quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cultura Tradicional Bantu (IX)


Nalguns grupos, separam os que morreram de morte violenta, guerra, acidentes, homicídio, suicídio. Formam um grupo de antepassados muito poderoso. Deambulam pelas florestas e pelas margens dos rios. Os Bacongos chamam-lhes «bankita». Podem aparecer na forma de espectros brancos, embora também tomem a forma de morcegos e pássaros – moscas. Temem-nos e a sua missão é de mau agoiro.

Em alguns grupos, crêem que se podem transformar em génios com localização transitória nas águas ou nos bosques.
Certas tradições afirmam que, que, depois de um certo tampo, há uma selecção na aldeia dos mortos. É a segunda morte. Aqueles a quem os parentes deixaram de oferecer sacrifícios, cuja recordação se esfumou na memória dos homens e cujas obras não testemunham um passado glorioso, morrerão pela segunda vez e partirão para uma aldeia situada no mais profundo da terra…

Alguns grupos não-bantus do Senegal, os Sereres e os Diolas, crêem no renascimento dos mortos. «Depois duma permanência mais ou menos prolongada no além-túmulo, ou imediatamente depois da morte, ou inclusivamente antes de morrer… a alma reencarna numa criança ou num feto».
Os Dogons e Bambaras admitem a reencarnação admitem a reencarnação nas crianças, que recém o seu nome e divisa, e aos Saras do Chade não lhes repugna o avô reencarne no neto.
Na Rodésia, os mortos podem escolher reencarnar numa rapariga ou num rapaz. Assim, morrer é um meio de mudar de sexo para as almas desejosas de novas sensações».

J.S. Mbiti assegura que os Sondjos da Tanzânia são o único grupo negro-africano com uma noção sobre o fim histórico do mundo. Um mito escatológico afirma que, ao chegar esse momento, o Sol cobrir-se-á de trevas por efeito duma nuvem de pó, dum enxame de abelhas e dum bando de pássaros.
O fim chegará no mesmo instante em que dois sóis, surgidos do este e do oeste, se encontrarem no zénite. Então Khambagen, o herói do povo Sondjo, descerá à terra para salvar o seu povo. O resto da humanidade será aniquilada.
Ignora-se como este se tenha formado. Este autor assegura que «no estado actual das pesquisas não pode ser atribuído à influência cristã dos tempos modernos».

Os Bandas pensam que a pele dos antepassados é branca; daí a ideia, em certos países, de que os europeus eram antepassados. Segundo os Manjas, têm o corpo coberto de longos pêlos brancos, a cabeça como um punho, sem dentes, os olhos sobre o peito, a voz fanhosa; alguns só têm um pé e outros não têm cabeça».
Entre os bantus do Sudeste e Nordeste está muito espalhada a crença de que se transformam em serpentes; por isso, alimentam-se, nunca as matam e quem come a sua carne quebra um tabu. Os Kikuyus «têm verdadeiras associações de adoradores de serpentes relacionadas com a estação das chuvas e com o arco-íris. Os Massais crêem que só os ricos e os curandeiros sobrevivem sob a forma de serpentes que vêem visitar as crianças a casa e as alimentam com leite. Cada família conhece as suas próprias serpentes de cores diferentes».

Os Bacongos situam-nos em aldeias subterrâneas, maza». A cada aldeia de vivos corresponde outra de antepassados equiparada à que aqui deixaram. Falam dum «lugar, dum mundo inferior». Os ruandeses dividem o mundo em três andares: «O andar do meio é constituído pela terra que habitamos. Debaixo da terra, está o mundo abissal, habitat dos “bazimu”… Por cima da terra está situado o andar superior o andar superior ou Céu… habitat de Deus».
Outros grupos pensam que vivem em regiões inóspitas, nas selvas, em grutas ou num «lugar subterrâneo, sombrio e taciturno, sempre triste, onde não é agradável viver», embora de modo nenhum seja uma prisão, um lugar de castigo ou um cárcere, visto que podem visitar e até habitar bosques, estatuetas, cavernas, árvores, rochas, lagoas, colinas e pessoas.

Podem-se encontrar explicações naturais para tudo, mas é necessário encontrar também explicações de ordem sobrenatural. As pessoas precisam de bodes expiatórios para explicar os seus sofrimentos…
As frustrações, as desordens psíquicas, as tensões emocionais e outras manifestações da personalidade profunda são imediatamente exteriorizados e projectados num ser humano ou em circunstâncias que deitam as culpas sobre um agente exterior.

Na realidade, respondem à instituição e normas sociais e às aspirações do bantu, mas a causalidade mística deturpa e empobrece, tornando os «africanos brutais, demolidores e hostis».
Os bantus, como todos os humanos, são capazes do bem e do mal. Mas é pena que a causalidade mística e o poder omnímodo da magia impossibilitem de concretizar as aspirações de harmonia-paz que a cultura bantu persegue como o valor mais precioso.

In Cultura Tradicional bantu. Pe. Raul Ruiz de Asúa Altuna. Edições Paulinas
Gil Gonçalves
Imagem: http://www.macua.org/livros/olhar1np.html

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