terça-feira, 3 de junho de 2008

Cultura Tradicional Bantu (II)


Nos Camarões, damos alguns exemplos, e na Nigéria recordam certas mulheres que dirigiram migrações, fundaram e conquistaram reinos. Ainda permanecem na galeria dos heróis nacionais.
No antigo Ruanda, a mãe do Mwami, a «Umu-Gabe-Kasi», era corresponsável no governo. São famosas as rainhas Jinga de Angola, Anima dos Haussas, Aura Pokú de Bule, Lovedu na África do Sul, a rainha viúva de Baganda e as celebradas amazonas do Benim, temíveis guerreiras que se lançaram em guerras de conquista e resistência, apesar de os monarcas do país costumarem exercer tiranias extremas.
A «Mafo» dos Bamiliké era considerada mulher-chefe. Entre os Bemba, a «Caudamukulo», parente uterina mais velha do rei, gozava de grande poder político; fazia parte do conselho dos anciãos e regia numerosas aldeias.
No reino Ngoyo, Cabinda, as princesas gozavam de estatuto especial. Eram livres na escolha do marido, que não podia recusar, pois passava à condição de semiescravo; saía sempre guardado à rua.
Em Angola, como em outros países bantus, encontram-se mulheres-chefes. Assim as Sobasmmaholo e as Muangana luenas; também aparecem com frequência entre lundas e ksokwes. Os cuanhamas recordam as rainhas Nekoto e Hanyanha.

Segundo os Bacongos, o homem é composto de corpo (nitu), sangue (menga) que é a sede da alma espiritual (moyo), o princípio específico do homem.
O «moyo» sobrevive à morte e passa a viver com os antepassados. A alma dupla (nfumu nkutu), alguma coisa semelhante à alma sensitiva, completa a personalidade humana, pois é o princípio da percepção sensível. Reside no órgão auditivo e anima ouvidos e vista. Pode andar errante durante as síncopes e o sono. Origina a sombra que segue o homem. Desaparece à hora da morte.
O nome, quarto elemento, deve mudar sempre que se dá uma mudança substancial na pessoa.

O «muxima», coração em quimbundo angolano, encerra toda a riqueza do universo pessoal do homem. «Não é só a origem e o conjunto das emoções e dos afectos sensíveis, nem só o motor da vontade, nem só a fonte do pensamento, nem só a própria pessoa na sua originalidade individual: é tudo isso de uma só vez».
O «muxima» distingue-se do coração físico do homem. O delicado humanismo banto: hospitalidade, calor humano, solidariedade, agradecimento e cortesia revela o refinamento do «muxima». Por isso, a grande aspiração é possuir um «muxima» poderoso, viril, já que dirige, em definitivo, define e valoriza o homem. Analisar o coração equivale a analisar a totalidade do homem.

Certos grupos bacongos asseguram que alguns génios, cujo habitat é a água, podem introduzir-se no corpo do banhista. Pela cópula encarnam e originam filhos anormais, como os albinos e gémeos. Outras vezes, atribuem o nascimento anormal à infidelidade materna, pois que um só pai não pode gerar dois filhos.
Os gémeos são considerados, em muitos grupos, anormais e perigosos para a sociedade. Daí as cerimónias propiciatórias exigidas pela comunidade ameaçada. A mãe dos gémeos fica sujeita a tabus especiais.

Há que advertir que nem todos os grupos bantos realizam estes ritos de iniciação. Mesmo em Angola, há grupos que desconhecem e outros que a praticam parcialmente. Por isso, as nossas afirmações referem-se só aos grupos que exigem os ritos de iniciação.

Os companheiros de iniciação ficam unidos para sempre por laços indestrutíveis. Ajudam-se e defendem-se uns aos outros. Nasce um sólido sentimento de fraternidade, chamam-se «irmãos». Estes laços podem prevalecer sobre os familiares e clânicos, porque os preceitos da iniciação são sagrados. Juro pela «muhanda» (nome quimbundo destes ritos de passagem), é uma expressão sagrada.
O grande rito termina por juramentos solenes: «Nem à mulher com quem dormires poderás contar o que fizestes na muhanda; esconde, nega, desfigura, senão morrerás».

In Cultura Tradicional Bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas
Gil Gonçalves
Imagem: http://www.macua.org/livros/olhar1np.html

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