sábado, 14 de junho de 2008

Discursos Políticos (VI). Agostinho Neto


É que de facto, fez-se tanto barulho com os tiros em Angola que até alguns foram parar aos Estados Unidos da América. Camaradas, eles vão regressar. Eles vão ter outra vez a sua casa, a sua oportunidade de trabalho dentro do nosso país.
O Partido funciona para o Povo e não somente para os seus militantes.
Os trabalhadores do nosso País, os operários e os camponeses, devem ter o sentimento real de que os meios de produção, quer dizer as máquinas, os tractores, os meios de transporte, as enxadas, as ferramentas que são uma propriedade e são sua propriedade para benefício de todo o Povo.
Nós não controlamos a chuva, se não houver chuva vamos morrer de fome? Não?
Embora nós tenhamos muitos rios, o nosso Povo ainda sofre de falta de água.
A formação de quadros é uma preocupação essencial e por isso o nosso Governo tem estado a dar muita atenção à formação dos jovens.
Numa parte das nossas cidades há casas de construção definitiva, muito lindas, belos palácios, e do outro lado há as casas de adobe, casas de madeira, tacanhas, pequeninas, onde só muito dificilmente se pode viver.
E não é fácil convencer toda a gente de que determinados privilégios que alguns angolanos ainda vivem hoje devem ser abandonados em favor das classes trabalhadoras.
Eu ainda estive aqui mesmo, em Cabinda, creio que com a Comissão Política, a verificar um facto. É que, por exemplo, um operário qualificado aqui no nosso País ainda ganha menos do que uma dactilógrafa.
Precisamos de fazer uma nova Revolução! E a tomada de posição sobre esses problemas vai provocar evidentemente, convulsões grandes dentro do país. Vai provocar uma reacção de determinadas camadas sociais, que nós devemos combater com decisão, para que a exploração não continue, para que, de facto, nós tenhamos à disposição daqueles que produzem os meios suficientes para a sua vida e não nas mãos de alguns dos nossos compatriotas que ainda pensam que na ociosidade podem também ter uma vida tranquila. Os ociosos não devem viver tranquilos no nosso país.
Agostinho Neto. 15 De Setembro de 1978. Discurso em Cabinda.

A Unta exprimiu excelentemente a ideia da necessidade de seguir a orientação do Partido, sem que a mesma se considere um organismo partidário. Essa é a posição correcta.
A fuga do campo para a cidade tem de ser evitada.
Vou referir-me a uma dessas decisões. Trata-se da transferência da cidade para o campo de todos os desempregados que congestionam os nossos centros urbanos. Quer dizer que uma das decisões tomadas pelo Bureau Político, recentemente, é a transferência imediata de todos os desempregados que residam nas cidades para o campo, para se dedicarem à agricultura.
A libertação significará o fim da esperança capitalista da exploração e da dominação.
Agostinho Neto. 2 De Outubro de 1978. Discurso no encerramento da 3ª conferência nacional da Unta.

