, bacorada. Que triste ver mais um povo a caminho da extinção.
Gil Gonçalves


Angola, Benguela
Consórcio Soares da Costa/ Mota Engil paga salários de miséria aos angolanos
José Manuel, em Benguela

«Depois de terem apresentado em Setembro uma carta reivindicativa à direcção do consórcio português, onde os trabalhadores exigiam o aumento dos salários e melhorias das condições sociais, foram surpreendidos com uma reunião dia 12 do mesmo mês, onde foi apresentada uma nova tabela salarial já com aumentos mas sem consenso, ao abrigo da Lei nº 20 que prevê negociações com os representantes dos trabalhadores até se chegar a um acordo como afirmou, o primeiro secretário sindical António Segunda e o Secretário Provincial do Sindicato da Construção Albano Kalei.

Fruto da sua inexperiência os líderes sindicais, rubricaram o documento sobre a nova tabela, mas a insatisfação continua. “Fomos obrigados a assinar o documento, mas os aumentos não chegam, a vida está muito cara, o subsídio de alimentação passou para duzentos kwanzas, um prato na praça custa quinhentos kwanzas, às vezes temos que trazer fuba de casa, e como não há emprego temos de aguentar”, lamentou o líder sindical.

De acordo a lei da greve vigente, só depois de seis meses é que os trabalhadores poderão apresentar uma nova carta reivindicativa. Até lá terão que conviver com os actuais salários. Em contraste com os salários dos angolanos, os cerca de 40 portugueses presentes na obra ganham quinze vezes mais. “Nós ouvimos de um dos portugueses que eles ganham três mil dólares mas eles fazem o mesmo trabalho que nós na carpintaria e ferraria”, afirmou o líder sindical para quem uma obra orçada em quase 25 milhões de dólares deveria contemplar salários que dignificasse socialmente os angolanos que nela trabalham.

Sobre esta matéria o Sindicato Provincial da Construção tem insistido junto das empresas do ramo para contratarem fornecedores de alimentação como fez a Odebrecht depois de viver vários movimentos grevistas, para que os trabalhadores tenham refeições condignas.
Segundo Albano Calei os actuais subsídios por algumas empresas como a do consórcio Soares da Costa/Mota Engil, avaliado em duzentos kwanzas, faz com que os trabalhadores na hora do almoço recorram a simples refeição composta por banana, pão e água o que tem estado a originar sérios problemas de saúde devido à intensidade dos serviços a que são submetidos diariamente. Fontes contactadas pelo AGORA sobre o assunto, afirmaram que os salários baixos praticados por empresas estrangeiras em Angola no âmbito da reconstrução do país, são da inteira responsabilidade do Governo angolano.

Para as nossas fontes, as mesmas empresas, em particular as portuguesas, pagam em Portugal salários de base aos seus trabalhadores, incluindo estrangeiros, que vão de 500 a 600 euros e mais de mil para postos de encarregados.

Mas as avultadas comissões e benesses pessoais que auferem os negociadores angolanos nas empreitadas em curso no país são, no entender das fontes do AGORA os responsáveis pelo encarecimento das obras, por um lado, e pelos magros salários dos angolanos, por outro, o que contraria o discurso do governo sobre o combate à pobreza.
Num país onde não existe um sindicalismo forte e profissional, um Tribunal de Contas e outros órgãos fiscalizadores do Estado funcionais e isentos, facilita o comportamento das empresas portuguesas, residindo os seus interesses apenas na salvaguarda dos lucros, acrescentaram as nossas fontes.

A falta de respeito dos encarregados de obras comprovadas no uso frequente de palavras obscenas para com os angolanos é a outra dor de cabeça para o Sindicato da Construção. Recentemente, segundo Albano Kalei, ocorreu um tumulto nas obras da construção da nova ponte sobre o rio Cutembo, no município do Chongoroi, a cargo da empresa brasileira Camargo Correia, onde os trabalhadores locais quase chegavam a agredir alguns encarregados de obras por se terem sentido ofendidos moralmente. O mal-estar assumiu outras proporções devido à intervenção do comando municipal local da polícia.

A nossa reportagem contactou o responsável das obras do consórcio Soares da Costa/Mota Engil para falar sobre o assunto, mas este afirmou que a sua direcção em Luanda estava autorizada para se pronunciar sobre a matéria em causa.
In Agora nº 601 de 18 de Outubro de 2008. Jornal semanário privado publicado em Luanda, Angola.
Imagem: http://www.cpires.com/fotos_de_benguela.html



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