terça-feira, 11 de outubro de 2011

A jangada petrolífera e a conspiração das forças ocultas


A jangada petrolífera encalhou na corrupção.
Com toda a certeza, um navio com um só homem que o comanda, o imediata e o tripula, o fundo do mar está lá à espera de mais um que se afunde, e há sempre lugares vagos.
A primeira mostra de uma autêntica vocação política é, em todos os tempos, que um homem renuncie desde o princípio a exigir aquilo que lhe é inalcançável. Stefan Zweig
Amigo leitor, acompanho com alguma meditação as incursões dos nossos filósofos, e como não podia deixar de ser, aqui vai uma tirada sobre esse tema do nosso Kilimanjaro. Filósofo é o indivíduo que depois de infindável dissertação interior conclui filosoficamente que nascemos, morremos e que agimos conforme os estímulos internos nos acometem e externos que deambulam à nossa volta. E que atingimos a incomensurável verdade quando debruçados sobre as abstracções do infindável Universo, pois que quanto mais vasto a menos conclusões chegamos. E que afinal devido à tamanha pequenez perdemo-nos nos confinados universos. E que afinal o cosmos é a chave da verdade da filosofia. E que em poder dessa chave não conseguimos decifrar a porta, como abri-la. E quando finalmente a porta se desencanta, oh suma descoberta, oh derradeira evidência. A porta afasta-se de nós à velocidade da luz, ela surpreendeu-se, abismou-se porque também procurava a verdade da cosmogonia e decifrou-a: que afinal nós pensamos.
A nossa jangada petrolífera navega agora no mar da hipocrisia da oposição sem posição finca-pé. A hipocrisia destrói países e partidos políticos. Onde a hipocrisia se implanta como num vasto campo de papoilas, é o ópio que inebria e dá a panorâmica visão de um país amargurado, sem esperança, sem futuro, de jangadas à deriva, no mar chumbadas e de chumbo construídas. Mais parecem planos macabros de destruição sistemática, do sentir imenso prazer com o sofrimento dos alheios que nos cercam e em vão aguardam na esperança perdida. Porque quantas mais promessas feitas, mais desgostos se multiplicam. E quando já ninguém acredita, surge o cansaço, como na velhice onde os anos não perdoam. Na política o desencanto de exagerados anos sempre martelados pelas mesmas vozes que se tornam doentias, é claro, a nossa jangada petrolífera desmoronar-se-á numa insurreição geral, porque os seus comandos desmandados apesar dos avisos dos marégrafos, continuam no fingimento de que tudo está na mesma, nada mudou, e avançam, recrudescem na espoliação desenfreada, a cópula insurreccional surgirá, inevitável, só não a vê quem não quer.
Parafraseando: vai a jangada na petrolífera verdura, vai opiada e não segura.
O semanário, O Continente, noticiou na sua edição de 1 de Outubro que um porta-aviões americano jaz ao largo da costa angolana. Claro que se desconhecem os motivos. Mas, será para evacuação dos seus cidadãos e de outros estrangeiros? Protecção dos seus interesses altamente estratégicos? Possível intervenção em caso de larga desestabilização? Vigilância dos movimentos chineses que por aqui nadam como numa invasão? Porque são a vanguarda da continuada força expedicionária da revolução em Angola?
E um dos milhões dos espoliados dos poços petrolíferos, que agora catapultados pelas centralidades e requalificações lembra-se, tem uma ideia genial: E para quando o projecto de requalificação e demolição do governo e a sua transferência para o Zango?! Porque é que os chineses gozam de protecção especial, como se de uma guarda pretoriana se tratasse, será que o são de facto? Os chineses são a continuação da tragédia russa e cubana?
Entretanto, basta olhar para o movimento desumano nas ruas, e facilmente se percebe porque o nosso PIB apresenta resultados sempre positivos. É sim senhor, é deveras extraordinário, exemplar. Enquanto todos os países do mundo soçobram no desastre financeiro global, com falências de grandes bancos à vista, Angola não, sempre imune a epidemias financeiras, mas à desestabilização política e social, não.
Registo aqui alguns bons conselhos do mwangolé Vicente Pinto de Andrade: As pessoas necessitam de liberdades. Somos como as crianças perante os nossos pais: manifestamos o desejo de sermos nós mesmos, de termos a nossa identidade. Só conseguimos ter a nossa identidade quando somos livres e é isto que move a história. Quer dizer que quando falamos devemos ter contenção na língua. Mesmo quando estamos indignados, devemos ter cuidado com a linguagem.
E de José Eduardo Agualusa, referindo-se à obtusa estratégia de Portugal para com Angola. “Tem sido sempre muito tímido. Porta-se, desde sempre, muito mal. A posição de Portugal é de grande submissão ao regime angolano. Agora, mais ainda”. E que a incursão do comércio da “sociedade civil” com Angola, constitui “uma postura idiota”. E aprofundando a sua análise. “Se houve algo que as revoltas na Líbia, no Egipto e na Tunísia nos mostraram, foi que as ditaduras não são assim tão estáveis. E talvez não sejam o lugar mais apropriado onde investir”. “Não há sequer a tentativa de perceber o que se está a passar em Angola. A cegueira é absoluta.”
