quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A floresta (II). Uma história verídica


Há coisas que nos acontecem e não sabemos explicar se são sonhos ou realidade.

Mais algumas vezes acompanhei o meu pai para o mesmo local. E quando me aproximava do pinheiro grande e dos lírios, lá estava a criança sozinha a brincar. E sempre a mesma correria, a fuga para junto do meu pai. Comecei a pensar que se tratava de uma brincadeira do meu velho, para me meter medo. Mas ele nunca me falou disso e preferi o silêncio.

Muitos anos depois decidi ir só a esse local. Já tinha esquecido a misteriosa criança, e ao pensar nisso ria-me. Achava que eram somente coisas da juventude. No lugar do banco de pinho onde o meu pai se sentava, existiam agora habitações. Ruas asfaltadas, mais habitações, um supermercado, uma taberna que se tornava barulhenta porque servia vinho. Ao fundo da agora vila, viam-se os pinheiros das minhas aventuras. E rumei para lá, na direcção daquele pinheiro grande, se é que ainda existia.
Continuava lá tudo: o riacho, o pinheiro, os lírios, continuavam incólumes e a criança também.

Aproximei-me e vi que não era uma criança normal. Os cabelos e os seus olhos brilhavam com muita intensidade. O rosto apresentava tonalidades de azul muito claro a muito escuro. Parecia que se movia no ar. Perguntei-lhe:
- Quem és tu?
- Aquele que te espera. Eu sabia que aparecerias mais tarde ou mais cedo.
- Não entendo....
- Sou o último anjo que Jesus Cristo enviou à Terra.

Mas quem me mandou vir aqui outra vez? Pensei desandar e nunca mais voltar, mas tinha que dizer algo, antes que a minha mente implodisse.
- Para falar comigo?!
- Sim, tenho que falar com alguém. Ouve o que tenho para te dizer, e informa todo o Mundo. Meu Pai já não lhes acretita mais. Na verdade estamos todos cansados.

Porque não seguem os nossos ensinamentos, colocam pessoas nos governos, que vos governam com a fome, vos matam, vos escravizam. Já não me respeitam. Ao invés de me amarem, preferem, amam os demónios que vos matam. Escolheram a violência para o vosso dia-a-dia. Fazem sexo desordenado e de preferência com crianças. Elegem ditadores, corruptos, assassinos e ignorantes para vos chefiarem.

Nunca nos céus se viu tanta maldade, falsidade, e os vossos filhos e filhas acham tudo natural… um passatempo… assistir a tudo o que se passa no Mundo. E nas vossas televisões passeiam como numa festa, passatempo, divertimento, cadáveres das pessoas, dos vossos semelhantes tombados, mortos, moribundos como um gigantesco cemitério planetário.

Gil Gonçalves

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