quinta-feira, 13 de março de 2014

O Mosquito e as Notícias de Isabel dos Santos


Por Maka Angola

O África Monitor reportou, na sua última edição, a 4 de Março, sobre os investimentos recentes em Portugal do empresário angolano António Mosquito, afirmando constituírem, na realidade, iniciativas de Isabel dos Santos.

Segundo a publicação, Isabel dos Santos optou “por não se apresentar como promotora” da aquisição de 66.7 porcento da construtura Soares da Costa e de 27.5 porcento da Controlinveste, a detentora de títulos da comunicação social que inclui o jornal Diário de Notícias e a rádio TSF.

António Mosquito assumiu também a posição de presidente da Soares da Costa, empresa na qual injectou 70 milhões de euros (US $96.1 milhões), através do Grupo António Mosquito (GAM). Quanto ao negócio da Controlinveste, não há informação pública sobre o valor do investimento angolano, que se cruza com o de Luís Montez, genro do Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva.

A notícia, da autoria do jornalista Xavier de Figueiredo, refere que as condições de utilização de António Mosquito pela filha do presidente como seu “testa–de-ferro” “ficaram contratualmente estipuladas num compromisso, nos termos do qual são diminutos os interesses próprios do mesmo nos negócios”.

Maka Angola tem estado a investigar há já alguns meses a operação e acrescenta, à fidedigna revelação do África Monitor, dois novos dados.

Primeiro, de acordo com documentação obtida por este portal, António Mosquito detém 40 porcento do GAM, do qual é presidente e director executivo, enquanto Isabel dos Santos assume 20 porcento da sociedade e a função de directora do referido grupo. Outros accionistas não identificados detêm um total de 40 porcento das acções.

Segundo, a oferta feita por Isabel dos Santos a António Mosquito pelos seus serviços de representação, em ambos os negócios da Soares da Costa e da Controlinveste, é de 10 porcento do valor investido por ela em cada uma das empresas.

Na sua análise, o África Monitor enfatiza a ocultação do nome de Isabel dos Santos nas referidas operações como forma de conter as “reacções negativas internas” à “sua qualidade de grande investidora em Portugal”.

O estratagema serve ainda, de acordo com a publicação, para “não prejudicar a reputação [de Isabel dos Santos], que tem de seleccionar oportunidades de investimento com base em critérios de pura racionalidade económica – ausentes no caso da Controlinveste”.

É sabido, em Angola, que António Mosquito não tem capacidade financeira para suportar os investimentos que fez em Portugal. Tem registado grandes insucessos na área dos petróleos e do negócio automóvel, como representante das marcas Audi e Volkswagen, a sua principal fonte de rendimentos.
Na realidade, António Mosquito tem o antecedente de se ter manifestado contra o avanço da família presidencial sobre os seus negócios.

Em 2005, Mosquito protestou contra a cedência arbitrária de 16 porcento das acções que a sua empresa, Mbakassi & Filhos, devia deter na Ancar – Automóveis de Angola, a Tchizé dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos.

A Ancar fundia interesses da Acapir, empresa pertencente a Tchizé dos Santos; da GEFI, a holding empresarial do MPLA; da Suninvest, a holding empresarial da Fundação Eduardo dos Santos; e da Mbakassi & Filhos, na instalação de uma fábrica de montagem de viaturas das marcas Volkswagen e Skoda, em Luanda.

Documentos em posse de Maka Angola revelaram que, na altura, o presidente da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), Ismael Diogo, dirigiu um encontro:

“Na qualidade de mandatário de Sua Excia. o Presidente da República Eng. José Eduardo dos Santos, para esclarecimento das circunstâncias e veracidade de que a participação na sociedade ‘Ancar – Automóveis de Angola’ da ACAPIR Lda. se  devia ao facto de uma sócia ser filha do Chefe de Estado para a obtenção de favores deste para aprovação do projecto de investimento da Ancar Worldwide Investments Holding (…).”

A acta do encontro concluiu que, “em momento nenhum a Ancar Worldwide Investments Holding justificou a oferta de 16 porcento a ACAPIR Lda. ao facto de dela ir beneficiar de favores de Sua Excia. o Presidente da República na aprovação do projecto”.

Em reacção, a presidência da Volkswagen, segundo informações veiculadas pela imprensa alemã em Julho de 2005, cancelou o projecto. Mais detalhes sobre essa operação constam do relatório “MPLA: Sociedade Anónima”.

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