terça-feira, 21 de outubro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 (V). Novela


01.10.2008 - 09h52 - Anónimo, lisboa
convem ler outra vez marx com novos olhos para compreender a crise que vivemos ninguem pense que vai ficar imune ás ondas de choque da crise do sistema financeiro alguns dos paliativos escondem as miserias mas abrem novas fracturas nunca a deco trabalhou tanto e por favor comprem uma lupa e leiam as entrelinhas dos vossos contratos
In
Público última hora

O que rouba e mais corrompe, esse é o chefe, o eleito, o exemplo a seguir. Eis como nasce o terrorismo e de quem o alimenta.

O motorista intervém e explica com um sorriso:
- Móbaile é o telemóvel.
Dei-lhe o meu número, ele retribuiu. Já de saída diz a despedir-se:
- Não esquecerei o que fizeste por mim, depois ligo-te do meu móbaile.
O motorista estacionou o carro. Depois ajudou-me a carregar a minha bagagem. Subimos as escadas de um prédio de quatro andares. Parámos no segundo, abriu a porta e convidou-me a entrar. Depois entregou-me a chave e despediu-se:
- O Dr. Elder mora no primeiro andar. Acho que ele já lhe vai ligar para falar consigo.

Fiquei a observar o apartamento. Era espaçoso, bem arejado e bem arrumado. Tinha uma varanda e vasos com flores. Sempre gostei de as ver à minha volta, porque prendem-me a atenção e são muito cativantes. Tinha ar condicionado na sala e no quarto. O frigorífico e a arca de congelação eram demasiado volumosos para uma pessoa. Abri-os e notei que estavam bem apetrechados. Uma pequena despensa repleta com os mais variados produtos completava os gostos de qualquer glutão. A cozinha era ampla e estava impecavelmente arrumada.

Lembrei-me das célebres constantes falhas de luz e água que são o dia a dia dos africanos. Sorri com uma anedota que não me lembrava onde a li. Abriam-se as torneiras acendia-se a luz. Ligavam-se os interruptores saía água. Bom, vamos lá a ver se há água. Abri a torneira do lava-loiça e o líquido veio forte, de um jacto. Esperei uns momentos para verificar se a pressão se mantinha, o que aconteceu. Liguei um interruptor, a lâmpada acendeu. Bom, tenho água e luz. – Murmurei.

Ocorreu-me um pormenor. E quando não houvesse luz? Percorri todos os cantos e terminei na varanda. Não havia gerador. Ah!.. faltava verificar uma última coisa… o telefone não funcionava... tenho o telemóvel. O telefone fará falta para me conectar à Internet… depois falarei com o Elder.

O telemóvel toca. Atendo a primeira chamada que me fazem… é o Elder.
- Já te instalaste? Estás a gostar do ambiente?!
- Está tudo ok. Depois falamos com mais pormenor.
- Daqui a pouco estarei aí.

Devido ao calor tirei o casaco e a gravata. Liguei o ar condicionado. Dez minutos depois deixou de funcionar. Pensei que se tinha avariado. Liguei um interruptor. A lâmpada não acendeu. Creio que era para me habituar. Afinal não estava na Europa. Com tudo atestado de comida e bebida acho que nem valia a pena sair mais daqui. Batem à porta, abro, é o Elder. Não me deixa falar:
- Já sei, não tens luz. Vi pela campainha, não tocou. Mas o que é que tu queres? Isto aqui é normal. Tens que te habituar. Por aqui já podes ver os custos que uma empresa tem para funcionar. Gerador, combustível, e manutenção. Tanque de água, electrobomba etc… custos elevados. Mas não te preocupes que consegui alugar uma parte da Cidadela desportiva. Preparo uma suite e depois mudas-te. Vou lá instalar uma padaria, esse negócio está a dar, temos que aproveitar. Vou criar mais duas empresas, uma para trabalhar em comunicações e informática, da qual serás o director geral. A outra será uma trading. Como vês trabalho não te falta. Amanhã vamos ter uma reunião nos Caminhos de Luanda. Sabes o que é que quer dizer MPLA?
- Sei. Movimento…
- Não! Menos Pão Luz e Água, e Movimento Popular de Luanda e Arredores, porque só investem em Luanda e nos arredores.
- Elder já te contaram a cena que se passou à saída do aeroporto com…
- Já, já me contaram. Isto está cheio de bandidos por todo o lado. Investir já se torna um risco cada vez mais elevado. A marcha para a grande fome final é inevitável.
- Elder, custa-me a entender com tanto dinheiro…
- Os chineses quando são retirados da vida militar, obrigam-nos a tirar uma especialização, e integram-se na vida civil. Aqui desmobilizam-nos e atiram-nos para o olho da rua… entregues à sua sorte. E com tantos despedimentos que fazem, teremos um exército de um milhão de bandidos. Se juntarmos a isso a Sida, a malária, a tuberculose etc. Teremos…
- Mais um Estado falhado.
- Precisamente… tenho que ir. Logo, vamos jantar aí a um bom restaurante. Se te faltar alguma coisa liga-me. Entretanto serve-te. Sei que é aborrecido ficar sozinho, mas isso será por pouco tempo.
Gil Gonçalves
Imagem: http://www.cpires.com/fotos_do_lobito.html

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