Na senzala, as senzaleiras espevitam-se. Elas e os ratos naufragam na pequenez da ruela esfrangalhada. Uma senzaleira sem tempo para se coçar, encosta-se no restante tapume. Concerta a carapinha, ajeita o pano, enxota as moscas com a vassoura de mateba. Apela excitada:
- Que vergonha meu Deus! Ó caçulinha da mamã traz a escova e a pasta de dentes! Vou entrevistar-se na rádio!
À velocidade de super-mulher os dentes cariados são escovados. O dentífrico não cumpriu a sua missão, porque não se notou mudança no alvar dental. Era de fabrico ocioso. O repórter batia com o pé no chão, pressionado pelos estúdios que queriam e não sabiam se deviam despejar o saco da publicidade para o vácuo. A dama encima o hálito renovado no microfone.
- Prontos! Posso dentar!
- Minha senhora, bom dia!
- Sim, bom dia!
- Como se chama?
- Teresa Maka.
- Tanta comoção, porquê?
- Desde as quatro matinais que estamos com isto, desconseguimos mais nos dormir.
Estampa-se tiroteio. A ruela força-se, abala-se com a rusga pessoal e impessoal. Os desordenados saltam como coelhos na demanda das luras, perseguidos por caçadores do defeso. A senhora, à fula exclama maldizente:
- Ah, já chegou a política Petrofaminta!
Os perseguidores dos ideais da lei, homens nascidos, crescidos, educados, e com históricos tiroteios contínuos rebaptizados, calejados no dedo indicador, movem-se como gatos retesados, de salto sobre os ratos. O oficial, aprumado, nivela por baixo o zelo da leitura dinâmica da lei. Tem o hábito de perguntar. Sem perguntas, sem interrogatórios, não é possível cumprir a lei. Interroga a Teresa Maka que está com a esperança renascida.
- Esse estupefaciente está drogado?
- É… é memo!
- Está a tirotear assim, porquê?
- Quando engatilha, diz que se liquida.
- Inda não se matou? É pena!
Os polícias estão oásicos, agradáveis, bem acomodados em seguras trincheiras. Não intentam ofensiva. Teresa Maka exaspera-se:
- Estão a me estressar, avancem, lhe apanhem!!!
- Estás maluca ó quê? Não quero ser balado!
- Ah, afinal vocês têm medo da pistolada?
- Absolutamente!... Sim… não… não é isso… estamos à espera que o gajo se distraia, ou adormeça, depois enchemo-lo de buracos. Garantidamente que tem o tempo contado, não se lembrará do registo de nascimento. Lembrar-se-á do dia em que morreu.
Mentor, social e religiosamente aprecia factual:
- É a civilização da bala no cumprimento do seu destino. O mais fácil que existe, e não são necessários cursos, escolas, universidades… é carregar no gatilho. A nossa civilização, e as nossas vidas dependem apenas de um dedo encostado no gatilho de uma arma. São as armas que decidem o nosso futuro. Qualquer de nós arrisca-se a cada momento no mau caminho. Sem humanismo, a vida não tem sentido. Os nossos sonhos dourados, desejados, desaparecem nos anseios de um qualquer com qualquer arma.
Gil Gonçalves
- Que vergonha meu Deus! Ó caçulinha da mamã traz a escova e a pasta de dentes! Vou entrevistar-se na rádio!
À velocidade de super-mulher os dentes cariados são escovados. O dentífrico não cumpriu a sua missão, porque não se notou mudança no alvar dental. Era de fabrico ocioso. O repórter batia com o pé no chão, pressionado pelos estúdios que queriam e não sabiam se deviam despejar o saco da publicidade para o vácuo. A dama encima o hálito renovado no microfone.
- Prontos! Posso dentar!
- Minha senhora, bom dia!
- Sim, bom dia!
- Como se chama?
- Teresa Maka.
- Tanta comoção, porquê?
- Desde as quatro matinais que estamos com isto, desconseguimos mais nos dormir.
Estampa-se tiroteio. A ruela força-se, abala-se com a rusga pessoal e impessoal. Os desordenados saltam como coelhos na demanda das luras, perseguidos por caçadores do defeso. A senhora, à fula exclama maldizente:
- Ah, já chegou a política Petrofaminta!
Os perseguidores dos ideais da lei, homens nascidos, crescidos, educados, e com históricos tiroteios contínuos rebaptizados, calejados no dedo indicador, movem-se como gatos retesados, de salto sobre os ratos. O oficial, aprumado, nivela por baixo o zelo da leitura dinâmica da lei. Tem o hábito de perguntar. Sem perguntas, sem interrogatórios, não é possível cumprir a lei. Interroga a Teresa Maka que está com a esperança renascida.
- Esse estupefaciente está drogado?
- É… é memo!
- Está a tirotear assim, porquê?
- Quando engatilha, diz que se liquida.
- Inda não se matou? É pena!
Os polícias estão oásicos, agradáveis, bem acomodados em seguras trincheiras. Não intentam ofensiva. Teresa Maka exaspera-se:
- Estão a me estressar, avancem, lhe apanhem!!!
- Estás maluca ó quê? Não quero ser balado!
- Ah, afinal vocês têm medo da pistolada?
- Absolutamente!... Sim… não… não é isso… estamos à espera que o gajo se distraia, ou adormeça, depois enchemo-lo de buracos. Garantidamente que tem o tempo contado, não se lembrará do registo de nascimento. Lembrar-se-á do dia em que morreu.
Mentor, social e religiosamente aprecia factual:
- É a civilização da bala no cumprimento do seu destino. O mais fácil que existe, e não são necessários cursos, escolas, universidades… é carregar no gatilho. A nossa civilização, e as nossas vidas dependem apenas de um dedo encostado no gatilho de uma arma. São as armas que decidem o nosso futuro. Qualquer de nós arrisca-se a cada momento no mau caminho. Sem humanismo, a vida não tem sentido. Os nossos sonhos dourados, desejados, desaparecem nos anseios de um qualquer com qualquer arma.
Gil Gonçalves
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