sexta-feira, 28 de março de 2014

Luanda. Entreposto. ‘Encalhado’ não vende uma palete sequer por dia







750 grossistas registados divorciaram-se, há muito, do Entreposto, reduzindo assim o volume de vendas. O surgimento de outras distribuidoras e as mudanças comportamentais da população na aquisição de bens podem ditar a falência desta iniciativa governamental, cuja implementação custou pouco mais de 300 milhões de dólares.

Fonte: Agora
Nem a nova política comercial aprovada recentemente pelo Executivo e a reestruturação da sua administração poderá salvar o Entreposto Aduaneiro de Angola (EAA) que, há muito, não cumpre com o seu real papel, passados 12 anos, marcados com fracasso no que à política de abastecimento de bens de primeira necessidade diz respeito, na qual empresas como a NDAD, Angoalissar, Atlas Group e Fabicon, entre outras, lideram o mercado.

A nossa reportagem foi ao Entreposto e constatou que o movimento era monótono para uma superfície que se esperava ser o ponto fulcral na aquisição de bens que compõe a sexta básica para os grossistas que, por sua vez, deviam abastecer os retalhistas em todo o território nacional.
Uma fonte próxima ao departamento comercial do EAA, contactada pelo Agora, revelou que, de há um tempo a esta parte, as vendas têm decaído ao ponto de não se conseguir vender uma palete sequer por dia, o que demonstra um autêntico fracasso no cumprimento dos objectivos do projecto.

"A população está cada vez mais exigente na escolha de superfícies para as suas compras. Antes de se retirar o mercado do Roque Santeiro, as pessoas tinham o hábito de aquisição dos produtos diferente e, depois, tiveram de se adaptar a outros modelos. Além disso, destacamos o surgimento de muitos supermercados e grossistas", apontou.
A nossa reportagem constatou, igualmente, que o saco de arroz de 25 Kgs ronda os 2 mil e 350 Kwanzas; a caixa de frango de 10 Kgs custa 3 mil 260, ao passo que a caixa de galinha rija é vendida ao preço de 3 mil e 900 Kz, uma diferença superior de 50 a 100 Kz, se comparado com os preços praticados noutros grossistas.

Na NDAD, por exemplo, o saco de arroz de 25 Kgs custa 1950; o saco de 50 Kgs de açúcar branco ronda os 3 mil e 300 Kz, enquanto 50 Kgs de farinha de trigo custam 3 mil e 500; a massa macarrão 700 e a spaguetti 950 Kz, podendo variar mediante a qualidade e origem do produto.
Na tentativa de sabermos em quantas andam as vendas e o volume de produtos distribuídos, fomos informados de que o director não se encontrava no local. Horas depois, a secretária transmitiu que o gestor não podia falar sem a autorização do Conselho de Administração que, desde já, conta com um novo presidente que aguarda pela tomada de posse.

A fonte aconselha a quem de direito a reverter a actual política de vendas, para se evitar um possível colapso e dar uma outra dinâmica ao projecto, ao adiantar que as vendas devem ser abertas ao público e a retalho, como acontece nos diversos armazéns privados espalhados pelo país.
"Temos de começar a vender em unidades e esquecer as vendas só para os grossistas, isto se quisermos revitalizar o Entreposto. Portanto, temos de praticar os preços dos armazéns dos libaneses, para, pelo menos, conseguirmos vender uma palete", sugeriu, ao sublinhar a fraca divulgação da marca ou da empresa como outro factor que limita o desconhecimento do Entreposto.

O consultor de empresas, Galvão Branco, comunga a ideia da nossa fonte, segundo a qual o Entreposto deve ser reajustado, por considerar que o mercado de concorrência não deve ser regulado como se pretendia, daí a decadência que este tem vindo a registar.
"Olhando para o poder de compra das famílias, efectivamente deve haver uma intervenção proteccionista sobre os produtos da sexta básica, mas é preciso que o mercado funcione normalmente, ou seja, o Entreposto pretendia tirar vantagens na importação de produtos de maior consumo, o que não foi o caso, porque maior parte destes é importada em bolsas", deplorou.

Galvão Branco disse ainda que o Estado deve manter maior controlo destes produtos, que foram desonerados com a entrada em vigor da nova Pauta Aduaneira, reforçando o papel dos órgãos de inspecção de forma sistemática. Com a liberalização dos mercados, ocorreram diversas mudanças no sector, tanto na importação quanto na comercialização. Esse contexto, prosseguiu, fez que os consumidores alterassem radicalmente a sua consciência sobre a aquisição dos alimentos.

A NOVA POLÍTICA COMERCIAL DE ANGOLA

Aprovada recentemente pelo Executivo, consagra os princípios orientadores e os grandes objectivos da actividade mercantil, bem como o papel dos órgãos do Estado na regulação, fiscalização e fomento do comércio interno e externo, assim como o enquadramento da iniciativa privada e os termos e modalidades de estabelecimento de parcerias público-privadas.

O Plano Nacional de Desenvolvido (PND), 2013-2017, orienta a elaboração de políticas sectoriais e define como eixos principais, entre outros, "o comércio mercantil, rural e empreendedorismo, a inspecção e a defesa do consumidor, a diplomacia económica e o comércio externo ", enfatiza o documento.
Entre os grandes objectivos da Política Comercial, destaca-se o combate à fome e à redução da pobreza, a reorganização do sector informal para o formal e a expansão da rede logística a nível nacional.

NOVO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

O Conselho de Ministros nomeou, recentemente, o novo Conselho de Administração do Entreposto Aduaneiro de Angola E.P que, entre outras atribuições, vai trabalhar na estabilidade dos preços e regularização do mercado e fazer que a rede retalhista no país seja um facto. Presidido por Joffre Van-Dúnem, é constituído pelos administradores António Francisco Neto, Florentino Peliganga, Bernardo Mucazo e Mariana da Luz Silva e Santos.
Inaugurado em Outubro de 2002, o Entreposto Aduaneiro e Comercial de Luanda havia registado cerca de 750 comerciantes grossistas, inclui 34 armazéns localizados ao quilómetro 28, boa parte dos quais andam às moscas, comportando uma área total de 21 mil metros quadrados.

OBJECTIVOS DO EAA

O plano de expansão prevê a inclusão de mais 51 armazéns, o que elevará a área total disponível para cerca de 60 mil metros quadrados. O Governo pretende proporcionar condições, para que os comerciantes grossistas adquiram os produtos para venda a retalho, respeitando uma margem de lucro fixa.
A redução no tempo de importação das mercadorias é outro dos objectivos definidos, esperando as autoridades que o actual ciclo de importação de uma mercadoria, que varia entre três e seis meses, possa ser substancialmente encurtado.

A exemplo do Entreposto, estão inúmeras empresas afectas ao Ministério do Comércio, com destaque para a Sociang, Frescagol, o Programa PRESILD, que inclui as lojas Nosso Super e a rede Poupa-Lá que precisam de ser reformulados para cumprirem com os objectivos preconizados. A Frescangol deverá funcionar também como entreposto para os produtos perecíveis e a Sociang, como distribuidoras das mercadorias para o interior do país.

Ambas necessitam com urgência de um saneamento económico e financeiro. Os produtos a serem armazenados no Entreposto são arroz, açúcar, leite condensado, chá, óleo alimentar, frango congelado, conservas de carne, peixe, materiais escolares, de escritório e de construção civil.

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