A minha longa jornada sucedia cuidada. Moscas, lixo, poças de águas sujas, buracos e assaltantes Petrofamintos à espreita. A Rádio Oráculo actualiza o numeral colérico: Quarenta mil infectados, e mil e quinhentos mortos.
Apercebi-me, afastei-me, segurei-me. Vi alguém assomar-se num terceiro andar, e zás! O conteúdo dum alguidar é atirado. Que assomo! É água com restos de peixe. Remiro para cima, vejo o deserto. As atiradoras são mais rápidas que o vento. Fazem lançamentos como no jogo das escondidas. São finas como ratos na madrugada. Desalentam-se saber bem ou certo, é mais fácil assim. Nas varandas preparam a comida, desajeitam-se em deitar a água suja na pia. Escolhem o caminho preguiçoso. O entupimento séptico está na Média. Tudo porta a fora.
Revejo as lâmpadas acesas dia e noite. A energia parece gratuita, ninguém assume pagar, ou os Petrofamintos têm cegueira diurna. Estudam o manual de como desperdiçar energia facilmente, que é distribuído gratuitamente. Há intenção de não querer saber, ninguém requerer atenção ao outro. O chamamento de antemão é entonado, destoado: «não chateia pá!» na insistência segredam: «deixa-o falar, vai-se cansar!».
- Maremoto conduto!!!
- Não! É de moto-próprio!
Assustei-me e desassustei-me. Mais uma conduta de água quebrou-se. A água liberta da prisão jaz caudalosa, persegue os interstícios do solo desestabilizado. Concebe uma via rápida com cratera. O rio chegado arreda coisas e pessoas. A visita líquida é desejada pelas crianças, que se fantasiam de rãs e sapos. Atiçam-se:
- Vamos brincar no rio das condutas!
Um mais crescido, taciturno, explica solenemente à criançada:
- Chama-se rio das condutas, porque tem nascentes em todo o lado. Mas, ninguém sabe explicar onde nasce.
Um poeta de última geração é rimado pelo ritmo caudal. Refaz-se, impoluto rebrilha o cabedal dos sapatos nos intervalos da calçada. Processa cantante:
Nesta planície de petróleo jorrante, jactante
De sol e solo exuberantes. Descontraídos novos-ricos cativantes
De desconstruídos, expectantes currais eleitorais errantes
Requisitados, mal abençoados pela natureza Humana
De festeiros participativos 24 sobre 24 horas
Que fortaleza tem esta tristeza! Viver na extrema pobreza!
Gil Gonçalves
Apercebi-me, afastei-me, segurei-me. Vi alguém assomar-se num terceiro andar, e zás! O conteúdo dum alguidar é atirado. Que assomo! É água com restos de peixe. Remiro para cima, vejo o deserto. As atiradoras são mais rápidas que o vento. Fazem lançamentos como no jogo das escondidas. São finas como ratos na madrugada. Desalentam-se saber bem ou certo, é mais fácil assim. Nas varandas preparam a comida, desajeitam-se em deitar a água suja na pia. Escolhem o caminho preguiçoso. O entupimento séptico está na Média. Tudo porta a fora.
Revejo as lâmpadas acesas dia e noite. A energia parece gratuita, ninguém assume pagar, ou os Petrofamintos têm cegueira diurna. Estudam o manual de como desperdiçar energia facilmente, que é distribuído gratuitamente. Há intenção de não querer saber, ninguém requerer atenção ao outro. O chamamento de antemão é entonado, destoado: «não chateia pá!» na insistência segredam: «deixa-o falar, vai-se cansar!».
- Maremoto conduto!!!
- Não! É de moto-próprio!
Assustei-me e desassustei-me. Mais uma conduta de água quebrou-se. A água liberta da prisão jaz caudalosa, persegue os interstícios do solo desestabilizado. Concebe uma via rápida com cratera. O rio chegado arreda coisas e pessoas. A visita líquida é desejada pelas crianças, que se fantasiam de rãs e sapos. Atiçam-se:
- Vamos brincar no rio das condutas!
Um mais crescido, taciturno, explica solenemente à criançada:
- Chama-se rio das condutas, porque tem nascentes em todo o lado. Mas, ninguém sabe explicar onde nasce.
Um poeta de última geração é rimado pelo ritmo caudal. Refaz-se, impoluto rebrilha o cabedal dos sapatos nos intervalos da calçada. Processa cantante:
Nesta planície de petróleo jorrante, jactante
De sol e solo exuberantes. Descontraídos novos-ricos cativantes
De desconstruídos, expectantes currais eleitorais errantes
Requisitados, mal abençoados pela natureza Humana
De festeiros participativos 24 sobre 24 horas
Que fortaleza tem esta tristeza! Viver na extrema pobreza!
Gil Gonçalves
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