Os cemitérios e as sepulturas ocupam um lugar central na vida comunitária. Os antepassados estão neles presentes, deles brota a causalidade mística que fortifica ou debilita; através deles se robustece a solidariedade vertical. São também lugares que inspiram temor, onde o receio e o mistério permanecem.
O luto pelos mortos começa depois do enterro. As mulheres costumem pintar a cara com riscas pretas, cortam o cabelo ou soltam o penteado e até rapam todo o cabelo.
O luto obriga sobretudo os cônjuges dos falecidos, que têm de despojar-se de vestidos luxuosos e cobrir-se de panos humildes. É normal que as mulheres tragam o tronco descoberto, porque se trouxessem um vestido normal, o defunto poderia reconhecê-las e atormentá-las. Para não sonhar com ele, nalguns lados, trazem dia e noite uma faca na mão.
Não podem acompanhar o cadáver à sepultura e ficam sujeitos a inúmeros tabus. Por exemplo, não podem tocar no fogo, fumar, cortar lenha, peneirar a farinha, acarretar água, ir para as lavras, comer com outros. Aquilo em que tocar tornar-se impuro e com o perigo do tabu.
A sua alimentação fica limitada e também os seus movimentos. Costumam ficar retirados onde recebem as visitas dos familiares e a comida.
Não podem cozinhar e as proibições sexuais são taxativas. Procuram evitar assim a contaminação impura do defunto, pois conservam, mais que qualquer outro, o «cheiro do morto».
Em certos grupos, a viúva, antes de se unir a um novo marido, o que pode demorar de um a três anos, deve limpar a sua impureza relacionando-se sexualmente com um parente próximo do marido falecido. Noutros grupos, tem de seduzir um desconhecido, que ignore o tabu, e carrega com a impureza da mulher. Se descobrir a cilada, o adivinho submetê-lo-á a ritos purificatórios.
Devem falar pouco, aparentar tristeza e chorar de vez em quando, até que o luto rigoroso termina com ritos purificatórios que começam com um banho lustral no rio. Entregam-lhes vestidos novos e os instrumentos para o trabalho. Costuma intervir o adivinho aspergindo-os.
Estes ritos conseguem «curar» os efeitos do contágio e fortificam a sua vitalidade talvez debilitada pelo contágio com o defunto. Simbolizam isso com uma fogueira acesa depois do banho, que «aquece» (revigora).
Quando regressam do rio, os parentes oferecem-lhes uma refeição que simboliza a certeza de que não intervieram na morte e, com o significado de um ágape, reintegram-nos na comunidade. A solidariedade entre os dois grupos, que selaram a aliança matrimonial, fica robustecida.
Os banhos lustrais pretendem também assegurar à viúva um futuro casamento feliz.
Entre os Humbis, a água lustral leva cinco ingredientes: uma unha de galinha, casca e pedaços de certos arbustos que darão ventura ao novo casamento, pés duma erva cuja interpretação seria: «O marido disse: fui-me embora; tu podes contrair novo matrimónio.» Por fim, outra casca de árvore que significa: «Esta pobre mulher teve pouca sorte; é preciso agora afugentar o mal que a atormentou.»
A adivinha, que ritualiza a purificação, entrega-lhe pequenos enfeites e uma enxada. Marca com giz branco a viúva desnudada no peito, frente, ventre e braços. Derrama-lhe água lustral e lava-lhe com ela o corpo, até a língua. Por fim, bebe uns goles enquanto a adivinha vai pronunciando palavras mágicas que vivificam o rito. Depois simula um acto sexual.
Por fim, a adivinha recolhe toda a imundície do corpo, depois de lho esfregar com pós vegetais, amassa com isso uma bola que enterra longe das casas. O luto e os tabus ficaram sepultados. A viúva pode recomeçar a vida.
Um dos mais típicos é o herói Lyangombe, venerado em muitos grupos da África Central, embora seja de criação ruandesa. Filho e herdeiro do rei Babinga e caçador apaixonado, saiu um dia à caça contra a opinião de sua mãe que tinha presságios funestos. De facto, morreu à luta com um búfalo. Antes, tinha encarregado o seu criado de comunicar a sua mãe que ia para os vulcões para reinar sobre os mortos como tinha reinado sobre os vivos. Transformou-se num herói a quem rendem intenso culto.
Os membros da seita «Ababandwa» intentam, por uma íntima comunhão com o herói entrar, «numa família divina, numa esfera superior ad aexistência… Pode-se assegurar que é um semideus, subordinado ao grande deus Imana».está no vértice da família real ruandesa.
In Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas
Gil Gonçalves
Imagem: http://www.macua.org/livros/olhar1np.html
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