quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A origem da grande depressão de 2008 III. Novela




O banco Millennium BCP roubou o terreno das traseiras do prédio 109, na rua Rei Katyavala em Luanda. A Teixeira Duarte SA, da família, executa a obra. Quantos e quantos mais terrenos roubaram? José Sócrates será conivente? E quando estiverem nos tribunais que desculpas darão? O que rouba e mais corrompe, esse é o chefe, o eleito, o exemplo a seguir. Eis um bom exemplo de como nasce o terrorismo. São eles que o alimentam. E não há porque se lamentarem. Tem o que merecem. E se mais roubarem o terrorismo lá estará.


Não sei explicar muito bem porque nunca gostei de comer o que é servido a bordo de um avião. Acho que a confecção apresenta demasiado creme, e isso enjoa-me. Talvez seja por ter um estômago muito delicado. Acho que as companhias aéreas deviam autorizar que cada passageiro trouxesse a sua comida, e em consequência disso o bilhete de passagem podia sofrer uma diminuição.

Do vinho que nos foi servido preferi o Dão Cardeal. Considero que os vinhos do Dão são por natureza demasiado excelentes. A maravilha que os portugueses descobriram. Talvez superior às descobertas de além-mar. Vinhos do Dão, que na realidade deveriam ser considerados vinhos do Deus Dão. Costumo beber sempre pelo menos uma garrafa de tinto de quase um litro de Dão Meia Encosta às refeições. É muito leve, com um tom magnificamente quase imperceptível de amargo. Quase não se sente o seu aroma. Este sente-se depois de ingerido. A sua leveza extraordinária faz-nos deificar o paraíso.

Passados poucos minutos o nosso cérebro extasia-se. As ideias flúem muito nítidas. O nosso cérebro agradece tão providencial relaxe. O nosso coração sente-se protegido, como um medicamento que acaba de ser receitado. A nicotina do cigarro parece atenuar-se. Estes vinhos são um poderoso auxiliar da nossa saúde. Passadas poucas horas os seus efeitos desaparecem. Como se não tivéssemos bebido nada. Ah!.. Meu Deus! Que maravilha de vinhos. Que maravilhoso país que lhes deu origem.

A viagem demoraria aí umas sete horas. Seria percorrida durante a noite. O Elder e o mastodonte já abriam as bocas, forçados pelo sono. Outras vozes pouco a pouco deixaram de se escutar. Apenas se ouvia o sussurrar do pessoal da tripulação. As hospedeiras nestes voos para África costumam dispensar pouca atenção aos passageiros. Notei que evitavam a todo o custo manter qualquer intimidade. Ainda tentei dialogar um pouco com uma delas, mas em resposta apenas levei com um sorriso forçado. Acho que faziam o serviço quase por imposição. Mas no fundo não deixava de concordar com elas. Bastava olhar para a anarquia que reinava no corredor, especialmente alguns sacos que impediam o vaivém do serviço do pessoal de bordo.

O filme a bordo não tinha grande interesse. Acho que a companhia o alugou por um preço ínfimo, talvez para ajudar a que os passageiros adormecessem rapidamente. Pelo contrário, eu não sentia sono. Dei mais uma olhadela para os passageiros. Todos se sentiam cansados, e cada um procurava acomodar-se o melhor possível para uma boa soneca. Recostei-me o mais profundo que era possível no meu assento. Peguei na minha manta, e estendia-a sob o corpo.

Pensei na minha esposa que me disse, que eu já não tinha juízo. Como era possível abandoná-la? A ela e aos nossos dois filhos? Uma menina muito bonita e um rapagão. Instintivamente peguei na fotografia deles. Olhei-a durante uns momentos. Não iria telefonar, acho ridículo perguntar, como estás? Está tudo bem?! Os contactos seriam feitos por E-mail. Creio que é mais prático, porque temos mais tempo para pensar aquilo que realmente queremos dizer. Nunca gostei de telefonar. De repente surgiu-me a imagem de um amigo:

Ele falava-me da teoria dos continentes à deriva do Alfred Lothar Wegener. Este notou que o afastamento dos continentes se encaixava perfeitamente uns nos outros. Mas, o meu amigo dizia-me a sorrir, que a deriva do Continente Negro, não era de origem geológica. Devia-se apenas à deriva económica. Por isso o seu afastamento era mais acentuado.

Lembrei-me do episódio de uma família amiga, cujo filho prestou serviço militar colonial em Angola. Decidiu voltar e ficou em Luanda. Arranjou uma jovem amante. Enviava regularmente uma mensalidade para a sua esposa em Portugal. Com o passar do tempo as mensalidades escassearam, até que terminaram. Não sei explicar como, mas acabou por ser geógrafo, o que lhe permitia um certo desafogo financeiro. Achava que uma só mulher não lhe era suficiente, talvez devido àquele famoso ardor latino, e ao mítico calor sensual que só a mulher negra, angolana neste caso, oferece. Passou a ir a casa da sua amante de vez em quando. Quando aparecia era para a engravidar. Assim, pensava ele, ela não teria filhos de outro homem. O Don Juan português já ia com nove filhos…

Gil Gonçalves
Imagens recebidas por email. O roubo do terreno pelo Millennium BCP, atrás e á frente do prédio.

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