Nós fizemos estruturas demasiado pesadas que fazem com que o aparelho governativo, por falta de quadros, não possa marchar convenientemente. Mas, nós temos ainda, a tendência de formar diversos departamentos, muitos departamentos, que depois não podemos preencher que existem simbolicamente, por vezes, apenas com um funcionário e que está ali sem poder realizar qualquer trabalho.
Falando, propriamente, dos problemas da juventude, nós todos estamos conscientes de que ela é o futuro. Nós temos de cuidar da nossa juventude. Temos de orientar bem a nossa juventude, educá-la bem.
Os fracçcionistas estiveram a desmobilizar a nossa juventude, tornando-a anárquica, desobediente e desorganizada. Ela deixou de ter respeito pelos organismos do Partido.
Dificilmente, nós encontramos alunos que sigam o ramo de agricultura, ou que sigam a pecuária.
«Temos que guiar-nos, também, pela história. Temos que guiar-nos por aquilo que é realmente nosso, angolano porque o povo é angolano. E se nós não respeitamos as tradições, os costumes, a história do nosso Povo, nós não podemos organizar nada». Absolutamente nada.
Aqui foi feita, neste mesmo local, uma conferência, com o camarada Lúcio Lara, em que os estudantes não sabiam cantar o Hino Nacional.
O problema do trabalho. Nós, às vezes, temos dificuldades em engajar todos os jovens no trabalho. Não porque não haja trabalho. Aqui há trabalho suficiente para todos os angolanos.
Teremos de resolver problemas como o da habitação. Os jovens a uma determinada idade, querem casar. O problema do casamento, por vezes, é complicado porque não há casa, não há habitação. Como resolver, agora, o problema da construção de um lar?
As nossas raparigas, uma boa parte nas cidades, o que faz a partir de uma certa idade? Começa a pintar os olhos e a colocar-se à janela a ver se alguém olha para ela. É uma esperança de resolver uma situação.
Ora, isto não pode ser. Isto é porque não há respeito pelas jovens. Não há respeito pelo sexo feminino. Consideramos, sempre, que são inferiores.
Agostinho Neto. 17 De Outubro de 1978. Discurso na abertura da 1ª conferência nacional da Jmpla-Pt.

O que é que nós queremos no Zimbabué? Aqui eu creio que o mundo está um pouco confuso, não sabe bem o que é que nós estamos a defender no Zimbabué.
Os objectivos do Zimbabué parecem não estarem bem definidos para o povo Zimbabueano através dos seus líderes.
Agostinho Neto. 18 De Outubro de 1978. Entrevista à TV Búlgara.

Os órgãos do Governo não cessam de perguntar aos dirigentes, como é que nós podemos satisfazer as necessidades mais prementes do povo, neste momento.
Dentro de dez, vinte, trinta anos a situação será completamente diferente.
Segundo a bíblia, deus tirou um pouco de barro do chão, fez uma figura de homem e, depois, assoprou… e, aquela figura, começou a respirar. Bom, a nós, parece-me, falta assoprar. Falta-nos o sopro.
Havia o Chefe do Governo, depois um colaborador do Chefe do Governo e, depois, três colaboradores do colaborador do Chefe do Governo e uma quantidade enorme de directores nacionais, que faziam com que um papel que devia chegar, no mesmo dia, a uma repartição, chegasse só dentro de três ou quatro semanas, depois.
O Comité Central decidiu eliminar, na estrutura governamental, o posto de primeiro-ministro e os postos de vice-primeiros-ministros, para que o Chefe de Estado possa contactar, directamente, com os ministros, em qualquer altura, sem necessidade de intermediários.
Esta medida, como não podia deixar de ser, produz várias reacções, uns ficam alegres, outros ficam tristes. Mas a alegria e a tristeza são factos que nós vivemos todos os dias. E o que é mais importante é que é preciso, de facto, resolver os problemas do povo. Isso é que é o mais importante.
Nós olhamos para a direcção de toda esta máquina governativa e… pensamos que há funcionários a mais nos Ministérios. Vamos diminuir o número de funcionários nos Ministérios para irem para as províncias.
Sobre a defesa da legalidade. Quer dizer que nós fazemos leis, nós fazemos decretos, fazemos despachos e nem sempre a sua execução é controlada, do ponto de vista jurídico. Há muitos atropelos à lei.
Devemos organizar, junto do Presidente da República, uma Procuradoria-Geral da República, um Procurador da República que possa indicar onde é que os direitos dos cidadãos são violados, por este ou por aquele organismo, para que o Presidente da República possa actuar quer reprimindo, quer exercendo qualquer espécie de acção em relação a esses mesmos organismos.
Agostinho Neto. 10 De Dezembro de 1978. Discurso no acto central do 10 de Dezembro.
Gil Gonçalves

Sem comentários: