quarta-feira, 25 de junho de 2008

Discursos Políticos (VIII). Agostinho Neto


Nós não temos ainda a garantia suficiente de alimentação para todos os trabalhadores, não temos ainda garantia suficiente de habitação para todos os trabalhadores.
Temos, por exemplo, um problema que – creio que todos o discutem hoje – que é a relação entre o salário e o custo de vida. O custo de vida está elevado. Os salários, por vezes, não cobrem o orçamento familiar e nestas circunstâncias há flutuações no trabalho. Nem sempre os trabalhadores se conservam no seu posto, porque procuram melhores condições, porque procuram viver cada vez melhor e é justo que assim seja.
Porque é que os preços são altos? Todos nós sabemos porquê. Há falta de géneros no mercado, há uma produção insuficiente e aqueles que detêm alguma coisa procuram ganhar o máximo. Isso obedece perfeitamente às leis da economia. Quando há falta os preços sobem.
Mas não é só isso. Há também a desonestidade de alguns, que não põem à venda tudo aquilo que têm para oferecer ao público, não oferecem ao comprador tudo aquilo que está no seu armazém. Fazem o seu açambarcamento para vender em locais especiais e a pessoas especiais. Este facto faz com que rareiem ainda mais os produtos no mercado.
Que cada província faça o possível para poder garantir a alimentação e o bem-estar dos cidadãos da sua província.
Estamos neste momento com problemas sérios quanto à educação das crianças, dos jovens e dos adultos e a questão é simples. É que não temos professores em número suficiente.
Temos que evitar que os jovens, em vez de trabalhar, irem – como direi – para as farras, em vez de estudar irem para as farras.
Mas não é só o desporto. É preciso pensar na construção ideológica do nosso Povo, na construção material, na construção económica e social do nosso Povo, porque sem isso nós estaremos a edificar qualquer coisa de falso, sem alicerces.
Eu tenho a certeza absoluta de que o nosso Povo, dentro de alguns anos, poderá gozar de condições melhores, muito melhores do que aquelas que nós temos hoje, apesar dos progressos já feitos.
Agostinho Neto. 1 De Maio de 1979. Discurso do acto central do 1º de Maio.

Medidas em que sentido? No sentido de nós podermos honestamente realizar a nossa Revolução. Honestamente! Não temos que enganar ninguém.
Camaradas, o que é que nós estamos aqui a fazer para a produção? O que estamos aqui a fazer para que o Povo tenha a comida, tenha medicamentos, tenha casas, tenha escolas, tenha assistência médica? O que é que nós estamos a fazer?
O nosso Governo e o nosso Partido precisam de dar mais atenção aos problemas do Kuando Kubango. Vamos trabalhar mais aqui. Alguns ministros do nosso Governo vão ter de aqui ficar para resolver os problemas das populações. Ficarão um, dois, três meses.
Nós não resolvemos os problemas das populações. Não há roupa, não há escolas, não há hospitais. Nós vamos até ao Rivungo e não há nada. Há mosca do sono.
Porque não é possível camaradas, trabalhar com uma segurança que oferece dúvidas acerca da protecção, aos nossos compatriotas e tem hesitações quanto à nossa política de clemência.
Quantas pessoas, hoje, se queixam da DISA? Justa ou injustamente… Mas queixam-se. Não há nenhuma semana que eu passe sem receber cartas de famílias a dizer que «o meu filho desapareceu». Depois, camaradas, eu não sei o que vou responder. O que é que eu hei-de dizer? Eu é que sou o responsável. Quando desaparece um filho, um pai, um avô, uma mulher, um cunhado, etc., eu é que sou o responsável. E o que é que eu vou dizer? Alguns que estão nas cadeias estão muito bem lá; é melhor estarem lá do que cá fora. Mas nem todos… Precisamos de resolver esta situação. Temos de ver bem como é que a nossa segurança vai trabalhar no futuro.
Pretendemos resolver a partir de Luanda muitos problemas mas não é de Luanda que nós podemos resolver os problemas do Kuando Kubango.
Agostinho Neto. 26 De Julho de 1979. Discurso na cidade do Menongue.
Gil Gonçalves

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