Vai jangada, segue os teus passos, as passadas do teu destino efémero que, disfarçadas há muito anseiam por ti. Apesar das máscaras que inventaste, que inculcaste na tua face, até ao fim da tua terrena aventura, encerrar-se-á a última máscara da tua desventura. Oh! Só agora, no fim, não desejas perecer, resistes, não queres ir, e no teu derradeiro momento tentas um desumano esforço, reforço do viver. Partes definitivamente e vês o longínquo amor a acenar-te para o afundar do teu Titanic.
O nosso povo sabe o que quer, ele já há muito que escolheu a democracia partidária. Um só povo idiota e um só partido. Cerremos fileiras em torno de um só jornal, uma rádio e uma TV. Contra bilhões de dólares ninguém combate. Não é por acaso que a venda, ou aluguer, da ala do coração da CEAST, onde milita o nosso principal coordenador do comité de especialidade dos comissários políticos nacionais, que nos seus discursos abençoa os caminhos da nossa informação agora no altar imolada e benzida por Deus, o nosso inquisidor Cónego Pandemónio. Não aceitamos, nunca aceitaremos, a imposição da democracia e a liberdade de expressão impostas pelo Ocidente. Um só partido e uma só voz, são mais que suficientes para conduzirem os destinos do povo angolano às tendas dos zangos. Já se esqueceram o que aconteceu aos intelectuais chineses no tempo do camarada Mao Tse Tung? Camarada Vicente Pinto de Andrade, o nosso comité de especialidade de intelectuais é a vanguarda e a retaguarda segura da nossa revolução. Está bem, está bem, já sabemos que o nosso destino é histórico e heróico, porque a nossa sociedade construiu-se e vive na hiper-violência. Paciência, resignem-se, porque ditadura do proletariado é mesmo assim, acaba mal, sempre em tragédia, arrastando milhares de inocentes. Não, não dá, é o inevitável destino de quem governa pela força e pela instauração de um Regime de presos políticos. Aos nossos opositores políticos, nem um palmo da nossa informação. Viva a mediocracia.
Até já no nosso refúgio, especados nos desencantamos. As ondas do mar desafiam a imutabilidade do venéreo tempo, e açoitam-nos com bátegas latejantes. Na verdade, na Natureza tudo se perde e nada se transforma. E as ondas da maresia ultrapassam as mais altas e ousadas protecções humanas no desafio: tudo o que o ser humano projecta e constrói, sempre mais forte, mais poderoso, as ondas das marítimas cavalgadas fantásticas mais se fortalecem, e tão facilmente adentram, deixam escolhos e sorriem para os maus projectos dos homens que se abatem tão sem misericórdia pela procela. É que os humanos persistem no fundamentalismo da matéria, do material. Para que tudo resista à fúria dos elementos é necessária, fundamental, primordial, uma matéria-prima: a fortaleza do AMOR. Edifica os teus projectos com amor e nunca serás vencido. As forças da Natureza te seguirão e para sempre te obedecerão. Medita: o amor é o único vencedor. Pensa nisso.
Não permitam que a banalidade, a barbaridade e a mediocridade tomem conta disto. Senão todo o esforço foi em vão. Porque a deficiência neuronal torna-se tão habitual, tão banal. Desconsegue-se discernir entre o que é real, irreal e imaginário. Os sonhos povoam-se de explosões dos canhões nas populações. Mas os rostos cadavéricos da fome apontam com os olhos o destino fatal de quem nos impõe a ditadura do mal.
O último capítulo da «História Universal da Infâmia» capitula, afasta o ténue tecido de ferro tão perene de ferrugem. Os últimos dias da ditadura contemplam-nos. Mais um cortejo final de ruas atormentadas, morteiradas e de obus desesperadas. Porque o Senhor confia na sua riqueza, nos seus generais dos exércitos privativos que a vitória será certa. Mas o coro das vozes multitudinárias se ouvirá, e a democracia vencerá.
E ouço mais um desventurado do petróleo afundado declamar: Estou aqui tão perto, jamais poderei estar longe. Ou, tão próximo e contudo do petróleo tão distante. Nunca, mas nunca aceitarei que me façam de parvo, e sempre, mas sempre os desmascararei, quer gostem ou não. Quanto ao enunciado pelos nossos não encomendados poetastros, a coerência com opiniões escritas em maiúsculas revela mau gosto, indisciplina, agressividade e falta de respeito. Mais: segundo análises abalizadas, quem escreve em maiúsculas é ditador!
E contudo isso não lhes retira o demérito do frágil intelecto. A sua volúpia pantanosa agora à portuguesa infestada, pois de um pântano se trata sem uma jangada de sobrevivência, nem o português da língua que dizem ser a sabem escrever. Vêem disfarçados do romano Nero. Não poluam as nossas flores, suas abelhas moribundas. Parafraseando Manuel Alegre: isto é uma volúpia pantanosa, e como não sou Batráquio, prefiro tomar um pouco de ar puro.
Que abomináveis homens das centralidades que há dezenas de inglórios anos abalam as estruturas da inexistente rede eléctrica da degradação até à exaustão. Viver sem o mínimo de condições é perecer.

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